Em cartaz em alguns cinemas selecionados que estão abertos e com distanciamento limitado devido à pandemia Covid, Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa é um drama alemão sobre a Pré-Segunda Guerra Mundial. Tivemos acesso de cabine de imprensa à essa emocionante obra, que traz a jornada de uma família judia bem-sucedida na Alemanha, mas que tem que fugir para outros países quando ocorre a terrível ascensão nazista e de Hitler. A partir daí, vemos a jornada pela ótica da menina Anna, de apenas 9 anos e que começa a enxergar como o mundo é, e o quanto a vida exige escolhas. Uma das escolhas, inclusive, relaciona-se com o engenhoso título da obra.
Escolhas, uma questão pontual na obra. A família levava uma boa vida na Alemanha, mas devido aos textos jornalísticos incisivos do pai contra Hitler, a vida deles corre perigo, e a partir daí, eles viram refugiados e passam por diversos países, tentando se adaptar a costumes e se sustentar. O filme, embora baseado em um período já muito debatido no cinema, traz algumas questões pouco vistas, como a vida daqueles que até escaparam do nazismo, mas que precisam se adaptar e sobreviver sob novas realidades. O nazismo e a guerra afetaram de formas inimagináveis a vida de milhares de famílias e aqui temos um exemplo disso.
Apesar de passagens emocionantes, ao mesmo tempo a obra tem uma abordagem leve e esperançosa, o que torna a experiência mais sutil e positiva. Embora a direção seja no geral formulaica, padronizada, o bom roteiro traz situações do cotidiano de forma humana e verossímil. Fotografia e direção de arte são condizentes com a época e aproveitam as paisagens de cada país por onde nossos protagonistas passam.
A jovem Riva Krymalowski entrega uma boa performance como Anna, assim como Oliver Masucci entrega um pai com camadas, sonhador, persistente, por vezes teimoso. Mas é a mãe, sob o talento de Carla Juri, que tem o melhor desempenho, servindo como o ponto de equilíbrio entre agir para sobreviver, mas também em manter o amor e a união na família.
Quando paramos para estudar, lembrar e pensar na ascensão nazista na Alemanha, a manipulação de massas e o estrago que isso causou, não há como não associar na ascensão de governos conservadores fascistas da América recente, como o terrível governo nacional em que vivemos, onde discursos de ódio e patriotismo se misturam, com leves e breves “censuras” na arte, livros de história, cultura e educação, perseguições essas disfarçadas de “cortes” e “reestruturação”. É assustador o quanto poderes supremacistas podem ganhar força com a aprovação de parte do povo e o quanto isso afeta a vida de famílias e indivíduos que não se encaixam naquele padrão conservador. Fica aqui a palavra de cautela para aprendermos com a história e a arte, para que tais perigos não ganhem força novamente, mesmo que de forma sutil.
Quando Hitler Roubou o Coelho Cor-de-Rosa é um filme que poderia ser mais impactante, mas por questões de escolhas narrativas, até para ser mais fiel à vida real, toma um caminho mais simples, o que na verdade não é ruim. Simples e belo, a obra merece ser vista na tela grande ou em aluguel digital.
Título Original: Als Hitler Das Rosa Kaninchen Stahl
Direção: Caroline Link
Duração: 119 minutos
Elenco: Carla Juri, Jusutus von Donahnyi, Oliver Masucci, Ursula Werner
Sinopse: Neste drama familiar, sensível e emocionante, uma garota judia-alemã dá seus primeiros passos na vida adulta, à medida que os eventos mundiais se intrometem em sua rotina feliz e despreocupada. Aos 9 anos, Anna está muito ocupada com os trabalhos escolares e com os amigos para notar o rosto de Hitler nos cartazes estampados na Berlim de 1933. Quando seu pai desaparece e a família sai secretamente da Alemanha, a menina começa a entender que a vida nunca mais será a mesma. O que se segue é uma aventura corajosa, cheia de medo e incerteza. O filme é uma adaptação do romance infantil semiautobiográfico de Judith Kerr (1923-2019). A direção é da cineasta Caroline Link, vencedora do Oscar.
Trailer:
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