Crítica: A Tragédia de Macbeth (2021, de Joel Coen)

Os conceituados irmãos Coen já são muito respeitados por sua carreira cheia de acertos e um estilo único de contar suas histórias, mas foi uma surpresa pra mim quando ouvi que o Joel Coen, dessa vez sem a colaboração do irmão e em parceria com A24 e a Apple TV, decidiu adaptar esse que é um dos épicos mais celebrados de Shakespeare, e que também já foi adaptado por grandes diretores como Orson Welles, Roman Polanski e Akira Kurosawa.

A obra, que já contou com diferentes formas de ser contada no cinema, às vezes com um texto mais denso e fiel a obra original de Shakespeare e em outras ocasiões, com liberdades criativas para deixar o filme mais acessível ao público, dessa vez preferiu manter seus aspectos mais teatrais, o filme quase todo é focado em diálogos e divagações, e os cenários são extremamente minimalistas, deixando um foco maior nas interpretações dos personagens.

A história central da trama, é focada em Lorde Macbeth (Denzel Washington), que voltando de uma guerra, acaba encontrando com uma bruxa contorcionista (Kathryn Hunter) — que em uma cena fantástica revela se tratar de três personalidades em uma —, ela faz então uma previsão, de que ele seria o futuro Rei da Escócia. Ao chegar em casa e contar a novidade para sua mulher, Lady Macbeth (Frances McDormand), ele e ela então, conspiram o assassinato do Rei, para assim tomar o poder e cumprir com a profecia da Bruxa. Nisso a história vai seguindo em uma trama de corrupção, assassinatos, loucura e principalmente a “tragédia” que dá nome ao filme.

Os Irmãos Coen, ficaram conhecidos por suas “comédia de erros”, esse termo, que também é o nome de uma outra peça de Shakespeare, acompanha seus filmes desde o celebradíssimo Fargo, e é interessante ver que mesmo nessa adaptação, existe esse humor involuntário causado por erros bobos de seus personagens, como por exemplo, a cena em que o Lorde Macbeth esquece a arma do crime no local do assassinato, isso mostra que mesmo o filme sendo uma adaptação, a marca do diretor está ali, não só nessa cena, mas em várias do filme, ele conseguiu imprimir a sua identidade.

As interpretações aqui são um dos pontos mais altos do filme, o que dizer da apresentação das Bruxas feita pela maravilhosa Kathryn Hunter, essa cena é um dos pontos fortes do filme, numa exibição absolutamente bem executada de contorcionismo, ela consegue apanhar o telespectador e o deixar vidrado enquanto recita a profecia que vai mover toda a trama do filme, essa cena por si só, já vale a recomendação de assistir o filme.

Denzel Washington também está espetacular aqui, em uma interpretação imponente, a maior partes dos diálogos passa por seu personagem, e ele sempre está extremamente consistente enquanto interpreta os versos da obra, as cenas dele com a Frances McDormand, são igualmente incríveis, dá pra notar enquanto estão contracenando o quão entregues eles estão no filme.

Mas uma coisa insuperável do filme, é o seu conceito estético, a fotografia em preto e branco, com a proporção 4:3, e as fortes inspirações do expressionismo alemão, fazem desse filme, o mais bonito e singular que tive a oportunidade de ver esse ano, esteticamente o filme é impecável. O estilo que foi adotado aqui, sem dúvidas é o maior acerto, e uma das pessoas mais responsáveis por isso, é também o diretor de fotografia, Bruno Delbonnel, que em parceria com Joel Coen, entregou uma das adaptações de Macbeth mais estilosa e única da história do cinema.

Uma das surpresas mais agradáveis do ano, Macbeth mostra como a obra de Shakespeare e dos Coen estão totalmente interligadas e são atemporais.

Título Original: The Tragedy of Macbeth

Direção: Joel Coen

Duração: 105 minutos

Elenco: Denzel Washington, Frances McDormand, Kathryn Hunter, Alex Hassell

Sinopse: Um lorde é convencido por um trio de bruxas que está destinado a se tornar o rei da Escócia. Com a ajuda de sua ambiciosa esposa, ele faz o que é necessário com o objetivo de conquistar a coroa.

Trailer:

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