Incêndio atinge a Cinemateca Brasileira, na cidade de São Paulo

Nesta Quinta (29), um incêndio de grandes proporções atingiu o depósito da Cinemateca Brasileira, em São Paulo. A instituição é responsável “pela preservação e difusão da produção audiovisual brasileira”, e tem o maior acervo da América do Sul, formado por cerca de 250 mil rolos de filmes e mais de um milhão de documentos relacionados ao cinema.

O descaso com a indústria cultural brasileira por parte do governo federal não é novidade, e, várias vezes, foi denunciado por profissionais da área, como em Abril de 2021, quando foi divulgado um manifesto dos trabalhadores da Cinemateca, que denunciava os riscos o acervo estava correndo. O manifesto, de três páginas, pode ser lido abaixo.

O governo deixou a Cinemateca abandonada em Dezembro de 2019, quando o então ministro da educação, Abraham Weintraub, encerrou o contrato e despejou a ACERP – Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto – do prédio do Ministério da Educação. Desde então, o acervo, que era preservado pela TV Escola, da ACERP, foi deixado à própria sorte, resultando no incêndio da tarde de hoje.

O Ministério Público chegou a abrir um processo sob a acusação de “abandono intencional” contra o governo federal, que buscava que fosse cumprida a aplicação do orçamento previsto, para que fosse assegurada a preservação do acervo.

O descaso chegou a gerar a criação de movimentos que visavam a preservação do espaço, como o SOS Cinemateca e o Cinemateca Viva. Vários artistas também se posicionaram contra o abandono, como os cineastas Fernando Meirelles, Barbara Paz, Kleber Mendonça Filho e Marina Person, além de atores e atrizes, como Alessandra Negrini, Mariana Ximenes e Antônio Pitanga. O manifesto pode ser visto no vídeo abaixo:

A situação também causou comoção internacional entre pessoas que apreciam o cinema brasileiro, como o cineasta Martin Scorsese, que, em carta publicada na Folha de São Paulo, discorreu sobre a importância da arte e de sua preservação, e encerrou a carta dizendo que ” espero sinceramente que as autoridades federais do Brasil abandonem qualquer ideia de retirada do financiamento e façam o que precisa ser feito para proteger o acervo e a dedicada equipe da Cinemateca”.

A causa do incêndio ainda não foi confirmada, mas alguns dos mais de 250 mil rolos eram compostos por nitrato de celulose, material que, caso não seja mantido sob condições adequadas de refrigeração, pode entrar em auto-combustão.

O presidente da república, Jair Bolsonaro, não se manifestou.

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