Crítica: Godzilla (2014, de Gareth Edwards)




“Godzilla não é o filme perfeito que poderia ser, mas é um excelente blockbuster se você estiver ciente da homenagem que a produção faz.”

O monstro clássico voltou! Fui conferir (com algumas semanas de atraso) o novo longa do mitológico ‘Godzilla’. E não tem como não falar muito do filme, pois há bastante envolvido. O texto ficou grande, mas peço que leiam todo para entender minha opinião final. Primeiramente vamos falar da sua história de origem. Em 1954 o Japão ainda vivia com medo das ameaças nucleares, fruto dos ataques a Hiroshima e Nagasaki. Então a Toho Studios resolve lançar um filme de monstro gigante (kaiju eiga na cultura pop oriental) cuja criatura pré-histórica sofre o efeito da radiação, ganha poderes e vira uma força da natureza. O resultado positivo rendeu a esta ideia um total de 32 filmes. Há uma confusão de quantos são ao certo, onde sites apontam 28 filmes, outros 30. O mais certeiro foi uma página francesa, que explica que tiveram 30 filmes feitos pelas mãos da Toho produzidos pelo Japão e em alguns casos com ajuda dos Estados Unidos. Há até um filme de 1962 intitulado ‘Godzilla vs King Kong’, que fez muito sucesso no oriente.

Além destes 30 monstruosos clássicos (alguns por algum motivo desconhecidos por grande parte do mundo), tivemos o Godzilla de 1998, do diretor Roland Emmerich (mesmo diretor dos sucessos Independence Day, Stargate, O Patriota, O Dia Depois de Amanhã, 10.000 Antes de Cristo, 2012 e O Ataque). Acontece que esta versão de 98 foi amplamente detonada por não se tratar e nem respeitar o Godzilla original, inferiorizando o monstro a uma simples iguana mudada pela radiação. Sinceramente o filme é bem bacana se visto como uma aventura estilo Jurassic Park e os efeitos especiais são ótimos para a época, além de trazer uma visão bem grandiosa da criatura. Várias cenas mostram como os humanos são pequenos em relação ao bicho. O diretor entregou na época uma aventura típica, que teve seu momento de fama. Mas uma coisa é verdade: aquela versão não havia honrado o verdadeiro herói que é o Godzilla.





Eis que agora em 2014 o diretor Gareth Edwards lança sua visão mais íntima da clássica criatura. Vale salientar que Gareth tinha no currículo apenas o ótimo Monsters, filme independente ainda desconhecido no Brasil. Devido à mão dramática e firme de Gareth, fica nítida que a decisão da Warner em escolher este diretor foi correta. Com a chegada de trailers misteriosos, intensos e sufocantes, este foi se tornando um dos filmes mais esperados de 2014. E o diretor conseguiu! – A PARTIR DAQUI A CRÍTICA CONTÉM SPOILERS, PORTANTO SE VOCÊ NÃO VIU O FILME PARE DE LER – Algumas das reclamações de quem assistiu foi o fato do Godzilla aparecer pouco e este de fato é um dos problemas do longa. Em alguns momentos pensa-se estar vendo outro filme menos o dele, devido ao coitado ficar preso à coadjuvante. Porém, é importante salientar que isto ocorre ao menos de maneira aceitável, uma vez que o diretor opta por mostrar pouco e devagar entre uma nuvem de poeira e outra de fumaça, a grandiosidade do animal enche a tela.




Interessante que a direção é ótima, utilizando de vários cortes em cenas chave onde haverá luta, deixando-nos com expectativa de ver o que está acontecendo. Isto poderá frustrar a quem espera combates o tempo todo. Mas tanto o diretor como o roteiro razoavelmente bom e acima da média para este tipo de filme acerta em mesclar o drama familiar com a épica batalha das criaturas. Aqui, como nos originais da Toho; Godzilla é robusto, solta laser, luta contra outras criaturas muito destrutivas (os M.U.T.O.) e é mais do que um simples ser criado da radiação. Fica entendido que ele é uma força da natureza, comparável a um terremoto ou uma tsunami. Não é apenas um ser, mas quase um deus da natureza, uma maneira da Terra colocar tudo nos eixos e restaurar o equilíbrio. Outro acerto é o fato ter diversos protagonistas, divididos em momentos chave. E não há um vilão, os próprios M.U.T.O. são apenas seres pré-históricos que querem se reproduzir. Há uma cena específica em que chegamos a sentir carisma e ter pena dos monstros. O que infelizmente está em jogo é a sobrevivência da humanidade. Todo este conceito de homenagear os elementos da Toho Studios, aliado à direção segura e com alguns ângulos inspirados de Gareth Edwards garantem um resultado nostálgico para os fãs dos clássicos e um entretenimento surpreendentemente sério para o público em geral.

O elenco conta com os talentos de Bryan Cranston (da elogiada série Breaking Bad), Elizabeth Olsen (a irmã talentosa das gêmeas Olsen, que fez o bom Marta, Marcy, May, Marlene), Aaron Johnson (o herói de Kick-Ass 1 e 2), Juliette Binoche (oscarizada por O Paciente Inglês) e Ken Watanabe (de A Origem). Todos estão corretamente colocados em seus papéis. Watanabe serve como “a consciência oriental” do longa. Bryan Cranston e Juliette Binoche roubam a cena no primeiro ato do filme, onde a abertura consegue ser muito, muito emocionante. Aaron Johnson segura as pontas como o herói, mesmo que não tenha nada de sensacional. E Elizabeth Olsen mais uma vez entrega uma expressão dramática acima da média dentre as jovens atrizes.

Outro ponto notável são os excelentíssimos efeitos visuais, utilizados de maneira louvável e controlada, sem nunca deixar de serem grandiosos. O longa se dá ao luxo de ter uma boa fotografia, privilegiando diversas paisagens e lugares. A ação é tensa, eletrizante e em alguns momentos nos deixa apreensivos; como na cena do trem, a cena do ônibus escolar na ponte e a cena dos paraquedistas, demarcados e riscando o céu com fumaça vermelha. Tudo no filme é de bom tom visual. A trilha sonora é do competente Alexandre Desplat, que compôs as melodias de filmes como A Rainha e O Curioso Caso de Benjamin Button. O 3D que não acrescenta muita coisa, embora em alguns pequenos momentos ser possível enxergar um pouquinho mais de profundidade na tela.


Mas um fator que causou descontentamento em muitos é o fato do filme não ir mais do que poderia ser. Como já comentado, o Godzilla aparece pouco em seu próprio filme. Isto porque a opção aqui foi parecida com a do Círculo de Fogo e até mesmo do novo RoboCop. Ambos três filmes vieram para elogiar, não indo além disso. Ganharam pontos em fator de desenvolvimento humano, mas não avançaram na ação no final. Na verdade um defeito em comum de ambos filmes é faltar 10 minutos de ação final. Aqui nestes casos, onde todos tiveram duas horas de duração, eles poderiam muito bem desenvolver mais a ação e mostrar melhor o potencial. No caso de RoboCop (crítica aqui), ele veio para elogiar a trilogia original, mas faltou algo no seu final. E falando em Círculo de Fogo, há sim ligação entre ele e Godzilla. Em Círculo de Fogo (leia a crítica aqui) os humanos usam robôs gigantes para lutar contra os gaiju (monstros japoneses, que eu citei lá em cima). O próprio Godzilla (ou Gojira) é um gaiju ou kaiju – monstro gigante do cinema e da cultura pop oriental. Ou seja, ambos filmes servem para elogiar este subgênero. Pena que em ambos os casos não foram um pouquinho mais além disso.

Mesmo que com estes contras e mesmo não sendo um dos melhores filmes do ano, pode-se dizer que Godzilla é uma das melhores superproduções de 2014 até agora. Há adrenalina e fantasia, mas há muita humanidade, bom elenco e boa direção. Imagens sensacionais e uma bela homenagem ao “Rei dos monstros”. Se você não pulou diretamente para o final da minha crítica, entenderá o porque desta nota ao filme. Me diverti e ate me emocionei como em anos não acontecia em um filme de monstros. Este novo Godzilla vai muito além disso, mostrando que é possível reaproveitar uma ideia de maneira satisfatória. E fiquem ligados, pois devido ao sucesso de bilheteria (e até de crítica, com cerca de 75% de aprovação nos principais meios especializados), em breve teremos notícias do já anunciado Godzilla 2. Tomara que sua sequência mostre mais do nosso querido lagartão. E não só isso, pois além de uma pequena chance de termos Círculo de Fogo 2, vem aí em 2015 o quarto filme de Jurassic Park. É esperar para ver. Este tipo de filme sempre estará no imaginário dos fãs do cinema de fantasia. Mesmo que dramas ou filmes reflexivos sejam ótimos (por exemplo sou fã de Spike Jonze, diretor de Ela); é ótimo poder desligar o cérebro e assistir a uma boa ficção. Godzilla cumpre seu papel; e em tempos de desastres naturais, é bacana vermos um herói tão poderoso quanto a própria força da natureza.





Para mais informações sobre a origem e a saga de Godzilla, acesse:


Direção: Gareth Edwards

Elenco: Bryan Cranston, Elizabeth Olsen, Aaron Johnson, Juliette Binoche, Ken Watanabe, David Strathairn, Victor Rasuk, CJ Adams, Al Sapienza, Richard T. Jones, Brian Markinson, Steven Wiig.

Sinopse: Um épico renascimento para o icônico Godzilla, da Toho, esta aventura da Warner Bros. Pictures e Legendary Pictures coloca o monstro mais famoso do mundo contra criaturas malévolas que, sustentadas pela arrogância científica da humanidade, ameaçam nossa própria existência.

                  Espetacular trailer estendido:







                        Incrível trailer asiático:





                         Godzilla de 1954:









                            Godzilla de 1998:













                Mais fotos do Godzilla de 2014:


  



  














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