Crítica: Dente por Dente (2020, de Júlio Taubkin e Pedro Arantes)

Olho por olho, dente por dente. A expressão secular remete ao ato de aplicar, na mesma proporção e grandeza, o sofrimento proferido a quem o proferiu. Chamada também de lei de talião ou retaliação, o pagamento da sentença cria ainda o fluxo circular e ininterrupto da vingança.  

No cinema, a premissa é bem trabalhada a partir dos filmes noir das décadas de 1940 e 1950, sem cessar em representações até o dia de hoje. No entanto, não é uma fórmula de sucesso. Dente por Dente apresenta a premissa mal trabalhada, com impasses na montagem e uma narrativa confusa. 

 

O filme é protagonizado por Juliano Cazarré, que interpreta o sócio menor de uma empresa de serviços de segurança Ademar. O desaparecimento de seu parceiro de trabalho, Teixeira, instiga Ademar a investigar as razões pelas quais o fato pode ter acontecido. O filme policial, então, desvela uma trama maior: o sumiço de Teixeira expõe seu envolvimento em um esquema criminoso que impele a participação de Ademar. O rico elenco conta com Paola Oliveira e Renata Sorrah, que faz uma breve participação.

 

A trama se passa na cidade de São Paulo e tem uma interessante narrativa de fundo. A empresa de serviços de segurança presta trabalho para uma construtora que empreende alguns de seus edifícios em um terreno desapropriado, uma vez pertencente à uma ocupação por direito à moradia. Alguns dos takes, inclusive, foram realizados nas ocupações do centro da cidade, onde a luta por moradia popular se faz presente. O tema das ocupações também está presente no ótimo Era o Hotel Cambridge, de Eliane Caffé. 

 

Juliano Cazarré constrói um personagem que beira a exaustão. Há um trabalho faltante no conflito interno do segurança. O personagem é responsável pela construção da narrativa que se divide em imagens oníricas – provenientes dos sonhos de Ademar – e do mundo real. 



Nas cenas em que Ademar (Juliano Cazarré) sonha, há uma má repetição de padrões. Os sonhos parecem premeditar acontecimentos da trama em uma abordagem realizada a partir de efeitos experimentais e, talvez, rudimentares. Há um excesso incômodo nas imagens dos sonhos que se manifesta na sonoridade, nas escolhas de câmera e nas falas truncadas dos personagens, com pouca prosódia e naturalidade. 

 

Dente por Dente é um filme curto com uma narrativa balançada que beira o desgaste. Se por um lado, a obra dialoga com a luta por moradia, o próprio movimento social é representado com artificialidade e clichê. Cazarré é um ótimo ator que, em algumas cenas, consegue driblar os impasses como a falta de originalidade e fluidez. 



Título Original: Dente por Dente

Direção: Júlio Taubkin e Pedro Arantes

Duração: 85 minutos

Elenco: Juliano Cazarré, Paolla Oliveira, Paulo Tiefenthaler
 
Sinopse: Em Dente por Dente, Ademar (Juliano Cazarré), dono de uma empresa de segurança que presta serviços para uma construtora em São Paulo, começa a investigar o desaparecimento de seu sócio, Texeira (Paulo Tiefenthaler). Junto da esposa do amigo (Paolla Oliveira), ele descobre que Texeira estava envolvido em um grande esquema criminoso, complicando a situação de todos.

Trailer



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