Crítica: Península (2020, de Sang-ho Yeon)

Península é um filme sul-coreano de zumbis, a continuação espiritual do elogiado Train to Busan e também da animação Seoul Station, todos os três dirigidos e co-escritos por Sang-ho Yeon. Muito aguardado e infelizmente adiado nos cinemas por conta da COVID-19, o longa só recentemente ganhou sua tão sonhada estreia. Porém, sinto em dizer, as expectativas não são nem de perto o que o filme entrega.

Vale ressaltar, antes de tudo, que o filme NÃO é uma continuação direta de Train to Busan. Por mais que se passe no mesmo espaço, inclusive a catástrofe do campo de refugiados em Busan é até citada logo no início de Península, não temos nenhuma informação ou menção dos personagens anteriores ou mesmo qual fora o destino deles. O que os filmes possuem em comum é a premissa de como os zumbis surgiram e como a Coréia do Sul enfrentou, sem sucesso, a epidemia. Ou seja, uma série antológica que se passa no mesmo universo.



Porém, só de existir a necessidade de apontar tal não-continuação do longa já entro em um dos problemas principais de Península: a comparação com seu antecessor que é inegavelmente melhor. Train to Busan carrega em si uma inovação de um gênero já desgastado, brincando com a sensação de claustrofobia dentro de um trem com cada vez menos espaço para os ainda não-infectados; e chances mínimas de escapar dos cenários dominados por zumbis. O que quero dizer é que anunciar sequer que seria um filme relacionado com Train to Busan fora um gerador de expectativas muito grande já que, afinal, o tal filme ganhara renome dentro do gênero. Península não consegue alcançar nenhuma das qualidades anteriormente citadas.

Temos um filme que custou 16 milhões de dólares (quase o dobro de orçamento de seu antecessor que custara 8,5 milhões), que aposta muito em CGI para caracterizar e preencher uma Seoul devastada pelos zumbis e a queda da civilização, mas nada disso funciona. O CGI é ruim, muito ruim, mas ainda é algo que, se isolado de um todo bom, ficaria não somente relevável como até entendível, já que poderíamos cogitar a ideia de que quiseram financiar outros pontos da produção. Mas não é o caso, já que o todo cai em problemáticas parecidas e também, infelizmente, na mesma qualidade incipiente. O ponto mais baixo é a fuga de uma personagem adolescente que, ao dirigir um carro com maior habilidade que Toretto, deixa a cena mais parecendo uma propaganda da mais nova 4×4 da Ford do que qualquer outra coisa.



Já as cenas que são mais efeitos práticos, também são ruins. Uma delas em específico, em que os personagens estão procurando um caminhão pelas ruas congestionadas, podemos perceber, nitidamente, que estamos dentro de uma cena montada em estúdio. Não somente a cena sem horizonte fica tosca, cortando toda a mágica de imaginar a capital destruída e tomada por zumbis, pois apostaram que apenas os CGI’s aéreos seriam o suficiente para caracterizar o cenário; como fica perceptível em que momentos estão utilizando luzes de holofote para iluminar as filmagens. Não sei em quê exatamente o dobro de orçamento fora gasto, mas parece que não fora distribuído corretamente.

O que caminha para o ponto fatídico do filme: a história é ruim. É uma tentativa pífia de trazer o universo zumbinesco para uma temática pós-apocalíptica, deixando não somente os zumbis em segundo plano, mas trazendo os humanos em um estado de barbárie. Qual o problema disso? Já vimos esse tipo de enredo em outros vários, sendo grande parte deles grandes produções da atualidade. A grande sacada de todo o sucesso de Train to Busan fora a revitalização de um gênero desgastado pela massificação de clichês e sub-enredos sem aprofundamento, e Península cai exatamente nisso, sendo uma mistura desconexa de outros filmes em que pessoas lutam violentamente entre si em um mundo já desolado. O filme fica na dúvida entre mirar em seu antecessor, Mad Max ou Fuga de Los Angeles, mas acaba acertando o vazio entre eles.



O que parecia ser mais interessante, sendo toda a questão geopolítica de como o mundo reagira à epidemia cercando fronteiras e abandonando os sul-coreanos sobreviventes à própria sorte, é apenas um detalhe que meramente complementa a justificativa de quatro sobreviventes se aventurarem dentro do território abandonado. Ou até mesmo a forma como pincelaram a relação da fronteira com a Coreia do Norte visto a cisão entre os dois países e o impedimento de sobreviventes escaparem dos zumbis através da única conexão com o continente, ponto esse que apenas serve como pretexto para o título do filme. Talvez a única coisa que levante a moral do filme é a performance dos atores que, em vista de todo o resto da produção, tentam entregar caracterizações críveis e mergulhar nas desconexas lógicas que o enredo tenta trazer.


Península é, infelizmente, um filme ruim. Quando comparado com seu antecessor é ruim, quando analisado separadamente é pior. É possível até teorizar alguma interferência do estúdio para que o filme tenha se transformado em algo mais vendível, com mais cara de franquia blockbuster, mas não passa apenas de uma teoria para tentar justificar o que, até então, é injustificável.



Título Original: 반도 (Peninsula)

Direção: Sang-ho Yeon

Duração: 116 minutos

Elenco: Dong-won Gang; Jyung-ryun Lee; Re Lee; Hae-hyo Kwon e Min-jae Kim. 

Sinopse: Quatro anos após os eventos que devastaram a Coreia do Sul, Peninsula retorna ao mesmo universo. Jun-seok é um ex-soldado que consegue escapar da Península para Hong Kong e, enquanto vive como refugiado, ignorado pelos habitantes locais, aceita uma oferta tentadora de um estrangeiro que o faz retornar à Península.

Trailer:
 

 

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