Crítica: Spencer (2021, de Pablo Larraín)

Eu não vou perder tempo tentando desmistificar o porque Kristen Stewart foi julgada erroneamente por um personagem que, diga-se de passagem, ela atuou perfeitamente, já que no livro a personagem era daquela forma. Enfim, assim como Robert Pattinson, o tempo passou e muita coisa mudou. Hoje vou tentar explicar porque Spencer é o melhor filme do ano até agora. Confira a crítica a seguir e cuidado! Pode haver alguns spoilers…

Se me pedissem para resumir o filme, eu diria que ele é caótico e sofrido, assim como a personificação de Diana no olhar de Larraín. Uma mulher quebrada por dentro e por fora, enquanto carrega o peso de ser a Princesa que todos amam, porém o amor é como algo ilusório em sua vida, já que, por trás das câmeras, ela passa a vida sendo julgada e tentando migalhas de um relacionamento que ela idealizava como perfeito, até descobrir que toda a beleza nada lhe servia, já que seu marido era apaixonado por outra, e ela entrou de cabeça num jogo que não sabia jogar.

O filme tem muitas ambiguidades e analogias, de fato o que em muitas críticas que li lembra uma história contada como uma fábula “narração de aventuras e de fatos (imaginários ou não); fabulação.” Ou seja, a narrativa pode ter sido muito bem hipotética do ponto de vista do diretor, ou pode ter sido exatamente daquele forma, do ponto de vista do telespectador, o fato é, jamais saberemos ao certo o que houve naqueles fatídicos dias que antecederam o natal da família real. Mas vamos começar pelo começo.

O chileno Larraín tem uma maneira forte e única de tentar mostrar os fatos de uma visão inteiramente interna. Assim como em Jackie, onde o diretor vai a fundo na mente da ex-primeira dama de JFK, mostrando os bastidores do dia da morte de Kennedy e como ela lidou com isso, narrando a história. Assim como em Spencer, o elenco coadjuvante é muito secundário, deixando pouco espaço para histórias paralelas e focando principalmente na atuação de Natalie Portman.

Aqui nesse filme, a princesa Diana está longe de ser representada como aquela princesa do povo, onde é amada e bem-quista, conhecemos uma mulher perturbada por seus fantasmas e ciúmes, que se atrasa para os mínimos detalhes quando o assunto é família real. A princípio o filme me passa uma certa insegurança da mulher mais amada da Inglaterra ao passo que ela se sente uma intrusa na família, sendo diversas vezes perturbada por inseguranças e incertezas, se humilhando por migalhas de atenção e amor de seu marido, quando este está deliberadamente apaixonado por outra e não faz questão de esconder. Toda a beleza se contrasta com o sofrimento e o caótico sentimento de frustração e claustrofobia que o castelo é retratado pelos olhos de Stewart.

Pequenos detalhes em determinados diálogos trazem toda uma reflexão sobre como Diana era representada, a mais notória de certo é a comparação dos faisões, aves belas mas consideradas “burras”. Sendo criadas exclusivamente para morrer na mão da realeza ou atropelada no caminho. Misturando os conflitos de sua mente e diversas alucinações, os poucos momentos de paz que vemos é quando ela está com os filhos.

Alucinações que não são por acaso, já que Ana Bolena, segundo o filme, era parente distante de Diana e, acabou morrendo por amor, de uma forma não tão romântica. Apenas três anos após o casamento que começou com tantas juras de amor, ela foi julgada e condenada por alta traição, adultério e incesto, acabou sendo decapitada, sem ter de fato, provas concretas de seus crimes. Talvez a comparação entre as duas se dê pelo fato de Diana ser retratada como uma pessoa difícil de lidar e cheia de vontades que, não são de acordo com o protocolo real. Segundo biografias, Ana era uma mulher complicada, que se casou com Henrique VIII já grávida, sendo sua segunda esposa. Era considerada arrogante e caprichosa, e não despertava interesse ou apoiadores dentro da corte.

O filme de fato é para poucos, com seu ritmo lento e angustiante, o roteiro se concentra principalmente na interação da princesa com os empregados do castelo e seus filhos, usando e abusando de closes das expressões de Kristen para demonstrar os sentimentos que sua personagem está passando em determinado momento ou seus pensamentos indo além da imaginação. Não existe futuro aqui, é tudo sobre como o passado mescla com o presente e suas consequências na saúde física e mental de uma mulher perturbada. Diferente do que li em diversas críticas, chamando o filme de “arrastado” ou “maçante”, acredito que ele está longe disso, de fato é um filme lento para compor a história de uma personagem, que se passa em três dias, mas que para ela, parece uma eternidade.

Quando finalmente ela está ‘livre’ das obrigações que tem que desempenhar e pode finalmente ir embora, o filme muda completamente, nos dez últimos minutos, a fotografia se torna ensolarada, com músicas dançantes e sorrisos, quando antes era acinzentada e fria. Presa em quatro paredes por regras, medos e empregados fiéis a coroa. Assim como a cena em que ela reencontra a casa onde cresceu, agora em frangalhos, contrastando com as suas memórias tão vívidas e alegres, se tornam um pesadelo, mas no fim, o sofrimento é o que dá forças a Diana.

Título Original: Spencer

Direção: Pablo Larraín

Duração: 111 minutos

Elenco: Kristen Stewart, Jack Farthing, Sally Howkins, Sean Harris, Timothy Spall, Amy Manson, John Keoge, Nicklas, Kohrt, Olga Hellsing, Thomas Douglas, Stella Gonet

Sinopse: Com roteiro de Steven Knight (“Peaky Blinders”), SPENCER narra o que poderia ter acontecido nos últimos dias do casamento da princesa Diana (Kristen Stewart) com o príncipe Charles (Jack Farthing). O casamento da princesa Diana e do príncipe Charles há muito esfriou. E embora haja muitos rumores de casos e de divórcio, a paz foi ordenada para as festividades de Natal no Queen’s Sandringham, a casa de campo da Família Real. O evento é repleto de comida e bebida, tiro e caça. Diana conhece as regras do jogo de aparências. Mas este ano, as coisas serão muito diferentes.

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