Clássico em Cena: BELEZA AMERICANA







Elenco: Kevin Spacey, Annette Bening, Thora Birch, Wes Bentley, Mena Suvari, Chris Cooper, Peter Gallagher, Allison Janney, Scott Bakula, Sam Robards, Barry Del Sherman.



Direção: Sam Mendes



Ano: 1999



Sinopse: Lester Burham (Kevin Spacey) não aguenta mais o emprego e se sente impotente perante sua vida. Casado com Carolyn (Annette Bening) e pai da “aborrecente” Jane (Tora Birch), o melhor momento de seu dia quando se masturba no chuveiro. Até que conhece Angela Hayes (Mena Suvari), amiga de Jane. Encantado com sua beleza e disposto a dar a volta por cima, Lester pede demissão e começa a reconstruir sua vida, com a ajuda de seu vizinho Ricky (Wes Bentley).



Vencedor do Oscar:



No Oscar, Beleza Americana venceu 6 dos 14 prêmios que havia sido indicado: Melhor FilmeMelhor Ator para Kevin SpaceyMelhor Atriz para Annette Bening, Melhor Fotografia, Melhor Música e Melhor Edição.



Trailer:





Como começar a falar deste filme? Talvez um dos mais complexos e difíceis de descrever. Sucesso de bilheteria, maior ainda de crítica, invadiu o Oscar e abocanhou muitos prêmios. Mas quando a maioria das pessoas viu, muitos não gostaram, não entendendo na verdade o soco no estômago que o filme é. Melhor formulando, as pessoas perceberam este soco e por isso não gostaram. É possível? A verdade dói tanto?


No enredo, o marido está cansado da vida familiar chata e estressante. Pede demissão, começa a malhar e tem sonhos eróticos com a amiga adolescente da filha dele. A sua esposa é seca e chata, começando uma traição e a fazer o que quer, como aula de tiros. A filha se distancia da amiga “galinha” e se envolve com o estranho vizinho que vive com uma câmera na mão. Este jovem vizinho é oprimido por um pai violento e severo demais. E isso tudo é só um pouco do que está presente neste filme de roteiro impecável!

As atuações são um outro ponto forte, embalando ainda mais o roteiro. Kevin Spacey surpreende de uma maneira pouco vista no cinema. Mas simplesmente todo o elenco está de parabéns, até os jovens atores. O diretor Sam Mendes nos entrega uma obra prima, tornando-se um dos melhores diretores da atualidade. Ele dirigiu A Estrada Para a Perdição, Foi Apenas Um Sonho, 007 Operação Skyfall, entre outras boas obras. Mas este aqui é seu melhor trabalho, mostrando talento na maneira como ele conduz quadro-a-quadro e cada ângulo deste filme. Ângulos não somente das lentes das câmeras, mas também na ambiguidade dos seus complexos personagens.

O título em si já levanta questões. Qual a verdadeira beleza do estilo de vida americano (e por que não dizer global)? As famílias hoje não parecem maquiadas com costumes e regras, mascarando sujeiras, desejos e podridões do íntimo de cada ser humano? O filme apresenta do início ao fim uma série de avalanches de humor negro. Um humor ácido, sarcástico, azedo, masoquista e visceral. As famílias brigam e se agridem, dilacerando seus laços afetivos; e isso de uma maneira que nós, o expectador, se diverte de uma maneira sádica. Seria essa a intenção de Sam Mendes? Fazer-nos rir da verdade que rodeia nossa vida?





Com algumas cenas clássicas, como as das pétalas de rosas saindo dos seios de Angela (a amiga da filha); ou a do vídeo onde o jovem vizinho Ricky acha uma estranha beleza em um saco plástico voando com o vento; este filme traz reflexões e metáforas que vai fazer você refletir. O linguajar pesado e ultrajante utilizado também é um tempero à parte. Ver marido e mulher mandando “se fuder” não é comum em filmes reflexivos. Mas este aqui não utiliza maquiagem, este é o objetivo do filme. 

Os mais conservadores dirão que o filme é sujo e ultrajante. Mas será mesmo? Não é esta a mensagem da obra? Não está o filme justamente mostrando que não há perfeição, não há famílias sem segredos obscuros e problemas sérios. Não há uma beleza pura e genuína. Casar, ter  filhos, se formar, trabalhar. Tudo ainda parece tão vazio não acha? Esta é a beleza da vida? Um estilo de vida padronizado pela sociedade pode ser a coisa mais feia que você verá. 





Em determinado momento a personagem Angela, que aparentemente só serve para ser “comida” pelos rapazes, se revela ciente de sua situação. A personagem mais nojenta do filme se revela frágil e ciente da falta de profundidade que uma vida pode ter. Outro fato interessante é o Ricky constantemente gravar tudo, isso lá em 1999; mostrando uma realidade hoje! A realidade de que a privacidade está abalada nestes tempos modernos. Mas o estilo de vida não mudou muito. A podridão continua ali, agora diante de câmeras. Exemplo disto são estes Reality Shows vazios e sem propósitos. Mas meu personagem favorito é o pai de Ricky, que é seco e inflexível. Ele tem um comportamento violento, até mesmo achando que seu filho é gay, o que pra ele seria uma humilhação. Mas não por ele odiar gays, mas porque ele mesmo é um gay, mas como pai de família, deve esconder seu segredo. Ele está preso a um estilo de vida padronizado pela sociedade.

Acredite, estes são apenas algumas das polêmicas que este excelente filme lança. É daqueles que quando acaba, você fica pensativo e de algum modo é afetado. Este é um exemplo raro de obra cinematográfica que de algum modo nos dá uma lição. Assistir a este filme é como levar um soco no estômago, uma pancada na cabeça, um chute bem levado. De alguma forma você percebe que todos nós, sem exceções, fazemos parte de alguma falsa beleza. Claro que a real beleza da vida existe, e ela é mostrada em uma única cena do filme; uma das últimas. Ironicamente é nesta cena que acontece a tragédia prometida desde o início do filme. Porque isso? Seria uma forma de mostrar que a real felicidade é rápida e sufocada pela frieza da realidade? E o final é absurdamente surreal e aberto para diversas interpretações.





Absurdamente bem trabalhado e hipnotizante, este filme causa um profundo impacto em nossas almas e no nosso íntimo. Somos esmagados por uma série de situações que realmente existem em nosso redor. Não deixe de conferir este que é considerado um dos melhores e mais incríveis filmes de todos os tempos. Uma obra perfeita, que merece ser reverenciada. 

No fim, fica em aberto a possibilidade de cada um de nós, amigo leitor; de escolhermos se encararemos as coisas como elas são; ou se iremos agir como a grande maioria, tendo um estilo de vida “controlado por regras”, regras estas que acabam nos denegrindo aos poucos. É assustador saber o quão feia é a Beleza Americana, beleza esta que já é universal. Esta beleza maquia e amacia nossa vazia vida, matando-nos aos poucos. Triste saber que em raros momentos temos um único feixe de  verdadeira felicidade. Afinal, quantas coisas realmente belas existem? Olhem bem de perto…

NOTA: 10

O filme em uma frase: Uma metáfora sobre a falsa beleza da vida pós-moderna, uma Odisseia surrealista que atinge nossa espinha tamanha frieza com que a realidade nos é apresentada.


Bônus:

Um trecho da trilha sonora que ganhou Oscar:



Frases marcantes:

“Às vezes há tanta beleza no mundo que acho que não vou suportar.”

“Porque tudo o que for para acontecer, acontece. Cedo ou tarde.”


“Sou apenas um cara comum, que não tem nada á perder.”


“Ás vezes queremos respostas, que estão na nossa frente.”


“Foi quando entendi que havia essa vida toda por trás das coisas, e essa incrível força benevolente, que dizia pra eu não ter medo.
As vezes eu sinto que há tanta beleza no mundo, e eu não posso resistir.
E meu coração parece que vai sucumbir”.


“É difícil ficar zangado quando há tanta beleza no mundo.”


“Quando não há nada a perder, arrisque tudo!”


“É bom quando descobrimos que podemos surpreender a nós mesmos, 
faz pensar no que mais podemos fazer e havíamos esquecido.”


“Não há nada pior do que ser comum.”



Outras fotos do filme:
























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