Gal Gadot levanta voo em Mulher-Maravilha 1984 (2020, de Patty Jenkins)

Mulher-Maravilha 1984 foi um dos aguardados longas de 2020 afetados pela pandemia, já que saiu apenas em poucos cinemas ainda abertos pelo mundo. Seu alcance maior se deu no dia de Natal, quando a Warner e a DC lançaram a superprodução na nova plataforma de streaming da produtora, ainda inédita no Brasil, a HBO Max, que reúne todo acervo dos grupos Warner, HBO, etc. Desde então, apesar de popular, o longa vem dividindo muito as opiniões. Confesso que ando cansado de filmes de heróis e superproduções com excesso de computação gráfica. Também não havia gostado tanto dos trailer desse WW84, o que fez com que minhas expectativas estivessem baixas. Isso foi bom, pois curti o que vi.

A nova aventura da guerreira amazona ainda traz aqueles clichês típicos das superproduções em boa parte da obra, assim como um exagero no CGI (computação) em determinadas cenas, cuja renderização por vezes artificializa a produção. Porém, há pequenos detalhes, pequenos respiros nas 2 horas e meia de produção. Pequenos feixes de luz.

Primeiramente, Gal Gadot está cada vez mais à vontade na pele da heroína, que mesmo pecando em carga dramática, entrega carisma e energia no papel. Chris Pine pouco faz, embora também carismático, seu retorno é bem inusitado e ele rende uma bela sequência de voo junto de Diana. Os destaques vão mesmo para os vilões, bem elaborados na medida do possível. A divertida Kristen Wiig entrega uma vilã emocionalmente frágil, que tem um bom desenvolvimento inicial, mas onde o roteiro acaba falhando no final, reduzindo demais sua personagem. A jornada dela lembra bastante a Mulher-Gato da Michelle Pfeiffer em Batman – O Retorno de 1992. O chileno Pedro Pascal é quem tem o melhor personagem, ambíguo, é um show em cena do começo ao fim. O ator vindo de Narcos e Game of Thrones está em alta, sendo a grande estrela protagonista de The Mandalorian, maravilhosa série do universo Star Wars

É interessante que aqui os vilões não são apenas arquétipos, já que o verdadeiro vilão da obra são os desejos humanos, nossas ambições, invejas, desejos pelo poder, juventude, força e até mesmo o desejo pelo amor. Há uma singular e sutil crítica ao frágil e afetado sistema capitalista, que vende coisas que não podemos pagar – aliás, o preço a se pagar é caro demais. E quando essa falta de condições para alcançarmos o “sonho americano” se generaliza, ou pior, se pessoas específicas alcançam esses sonhos de forma inescrupulosa, o caos reina. Assim sendo, mesmo que falte profundidade, o roteiro ambiciona passar uma mensagem um tanto complexa, algo interessante para um filme de super-herói que realmente poderia ser mais genérico. 

O figurino da obra é lindo, assim como a direção de arte eficiente ao retratar os lendários e coloridos anos 80, cuja vibe é bem vívida na sequência do shopping. A trilha sonora auxilia tanto nos hits quanto nas melodias épicas brilhantemente orquestradas pelo grande maestro e compositor Hans Zimmer. O primeiro ato apresenta uma introdução épica, de encher os olhos e que aguça a vontade de ver um filme inteirinho focado nas amazonas. 

Se por um lado o final não dá muita importância à Mulher-Leopardo e traz menos lutas do que o esperado, também me surpreendeu a mensagem oportuna de redenção que a obra traz. O ano de 2020 foi terrível para todos não somente pela pandemia, mas por ficar evidente cada vez mais o quanto o mundo caminha para um resultado desastroso enquanto governos, empresas e indivíduos focam no pessoal, no egoísmo e na sua própria vontade acima do bem maior, bem esse que exige sacrifícios. Em tempos de crises inéditas e outras já antigas, pessoas se recusando a usar máscara e outros egoísmos, é interessante ver que Mulher-Maravilha 1984 traz uma mensagem altruísta, de redenção e de abdicação dos próprios interesses. Talvez eu esteja emocional demais, mas o filme funcionou comigo. 

Pelas características aqui citadas, a nova empreitada da DC não é perfeita, nem reinventa a roda, mas é competente. E ao longo do seu desenvolvimento, traz pequenos momentos de luz, amor e força que somente as mulheres são capazes de trazer ao mundo. Só mesmo uma mulher super-heroína para salvar o fatídico 2020, que já foi tarde e descansa em paz. 

Título Original: Wonder Woman 1984

Direção: Patty Jenkins

Duração: 151 minutos

Elenco: Gal Gadot, Chris Pine, Kristen Wiig, Pedro Pascal, Robin Wright, Connie Nielsen, Lilly Aspell, Natasha Rothwell, Amr Waked

Sinopse: Em 1984, Diana Prince entra em conflito com dois inimigos formidáveis — Maxwell Lord e a Mulher-Leopardo — enquanto reencontra misteriosamente com seu antigo interesse amoroso Steve Trevor.

Trailer:


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