O Francês (2019, de Andrei Smirnov) – 1º Festival de Cinema Russo

Assistido previamente em cabine de imprensa, trazemos hoje a crítica de O Francês, filme que está em cartaz no Festival de Cinema Russo, online e que ficará disponível de forma gratuita até 30 de Dezembro.

Em belíssima fotografia em preto e branco, O Francês é um drama russo que por vezes flerta com a nouvelle vague francesa. Não por coincidência, o personagem central é um jovem estudante de origem russa, criado na França, que vai até Moscou em busca de seu pai e suas origens. Lá, aprende com a vivência e os conflitos do povo soviético. Com ritmo inicialmente lento, o filme apresenta um caráter político crítico, questionando muita coisa no seu país. Mas não estamos falando aqui de uma obra americana que vilaniza o comunismo e seus preceitos. Estamos falando de uma obra local que questiona e critica muitas coisas de seu próprio país, seja fatos históricos, à questões envolvendo pós-guerra mundial, Guerra Fria, KGB, censura e outras coisas, tudo do ponto de vista do povo, de pessoas simples, de famílias e como tais acontecimentos em um país turbulento às afetaram. 

As atuações são competentes, Anton Rival entrega um bom protagonista, embora retraído dramaticamente em algumas cenas que pediam mais entrega, mas essa foi uma decisão poética e artística de roteiro  e direção, por seguir esse caminho mais indireto e frio. A coadjuvante Evguenya Obraztsova é que acaba entregando a personagem mais interessante. Belíssima, inteligente, livre (à frente de seu tempo) e enigmática, a personagem da atriz e bailarina na vida real brilha nas cenas em que aparece. 

O esquema de direção e edição à moda antiga remete aos dramas franceses das décadas de 50 e 60, assim como a belíssima direção de arte e figurinos, mas as discussões políticas que a obra busca refletir de certa forma são atuais e levam a pensarmos em como situações mundiais e locais afetam a vida de muitos. O polêmico cineasta Andrei Smirnov, que havia dirigido filmes décadas atrás (anos 70 e 80), retorna de sua aposentadoria no que diz ser seu último filme. Sempre mau visto por lançar nas suas obras discussões sobre seu próprio país, mais uma vez faz isso aqui, dividindo a crítica no país. Me aprofundar nessas questões foge dos meus conhecimentos, mas a obra em si é válida e bem executada. 

Título Original: A Frenchman