Verão de 85 (2021, de François Ozon)

Todos conhecem o ditado “não julgue o livro pela capa”, mas todo mundo faz isso, mesmo que só um pouquinho. Acredito que isso aconteça porque certos elementos fazem os seres humanos se atraírem pelas coisas, como uma abelha que se atrai por flores em um jardim. E, não vou mentir, eu sou atraída por filmes que têm dois garotos brancos na capa e um fundo azul, porque eu automaticamente sei que é um filme gay de adolescente – Me Chame Pelo Seu Nome, obrigada por tudo. Foi exatamente por esse motivo que escolhi ver Verão de 85, e eu preciso dizer, não podia estar mais certa sobre meu palpite. Apesar disso, o filme francês traz uma premissa ligeiramente diferente da que eu esperava, o que não significa que tenha sido uma experiência ruim.
Baseado no livro Dance on My Grave, de Aidan Chambers, a narrativa segue Alexis, um estudante que, durante suas férias escolares, pega um barco a vela emprestado de um amigo e vai, sozinho, para o meio do mar. Em uma virada de tempo, porém, o barco vira, e como um anjo caindo do céu, David o resgata e o leva de volta à praia. Se não bastasse isso, o desconhecido ainda o leva para sua própria casa e, junto com sua mãe, cuida de Alexis para que ele não pegue uma gripe ou algo do tipo. Assim, David desencadeia uma amizade com Alexis que, em pouco tempo, se desenvolve, tornando-os um pouco mais que amigos. Só há um problema: na primeira cena do filme, somos alertados que alguém morreu. Alexis é quem conta a história.

Embora sejam histórias completamente diferentes, é difícil não pensar que François Ozon queria, de alguma forma, repetir o sucesso de Luca Guadagnino. Quero dizer, os dois filmes são inspirados em livros com foco em relações homo e bissexuais, as capas são parecidas, se passam no verão europeu… São muitos pontos iguais, mas, se for para fazer uma comparação, Me Chame Pelo Seu Nome é, apesar de seus problemas, superior ao filme francês. Todavia, acredito que é possível afastar as duas obras e falar sobre Verão de 85 como um filme único, porque isso é o que ele é.
Para os que estão cansados de romances homossexuais com finais trágicos, esse filme não é para você, já que, desde o começo, somos alertados da morte de David. O que nos leva a continuar a história é não apenas saber o porquê disso, mas também o motivo de Alexis estar sendo interrogado por algo que fez com o amigo. Infelizmente, a segunda resposta nós desvendamos com apenas quarenta minutos de filme, e depois que descobrimos a segunda, ainda há meia hora para assistir, o que pode ser um pouco cansativo, já que não há nada de muito interessante para segurar o filme.
Outro ponto negativo, pelo menos para mim, foi a personalidade de David – e talvez o fato de o ator que o interpreta lembrar muito a aparência do Mário do TilTok; “Roi, Alex, né?”. Ele é o típico cara que gosta de se fazer de bad boy, enrolar todo mundo e não se comprometer com ninguém. Basicamente, ele fazia o Alexis de otário. A parte interessante disso é que uma das personagens, mais perto do final do filme, abre os olhos de Alexis e dizer que ele não amava David, mas o que ele criou de David em sua cabeça. Isso é algo real e que muitas vezes as pessoas não percebem. Principalmente em se tratando de romances de verão, pode ser que uma pessoa se apaixone perdidamente pelo que idealizou da outra, e não pela pessoa. Nós somos capazes de amar alguém que sequer existiu, o quão bizarro é isso? Para mim, essa é uma das melhores cenas do filme, porque nos faz enxergar toda a narrativa a partir de perspectivas diferentes.
Dos pontos que me agradaram, acredito que as atuações tenham sido um dos pontos altos, principalmente a de Félix Lefebvre. Sua personagem, Alexis, é o típico garoto bobinho com um quê de poesia na veia e muita melancolia, e querendo ou não eu sou o tipo de pessoa que gosta de personagens desse tipo, e ele se encaixou perfeitamente no papel.
A fotografia, o figurino e o design de produção combinaram excepcionalmente com a proposta de trazer de volta os anos 1980. O mais bizarro é que, como a moda vem e vai, às vezes eu me esquecia da época em que o filme se passava e pensava, “Nossa, por que ele não manda uma mensagem?”, mas instantaneamente aparecia um toca fitas em cena e minha ficha caía.
No mais, não acredito que Verão de 85 seja uma obra-prima da sétima arte, mas também não é um filme ruim que não vale a pena assistir. O modo como a trama foi conduzida fez com que ele acabasse se tornando um pouco desinteressante do meio para o final, mas quem gosta do gênero e está afim de ver um romance francês ligeiramente parado – e, aos fãs de Me Chame Pelo Seu Nome, atenção: sem cenas de sexo – para passar o tempo, é uma recomendação. O filme, que fez parte do Festival de Cannes de 2020, estreia no Brasil em 3 de junho.


Título Original:
 Été 85

Direção:
 François Ozon

Duração:
 90 minutos

Elenco:
 Félix Lefebvre, Benjamin Voisin, Philippine Velge, Valeria Bruni Tedeschi, Melvil Poupaud, Isabelle Nanty, Aurore Broutin, Yoann Zimmer, Bruno Lochet, entre outros.

Sinopse:
 Verão de 85 se passa em um verão da década de 80. No aniversário de 16 anos, Alexis (Félix Lefebvre), enquanto está no mar da costa da Normandia, é heroicamente salvo da morte por David (Benjamin Voisin), de 18 anos. Alexis acaba de conhecer o amigo dos seus sonhos, mas será que esse sonho vai durar mais que um verão?

Trailer:

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