A Equipe Comenta: The Boys – Segunda Temporada (2020, de Eric Kripke)

 

Com o inegável sucesso da segunda temporada de The Boys, série original do Prime Video, serviço de streaming da Amazon, é claro que nós da equipe do Minha Visão do Cinema não deixaríamos passar a oportunidade de dizer algumas impressões e opiniões sobre as peripécias dos meninos contra os super-heróis mais odiados da TV.


Igor Motta comenta:

A segunda temporada de
The Boys teve seus altos e baixos. Na missão de dar continuidade à primeira
temporada, que fora um sucesso de público e crítica, a segunda parece trazer
elementos novos para alegrar e conquistar o mesmo e novos públicos.

Que fique claro que essa
temporada foi, de certa forma, uma boa temporada. Recebeu elogios tanto de crítica,
tanto de público; aumentando o alcance da produção para pessoas que ainda não a
conheciam, como também proporcionando fama ao elenco que cada dia mais parece
feliz em viver e atuar na série.

Mas, infelizmente, a
segunda temporada é inferior a primeira em vários pontos. Essa temporada atual
não possui o mesmo planejamento de roteiro da antecessora, retomando e
deixando de lado alguns arcos muito interessantes. Dá a impressão de que há
muito conteúdo a ser trabalhado, e que 8 episódios não mais estão sendo o
suficiente para atender a demanda de tela que a narrativa exige; isso causa uma
simplificação de personagens, e abandono de parcelas da história. Não foi em
apenas um momento em que senti uma certa “pressa” em desenvolve as coisas, como
a prematura morte de um certo personagem que, com um episódio de apresentação
já conquistara o público, já estava morto no seguinte.

Ainda, a presença de
alguns personagens em certas cenas é um tanto injustificadas. Maeve é uma
agente ex machina encarnada em praticamente todos os seus momentos na season
finale, estragando um pouco todo o clímax da situação para uma solução de
perigo eminente. Como também, os poderes dos supers parecem aumentar e diminuir
de acordo com a necessidade da cena, de acordo com o roteiro, exemplo no
momento em que Black Noir deixa ser visto no telhado de uma casa por Butcher,
em plena luz do dia, enquanto em episódios anteriores o mesmo personagem se
infiltra numa fase estrangeira e mata todos ali sem qualquer tipo de barulho. The
Boys
parece manter a estrutura e vibe da temporada anterior, mas começa a dar
seus primeiros, e não tão sutis, sinais de desequilíbrio.

Acho que, talvez, o
grande problema da questão seja muito simples: The Boys parece passar, aos poucos,
de uma série completamente irônica, que utiliza dessa ironia para ser crítica,
à uma série crítica que tenta alcançar a ironia. Não há problema nessa mudança,
desde que a essa seja planeja, não acidental, pois do contrário, a própria
crítica se perde por justamente não ter um caminho delineado; causando certos
equívocos de interpretação de certas parcelas de espectadores que ainda
insistem em dizer que nazismo é de esquerda, colocando, assim, Stormfront como
uma personagem centrada em um debate errôneo no espectro político. 

Toda a questão de uma vilã nazista que se disfarça
com discursos progressistas para comprar a empatia dos personagens e público é
perdida pela certa falta de delineamento da ironia; ou ainda, da cena em que
Stormfront é espancada por Maeve, Kimiko e Starlight, que era para ser uma
chacota de uma cena específica de Vingadores: Ultimato e acabou por gerar uma
comoção mais elevada do que a simples sátira (mas convenhamos, eu entendo o lado prazeroso de ver um
nazista recendo o tratamento correto que todo nazista merece, um saquinho de lixo recebendo pancadas na lata de lixo da história).

Por fim, The Boys ainda é
uma série divertida, sendo seu sucesso completamente justificado e entendível,
mas que já apresenta falhas e escorregos. São pontos não tão pequenos, deixando
seu futuro não lá muito otimista, mesmo com toda a fama adquirida.

Nota: 7,5

Leo Costa comenta:

De modo geral, mesmo
achando que a segunda temporada foi levemente inferior à primeira, talvez por
não ter “aquele” impacto de novidade, ainda assim, entregou um grande
show, com alguns momentos parados contrastando com momentos realmente explosivos
e críticos. The Boys entrega cutucadas e críticas sociais e políticas atuais e
necessárias. A ousadia no grau de violência e piadas politicamente incorretas
estão no ponto, assim como as atuações, especialmente os vilões. Antony Starr e
Aya Cash são magníficos em cena. Destaque para Starr no derradeiro episódio
final. The Boys continua desconstruindo a imagem dos super-heróis da cultura
POP e dos “mitos” hipócritas do mundo real. Aaaaah, e é tão bom ver a
mulherada descendo a porrada em alguém nazista <3.

Nota: 8

Natália Vieira comenta:

Imagine se o Batman
estivesse certo. The Boys vem sarcasticamente com todos os problemas da
sociedade, em que os grandes vilões são, justamente, aqueles que deveriam proteger
e ser moralmente intocáveis. Chega a ser chocante o primeiro episódio da
primeira temporada quando caímos, literalmente, na real quando percebemos que
tudo não passa de encenação. 

Poucos são aqueles que
tem coragem de ir contra a maré e mesmo estando com a faca e o queijo na mão, algo dá errado. A segunda temporada foi um tapa na cara de muita gente. Tivemos
um pouco tudo. Como funciona fake news, manipulação de massas, racismo, nazismo
e por aí vai.

A série foi –
literalmente – de explodir a mente.

Nota: 10

Ulisses Forattini comenta:

Eu gosto dessa série, não
considero obra-prima, nem acho muito nova em relação a outras de super-herói e
de fantasia. Pelo contrário: é estruturada em demasia como Demolidor, Luke
Cage
e Jessica Jones. Os streamings exigem roteiros que passam por minutagens
pontuais para gerar engajamento, então os produtores de conteúdo devem dar isso
em troca aos seus patrocinadores. É divertida e mostra cenas repulsivas com
bastante liberdade, e possui seus comentários para o hoje. A revolta contra o
super-herói serve como resposta à manobra Marvel e DC, que preenchem os cinemas
todos os anos. O sistema é foda, o filme é sensacional porque é a Mulher-Maravilha, Ultimato é o final do MCU mas vai ter Vingadores pelos anos de 2021,
2022, 2023, 2024, e por aí vai.

Mas acho muito engraçado que o
universo do The Boys parece muito com o nosso: gosto de imaginar que The Boys é
um making of das altas produções de Vingadores. É muito like, muita curtida,
muitas lives, muito fan service, muito tweet, é muito mais segurar as hastes das
bandeiras do que abraçá-las. Uma semana passa, as pessoas deixam de se ligar e o
ciclo se repete. Trabalhar para viver, que é nossa conexão obsessiva pela arte
do entretenimento, aí somos anestesiados e nada muda. Se os super-heróis possuem
poder, é porque consumimos eles, e o que seriam eles senão criações nossas? Além
disso: dada a onipresença, seriam eles nós mesmos?

Como explorado a partir do
segundo episódio, Vought só pensa em dinheiro, comanda um escândalo de corrupção
bilionário, esconde experimentos sinistro se é o símbolo da globalização como a
Amazon. Mas se apoia o feminismo e a diversidade, é máquina progressista, então é
pop, vendendo também programas progressistas, pensando no futuro das crianças.
E a corporação vira paz e amor de novo.

Lembro-me dessa sensação de
surpresa na segunda temporada de Stranger Things. Foi falada por Murray Bauman,
o jornalista louco. Segundo ele, para atacar esse governo, as cortinas não devem
ser abertas, senão a indignação do público vai embora; a cortina deve ser
aberta aos poucos. Me estranha que a terceira temporada dessa série escolheu uma
guinada reacionária, teor quase explicitado pelo mesmo personagem. Pelo que
exclama aos berros, nos dá a entender que consumir não apenas é a característica
do lado do bem (o lado dos EUA durante a Guerra Fria). Se só consumimos, não
devemos questionar esse modo de vida, mas devemos relaxar como passear num
shopping para consumirmos roupas de grife, doces com alto teor de açúcar,
sorvetes e brinquedos. Como finaliza o jornalista, não há coisa diferente que a
humanidade faz, já que somos condicionados a isso, deveríamos celebrar. Ideias
essas que relevam o ponto de vista da série.

Mesmo assim, The Boys é uma série
feijão com arroz. A mirabolância é menos pelas suas capacidades de encenação e que
seu roteiro hiper conectado, dado aos excessos de acontecimentos. Algumas cenas
desconectadas especificamente da história são muito curiosas, e digo que valem
mais que a história em si. O Cross Cutting acontece em todos os episódios e
corta os climas em vários momentos, como na sequência do hospício. Poderia ser a
maior perseguição da série, em que os invasores estavam com poucos recursos e
estavam prestes a enfrentar uma série de supers, senão fosse essa obsessão
em explicar o que estava acontecendo em outro lugar.

Não acho, também, que a série
explora temas mais profundos além da visibilidade e poder dos super-ídolos. Acho
que as consequências dos super-heróis, tanto as celebridades quanto as
marginalizadas, deveriam receber mais atenção, como no caso da misteriosa
Liberty ou do Lamplighter, ou como são os super-heróis na metade do século
passado. Os ganchos dos diferentes componentes da história são
direcionados unicamente para sua catálise. Esse vício em catálise das séries
atuais me dá saudades de Sopranos, Mad Men ou Breaking Bad.

Pelo menos The Boys segue
honestamente sobre como é a real dos super-heróis. De tão perversos, de tão
naturalistas (à la Aloísio Azevedo), os super-heróis são as versões exageradas
e pioradas dos governantes e dos influencers. Não o perigo da euforia de
acreditar em algo que diz seu protetor mesmo sendo sujo, mas o perigo em saber que o
protetor é assassino, asqueroso, pervertido, sádico e que vai destruir tudo e,
ao mesmo tempo, não ligar para isso e continuar a acreditando nesse nazismo. O
ápice dessa crença chega a seu clímax no último episódio da segunda temporada, o
melhor da série.


Nota: 7,5

 
Média da Equipe:

 

Título Original: The Boys




Direção:
Eric Kripke


Episódios: 8


Duração: 55 minutos


Elenco: Erin Moriarty, Jack Quai, Karen Fukuhara, Karl Urban, Dominique McElligott, Laz Alonso e Antony Starr.


Sinopse: Caçados pelos Supers e tentando se ajustar à nova vida de foragidos da justiça, os rapazes precisam reunir forças para combater Vought antes que a empresa por completo na paranoia da nação quando uma nova ameaça bate na porta, mais forte e sorrateira do que tudo o que já enfrentaram.
 
Trailer: 

E você, o que achou de The Boys? 

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