Crítica: O Clube das Babás – Primeira Temporada (2020, de Rachel Shukert e Lucia Aniello)

Todo mundo já teve um daqueles dias difíceis e não tão legais. É nessa ocasião que vasculhamos o catálogo de nosso streaming favorito procurando uma série leve e curtinha, que te faça relaxar e não pensar em absolutamente nada. Aquelas séries para aquecer o coração, sem grandes reviravoltas ou acontecimentos estressantes. 

Pois bem, foi assim que eu descobri essa série tão fofa e necessária. Enquanto passeava pelo catálogo da Netflix, vi o título que é tema desse texto e logo fui ler a sinopse: um grupo de meninas préadolescentes decide fundar seu próprio negócio, um clube de babás, na cidade em que moram. 

Decidi dar o play e imergir naquela história que iria me entreter por algumas horas, achando que seria mais uma daquelas séries água com açúcar que só serviriam para me fazer esquecer a realidade por alguns instantes, e que não traria grandes lições para a minha existência. 






Ledo engano! A série é muito mais do que só mais uma produção bobinha voltada para o público infanto-juvenil. O Clube das Babás trata de temas extremamente relevantes e com uma simplicidade e inocência encantadores. Tanto que logo que acabei de assistir, já vim logo escrever essa resenha que você está lendo, pois sinto que mais pessoas deveriam conhecer essa obra tão sensível e digna de reconhecimento.




A história


A produção da Netflix é baseada numa série de livros de mesmo nome, que fez e ainda faz muito sucesso, da autora Ann. N Martin que conta com 35 títulos (somente contando os que foram lançados em seu idioma original) tendo sido distribuída em mais de 20 países. 


O sucesso dos livros é tamanho que já rendeu uma série de TV de curta duração lançada em 1990 e um filme de 1995. Agora, surge na Netflix com uma roupagem mais moderna, mas ainda sendo bem fiel à história original e à proposta da autora de influenciar positivamente jovens adolescentes. 

A história se passa na fictícia cidade de Stoneybrooke, em Connecticut, onde um grupo de amigas pré-adolescentes resolve iniciar seu próprio negócio de babás. Tudo começa quando Kristy (Sophie Grace) percebe a dificuldade de sua mãe (interpretada por Alicia Silverstone) de encontrar uma babá disponível de última hora para que cuidar dela e de seus irmãos enquanto vai a um encontro com o novo namorado. É então que a menina percebe um nicho e resolve abrir seu próprio negócio junto de suas amigas.

Enquanto vemos a evolução do negócios de babás, a competição entre o grupo das personagens principais e outras babás um pouco mais velhas,  com lições de empreendorismo e protagonismo feminino; também acompanhamos os dramas familiares, a evolução da amizade das garotas e as lições de amadurecimento. A série trata de forma natural e com o uso de uma linguagem acessível para todas as idades, assuntos importantes e que dificilmente são explorados em séries voltadas para um público mais jovem.

A diversidade das protagonistas


Uma das principais reclamações que os espectadores levantam quando a Netflix resolve fazer uma série que retrata adolescentes é a escolha de atores muito mais velhos do que os personagens, além de uma adultização precoce. Em séries como Elite e Riverdale há muitos assuntos polêmicos como uso de drogas e consumo de álcool, cenas de sexo explícito, o que faz com que muitos pais de crianças e adolescentes proíbam os filhos de assistirem a esse tipo de conteúdo.

Aqui em O Clube das Babás, as protagonistas são interpretadas por atrizes realmente jovens com idades iguais ou bem próximas de suas personagens. Ainda, o foco é em temas muito mais saudáveis como a amizade, a relação com familiares, a responsabilidade e a lições sobre feminismo e empreendedorismo. O ponto alto da série é justamente a forma responsável com que esses assuntos são tratados e a representação de uma transição da infância para a adolescência de forma saudável para a idade. 

Ao contrário de outras grandes produções voltadas para o público, aqui o romance é tratado de forma bem secundária e com uma abordagem bem inocente e apropriada para a idade das meninas. 

A escolha das atrizes é outro ponto que merece ser aplaudido. Além da atuação excelente de cada uma delas, a diversidade étnica e cultural de cada uma; e a  escolha de demonstrar todos os tipos de família :  uma mãe solo e um pai ausente, um pai viúvo e conservador,  uma mãe divorciada e um pai que se assumiu homossexual, são elementos que fazem essa série ser tão diferente da grande massa das produções adolescentes da Netflix.

Bom, sem mais delongas, vamos à apresentação das personagens: 

  • Kristy Thomas (Sophie Grace): Kristy é um menina moleca, esportista,  e que está com dificuldade em aceitar o novo relacionamento da mãe (interpretada por Alicia Silverstone). É a fundadora do clube, um pouco mandona, o que a faz ter algumas desavenças com as amigas e até mesmo com a própria mãe. Ao longo da narrativa descobrimos que um dos motivos de ela ter um temperamento tão difícil é que seu pai abandonou a família de forma inesperada e irresponsável, então ela acaba querendo controlar tudo e todos por medo do abandono novamente. Sua personagem é uma das que mais evolui ao longo da temporada. 
  • Mary Anne (Malia Baker) – Ela é a “nerd” do grupo, filha de um pai viúvo e muito controlador, ela tenta lidar com a saudade da mãe e ao mesmo tempo, tenta ser compreensível e entender os motivos de seu pai ser tão protetor. É uma personagem muito madura para sua idade. Adora passar horas na biblioteca e tem uma grande paixão pelo teatro. Extremamente carinhosa e com um grande coração, é responsável por um dos momentos mais delicados e cuidadosamente retratados da série. 
  • Claudia Kishi (Momona Tamada) – Eu particularmente adorei essa personagem. Como tenho ascendência asiática, fico imensamente feliz de ver que em cada vez mais produções temos essa representação, com personagens bem desenvolvidos e sem o uso de estereótipos racistas. Claudia é uma garota muito popular, que era muito amiga das outras meninas nos anos anteriores, mas acabou se afastando de Kristy e Mary Anne por motivos que serão explicados no decorrer dos episódios. Ela é apaixonada por moda e tem um grande talento para arte. Sua relação com a avó é um dos pontos altos da série e rende um momento familiar muito emocionante que eu tenho que confessar que me tirou algumas lágrimas.
  • Stacey (Shay Rudolph) – Ela veio de Nova Iorque e se mudou recentemente para Stoneybrooke, tendo primeiro conhecido primeiro Claudia e só então se apresentou para as outras meninas. Logo nos primeiros episódios há um certo mistério sobre ela. Stacey é a mais romântica da turma e se apaixona pelo irmão de Kristy. É a única personagem que não tem seu núcleo familiar explorado com mais detalhes. 
  • Dawn (Xochitl Gomez) – Por último mas não menos importante temos a personagem Dawn. Ela demora alguns episódios para aparecer, mas nos primeiros minutos na telinha já se mostra com uma personalidade cativante. A atriz é latina e deu um depoimento dizendo ter ficado muito feliz com o papel pois no filme de 1995, Dawn era uma personagem branca e loira. Dawn é uma garota super decidida, feminista, e defensora de várias causas importantes. Tem uma inteligência emocional admirável, e mesmo no início quando Kristy mostra uma certa relutância em deixá-la se juntar ao clube, demonstra toda sua maturidade e consegue ajudar a amiga. Também é muito responsável ao fazer seu trabalho de babá, quando logo no início é posta à prova para cuidar de três crianças muito bagunceiras e uma mãe bastante atrapalhada. 

Porque vale a pena assistir


A série aborda temas complexos como racismo, luto, homossexualidade, e outros, de forma muito didática e adequada. É impressionante como os assuntos são inseridos no momento certo e de forma natural. Todos os episódios tem alguma lição importante e surpreendem até mesmo aqueles que se consideram desconstruídos. 

Aqui as famílias não são perfeitas como em um “comercial de margarina”, a série mostra que até mesmo os adultos não são perfeitos e estão sempre aprendendo, inclusive com as meninas. 

A maturidade das personagens mostra que apesar da pouca idade, elas são muito esclarecidas e tem empatia para com os demais. Um episódio que merece ser mencionado é quando Mary Anne é chamada para cuidar de Bailey, uma menina transexual. Durante o tempo em que está de babá, Mary Anne percebe que a garotinha está ardendo em febre e como nenhum adulto atende ao celular, ela chama o serviço de emergência e acompanha a criança até o hospital. Lá, os médicos insistem em chamar Bailey pelo pronome masculino, e Mary Anne mostra toda sua bravura e senso de justiça ao defender a menina e pedir que os médicos a tratem da forma adequada. Uma cena que diz muito sobre empatia e nos faz ter esperanças de que as novas gerações serão cada vez mais inclusivas e pregando o respeito às diferenças. 

O ponto de partida e fio condutor da série é justamente o empoderamento feminino, e a lição de que mulheres podem  e devem ser chefes, ter seu próprio negócio e sonhar alto. Ao contrário do que se poderia esperar, os pais das meninas dão apoio ao negócio delas, principalmente o namorado da mãe de Kristy que é o primeiro a contratá-las para cuidar de seus filhos.

 A série não foca em romance, até tem algum romance mas esse é apresentado como pequenas histórias paralelas. Aqui, o foco é no amadurecimento de cada uma, em mostrar como elas lidam às mais diferentes situações na escola, aos problemas familiares e sobre perseguir seus objetivos. 

A irmandade é louvável. Em nenhum momento vemos uma menina querendo diminuir a outra, mas  isso não quer dizer que elas sejam perfeitas. Quando erram e tem pequenas desavenças sabem reconhecer e pedir desculpas. Não há enfoque na competição feminina e sim em mostrar como juntas somos mais fortes. 

Ainda não se sabe se a série terá uma 2ª temporada. O último episódio tem sua conclusão, mas também deixa um gancho para uma próxima temporada. A série tem tido uma ótima aceitação do público e dos críticos até o momento. Eu particularmente, adoraria ver mais episódios sobre as aventuras do O Clube das Babás, pois a série realmente me cativou.





Título Original: The Baby-Sitters Club

Direção: Rachel Shukert, Lucia Aniello, entre outros. 

Episódios: 10

Duração: 22-27 minutos

Elenco: Sophie Grace, Momona Tamada, Shay Rudolph, Malia Baker, e Alicia Silverstone. 

Sinopse: Cinco melhores amigas adolescentes decidem criar sua própria agência de babás. Além de oferecerem muita diversão a seus clientes, elas precisam lidar com os desafios de administrar um empreendimento durante uma época tão conturbada da vida.


                                                 Trailer:




E você? Já assistiu essa série, o que achou? Conta aqui pra gente nos comentários. 



Deixe uma resposta