Cordisburgo é uma pequena cidade no interior de Minas Gerais. A cidade, talvez, passaria incólume na arte e narrativa brasileira se não fosse pelo seu habitante mais ilustre: João Guimarães Rosa.
O autor de Grande Sertão Veredas e Sagarana nos apresentou um outro Brasil: um sertão mineiro, despido de estigmas, em que a beleza e encanto sugerem o olhar inocente, humilde e grandioso. Em uma outra obra, também célebre, o escritor conta a história de Miguilim, menino que recria o mundo com a magia da infância.
Em 4 bilhões de infinitos, o diretor Marco Antônio Pereira capta a imagética roseana no Miguilim de nossos tempos. Adalberto vive com sua mãe e irmã em uma casa simples, sem energia elétrica, e lida com os sonhos com ilusão e vontade. O filme tem um lindo color grading, captando a melancolia dos personagens a partir dos tons de azul.
A propósito, há tanta veracidade nos personagens que, por vezes, a própria fala de Adalberto se embola, como é comum nas crianças que se empolgam no universo que fantasiam. A obra é, certamente, um filme de afeto que retrata a humildade sem reduzi-la ou encaixa-la na mera estética da dor.
Lirismo, metáfora e locação se aliam à autenticidade dos personagens que parecem definir com precisão onde começa a família e termina o roteiro. 4 bilhões de infinitos é o número dos sonhos dos irmãos do curta que integra a programação oficial do Festival de Cinema de Gramado 2020.
Duração: 15 min.