Crítica: Amor, Sublime Amor (2021, de Steven Spielberg)

É o sexagésimo aniversário do clássico Amor, Sublime Amor (1961) de Jerome Robbins e Robert Wise, uma adaptação para as telonas do tradicional musical da Broadway West Side Story de Arthur Laurents. A história se passa na década de 50 e narra o conflito territorial na Lado Oeste de Nova York entre os Jets, Americanos brancos e os Sharks, Porto-Riquenhos. Até que no meio dessa rivalidade nasce um amor entre Maria (uma porto-riquenha) e Tony (um americano e ex-líder dos Jets). 60 anos depois, Steven Spielberg agora resgata e homenageia essa obra-prima dos musicais americanos.

O longa é um Romeu e Julieta da West Side, agora apresentado através da abordagem de Steven Spielberg (Jogador Nº1, 2018) trazendo Rachel Zegler como Maria e Ansel Elgort como Tony. O casal na pele dos protagonistas entrega uma boa química, mas talvez pouca sintonia. Ansel parece sempre estar interpretando o jovem americano, playboy e padrão, bem ao estilo Ritmo de Fuga, enquanto Rachel como Maria é quase como ver um anjo cantando nas telonas.

Além disso, o diretor escalou atores realmente latinos para interpretar o elenco porto-riquenho. Pois uma das grandes polêmicas envolvendo o clássico de 1961, foi o fato deles terem pintado atores brancos para viverem os porto-riquenhos na época. Na versão de Spielberg será possível ver um destaque para eles, desde os tons mais quentes até nos figurinos extremamente coloridos, principalmente no número America em que em vez de ficarem contidos em um terraço do prédio, eles dominam as ruas com suas vozes potentes e seu gingado único.

Algumas coisas foram mudadas e adaptadas nessa releitura do musical, o maior exemplo disso está na participação da atriz Rita Moreno que no clássico interpreta Anita, já na versão Spielberguiana ela é a dona do Bar do Doc, refúgio para os jovens encrenqueiros. No original, Doc (Ned Glass) era um homem, ou seja, na versão atual o destaque fica para uma mulher, mas não qualquer mulher, afinal, além estar presente no clássico e nessa versão interpretando Valentina, Rita Moreno também é produtora-executiva do filme.

Completando o elenco e que devem ser destacados, alguns nomes como: Maik Faist como Riff, David Alvarez como Bernardo, Ariana DeBose como Anita e Iris Menas como Anybody. Respectivamente Riff é o atual líder dos Jets e o maior gerador de intrigas e discórdias, nesse caso o ator Maik Faist se destaca bastante, chama mais atenção até do que Ansel que dá vida ao protagonista. Bernardo líder dos Sharks e irmão de Maria, destaca-se como o irmão protetor e defensor de suas causas patriotas. Enquanto, Anita interpretada por Ariana DeBose segue os passos de Bernardo e está ao lado dele para o que precisar, mas ao mesmo tempo é uma mulher independente e forte. Mas, um destaque na participação e na interpretação fica a cargo de Iris Menas como Anybody, ator trans e que no longa-metragem interpreta o que ele já é fora das telas, além da oportunidade e dos espaços abertos para esses atores, serve de pauta para discussões sobre o tema para que se tenha mais respeito e representatividade.

O roteiro assinado por Tony Kushner consegue ter o formato ambientado na década de 50, mas tem uma linguagem que dialoga com os dias atuais. Apesar do amor avassalador entre Maria e Tony, a todo momento as cenas e diálogos são construídos em torno dos conflitos que existem entre aqueles dois grupos e a necessidade de se chegar a um consenso. Um acordo que poderia surgir por livre e espontânea vontade das partes, para que não fosse necessário chegar ao extremo de uma tragédia.

Em 2021, o que o roteirista Tony Kushner e o diretor Steven Spielberg fizeram foi prestar uma homenagem a esse clássico dos musicais americanos, que aborda disputas territoriais, questões raciais e culturais, com um espaço até para questões de gênero, assunto pertinente nos dias atuais. O musical está mais colorido, mais vivo e mais grandioso que o clássico. Amor, Sublime Amor é incrível e tem muitas chances de conquistar as novas gerações. Só peca em alguns detalhes, como: o primeiro encontro entre Maria e Tony que parece uma versão mais iluminada de High School Musical e no final do clássico a fala de Maria é mais profunda e sentimental em relação às divergências entre os Jets e os Sharks, enquanto no atual parece mais um surto momentâneo e supérfluo.

Mas o triunfo do longa de Spielberg está na montagem dos números musicais, o tempo da musicalidade narra com mais precisão os acontecimentos, cativando e emocionando ainda mais o público que for assistir. Dessa forma, as duas horas e meia de filme passam num piscar de olhos, diferente do clássico que ficou pesaroso. Para aqueles que não conhecem esse velho clássico americano é a grande oportunidade de se encantar e quem sabe, até cantar junto?

Título Original: West Side Story

Direção: Steven Spielberg

Duração: 156 minutos

Elenco: Rachel Zegler, Ansel Elgort, Ariana DeBose, Rita Moreno, Mike Faist, David Alvarez, Iris Menas, Brian D’Arcy, Corey Stoll

Sinopse: Realizado pelo vencedor do Óscar Steven Spielberg, com guião do vencedor do Prémio Pulitzer e Prémio Tony, Tony Kushner, “West Side Story” conta a história clássica de rivalidades ferozes e do amor jovem na cidade de Nova Iorque, em 1957. Esta recriação do adorado musical conta com a participação de Ansel Elgort (Tony), Ariana DeBose (Anita), David Alvarez (Bernardo), Mike Faist (Riff), Brian d’Arcy James (Polícia Krupke) e Rita Moreno (como Valentina, a dona da loja de esquina em que Tony trabalha).

Trailer:

Você curte musicais? Já assistiu o clássico de 1961? Vai dar uma chance a esse? Adianto que vale a pena, comente aqui o que achou!

Deixe uma resposta