PEN15: A Melhor Comédia Cringe do Momento

Em Fevereiro de 2019, PEN15 estreou timidamente no serviço de streaming Hulu, com um elenco quase inteiramente desconhecido e uma proposta um tanto ousada: duas atrizes de mais de trinta anos interpretando suas versões de 13 anos no fundamental. As criadoras e protagonistas da comédia, Maya Erskine e Anna Konkle, haviam trabalhado em poucas produções antes de vender sua estranha proposta, mas o talento da equipe foi suficiente para elas emplacarem essa bizarra e amável série no Hulu.

O primeiro sentimento ao assistir PEN15 é total e completo estranhamento. Assistir séries teen como The O.C e One Tree Hill onde o elenco adolescente parece ter mais de vinte e cinco já causa estranheza, agora imagina uma produção onde as duas protagonistas de treze anos são interpretadas por mulheres de trinta e dois. Pois é, parece algo intragável. Mas assim que você se permite ativar a suspensão de descrença, PEN15 se torna algo mágico e completamente inovador.

Anna Konkle e Maya Erskine conseguem dar vida a duas personagens pré-adolescentes de uma forma completamente nova. Suas atuações, embora caricatas no início, vão ganhando camadas a cada episódio e você não consegue evitar de torcer por essas duas meninas completamente perdidas e sem noção nenhuma da vida. A série explora aspectos muito universais da juventude e da experiência no colegial, apresentando os primeiros interesses românticos e sexuais, as humilhações, mudanças corporais e, especialmente, as amizades.

Maya e Anna, (sim, o mesmo nome das criadoras), são personagens absurdamente irritantes e desagradáveis em diversos momentos, mas seus comportamentos infantis são completamente aceitáveis e compreensíveis, afinal elas ainda são crianças. Assistir as duas se descobrindo e se encontrando é uma experiência quase catártica, especialmente para quem cresceu nos anos 2000, pois a série é muito relacionável enquanto apresenta o amadurecimento de suas protagonistas. Anna e Maya, mesmo com suas especificidades, vivem situações universais com as quais todo mundo pode se identificar.

Mas a série vai bem além das experiências universais da adolescência, ela também se empenha em expor vivências específicas de minorias. Maya, por exemplo, é uma jovem amarela de descendência chinesa que como muitos adolescentes racializados é vítima de racismo de seus colegas. PEN15 aborda essas violências com muita sensibilidade e inteligência, mostrando como certas experiências da juventude são bem mais complexas para jovens não-brancos, especialmente relacionamentos amorosos.

PEN15 consegue ir muito além do humor cringe e entregar para o telespectador uma história honesta e sensível sobre os pormenores da adolescência sem cair nos clichês mais esperados. A série diverte tanto quanto emociona em alguns momentos e nos faz lembrar que os melhores momentos da juventude foram com nossas amizades. PEN15 proporciona um saudosismo saudável da época de escola e mesmo para os excluídos existem lembranças boas para guardar.