Crítica: A Maldição da Residência Hill (2018, de Mike Flanagan)


Antecipando o lançamento de A Maldição da Mansão Bly nas próximas semanas, o Minha Visão do Cinema preparou essa crítica de A Maldição da Residência Hill. Após o sucesso da primeira temporada, Mike Flanagan, criador da série, decidiu continuá-la em formato antológico, adaptando o livro A Volta do Parafuso, de James Henry, na segunda temporada. 

Lançada em 2018, A Maldição da Residência Hill conta a história da família Crain, que no passado presenciou horrores inimagináveis enquanto preparavam uma mansão para revenda. No presente, a família está fraturada e dividida entre vários relacionamentos difíceis, em grande parte pela relutância do pai da família, Hugh Crain, em explicar as circunstâncias da morte de sua esposa e mãe das crianças, Olivia Crain, motivo pelo qual eles abandonaram a mansão no passado. Centrando a história ao redor do estado psicológico dos personagens e das frágeis relações familiares entre eles, o diretor Mike Flanagan combina suas próprias ideias com as convenções do subgênero de “mansão assombrada”, construindo uma trama de terror tão assustadora quanto emocionalmente impactante.

A série é estruturada de maneira que os episódios alternam entre flashbacks e o presente, costurando e recontextualizando diversos momentos conforme a história avança. O cuidado de Flanagan em rechear cada episódio com detalhes possibilita que haja um senso de descoberta de um episódio para outro, mesmo que pequeno, o que é um contraponto ótimo para a apresentação inicialmente mais lenta dos pontos principais da trama. Além disso, os episódios variam bastante em termos de tempo gasto no presente e no passado, sempre funcionando de acordo com a narrativa maior e com as várias reviravoltas ao longo do caminho. O fato de cada episódio (com algumas exceções) ser focado em um personagem e em sua relação com a família e os eventos da mansão no passado possibilita que a história mantenha um ritmo dinâmico, criando associações entre o desenvolvimento da versão adulta e infantil de cada personagem. 

O elenco então torna concreto o trabalho cuidadoso iniciado no roteiro, conferindo a cada membro da família Crain uma fisicalidade distinta. O trabalho de Kate Siegel e Elizabeth Reaser como as irmãs Shirley e Theo, por exemplo, diferencia duas personagens cuja dificuldade de se relacionar com outras pessoas parece similar, mas que se manifesta de maneiras diferentes na interpretação de cada uma delas, enquanto Oliver Jackson-Cohen e Michiel Huisman conseguem criar nos personagens Luke e Steven retratos de personalidades problemáticas e ao mesmo tempo merecedoras de alguma empatia. Finalmente, Victoria Pedretti, que interpreta Nellie, aparece um pouco menos que os outros irmãos Crain, mas é responsável por alguns dos momentos mais trágicos e emocionais da história inteira. 

No sexto episódio da temporada, Two Storms, os personagens se reúnem em um funeral. Até então, a maioria deles estava distante um do outro, em áreas diferentes do país, e é evidente a forma como suas relações estão fragilizadas. Flanagan ressalta isso utilizando uma série de tomadas longas e conectando o espaço da casa funerária com o cenário da Mansão Hill no passado, ligando assim o presente e o passado de uma maneira fluida e, até então, inédita na série. Para além dos aspectos técnicos desse episódio, acredito que seja particularmente interessante como essa passagem quase instantânea de um espaço para outro tem uma importância narrativa grande, sugerindo o funeral e suas circunstâncias como o momento a partir do qual nenhum dos irmãos Crain pode mais escapar da atração e da tragédia da Mansão Hill. 

Nem tudo, entretanto, funciona tão bem, mas a maioria dos problemas são consertados de uma forma ou outra ao longo da temporada. Embora os dois primeiros episódios introduzam personagens e eventos importantes no contexto da história como um todo, eles podem parecer um pouco “arrastados” demais em uma primeira experiência, e o fato de o roteiro incluir ao menos um monólogo longo e dramático em cada episódio não ajuda com isso. O sentimentalismo da série, especialmente no final, pode ser um pouco demais também, mas todos esses fatores são elementos que estão alinhados com a direção temática que a série decide seguir. Chega a ser curioso assistir uma grande produção sobre uma mansão assombrada cujo clímax não envolva paredes que tremem e um conflito bombástico entre bem e mal. Pelo contrário, o último episódio passa boa parte de sua duração em delírios dos personagens, manifestações de seus piores pesadelos e momentos dos quais mais se envergonham, o que faz sentido quando consideramos que são esses os elementos que a série realmente se propõe a tratar, no fim das contas. 

A Maldição da Residência Hill é mais um exemplo da dedicação e capacidade de Mike Flanagan em trabalhar bem com o horror. Ao fim da temporada, a sensação é a mesma de ler um bom livro de mistério e de querer passar mais tempo com seus personagens. Mesmo que a decisão sensível de manter um formato antológico tenha sido tomada, irei sentir saudade de acompanhar as vidas de Shirley, Theo, Luke, Steve e dos ocasionais fantasmas no fundo dos cenários, e espero que a mesma consistência e qualidade sejam atingidos em A Maldição da Mansão Bly.


Título Original: The Haunting of Hill House

Direção: Mike Flanagan

Duração: 572 minutos

Elenco: Carla Gugino, Henry Thomas, Michiel Huisman, Elizabeth Reaser, Kate Siegel, Oliver Jackson-Cohen, Victoria Pedretti, Timothy Hutton

Sinopse: Cinco irmãos precisam confrontar uma tragédia em seu passado, relacionada com a casa assombrada onde moraram.

Trailer:

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