Crítica: Killing Eve – Terceira Temporada (2020, de Suzanne Heathcote)

Criada por Phoebe Waller-Bridge, Killing Eve estourou em 2018 trazendo mistério, humor ácido e um grau de cinismo que encantou a audiência da tv americana. Mais do que isso, a série trouxe para guiar sua narrativa, personagens mulheres fascinantes, na pele de um elenco memorável. A obra, no entanto, demonstrou ser, desde o início, de curta apreciação, pois sua fórmula e escopo narrativo não pareciam ser voláteis a ponto de se alongar por temporadas a fio. E talvez esse seja o motivo que faz o terceiro ano da saga de Eve e Villanelle ser o mais fraco até agora: desgaste.

Ao fim da segunda temporada, a trama encerrou-se com um clímax intenso e instigante, em um dos touchés mais impactantes dos últimos tempos. Villanelle (Jodie Comer), que havia sido esfaqueada por Eve (Sandra Oh) na season finale do primeiro ano, decide matar Eve de vez, numa reviravolta emocionante, o que nos deixou apreensivos sobre como o jogo de gato-e-rato se desenrolaria a partir de então. Mas, contrariando tais expectativas, a nova showrunner Suzanne Heathcote decidiu dissipar essa intensidade vista anteriormente em subplots desinteressantes, numa não muito divertida enrolação e que muitos casos, não chega e lugar algum.

Meses após o fim de sua temporada anterior, Eve, desistindo de sua antiga vida de espiã começa a viver escondida, e passa a trabalhar em um restaurante de culinária coreana. No entanto, como se o perigo a chamasse, Kenny  (Sean Delaney), que estava investigando Os Doze, morre abruptamente, num assassinato que leva a protagonista a voltar à ativa. Esse arco, em contrapartida, não tem uma conclusão satisfatória: sua investigação sobre a morte do amigo querido é trabalhada de maneira tão superficial que, na season finale, parece que toda a sua jornada e empenho não valeram de muita coisa, já que ela nem sequer chega perto de descobrir quem foi o culpado (no fim, quem descobre o grande mistério são outras pessoas), dando a impressão de que a única função da personagem foi andar de um lado para o outro durante oito episódios. Para completar, Eve e Villanelle quase nunca se encontram. Porém, quando finalmente acontece, tudo se torna mais intenso, como se todo o resto fosse perda de tempo em comparação à história dessas duas. Eve foi nitidamente apagada e deslocada em seu eixo narrativo.

A outra protagonista, Villanelle, tem uma jornada mais sólida e eficiente, mas ainda carece de uma história mais concatenada. Seja no quinto episódio, onde conhece sua família na Rússia, ou na finale, onde toma decisões que irão pesar no futuro de sua jornada com Eve, os roteiristas parecem ter desenvolvido um carinho mais especial pela assassina, tornando sua jornada de autoconhecimento um pouco mais edificante que as demais. Ainda assim, momentos como o início da temporada, na qual Villanelle se casa, não parecem ter finalidade alguma, senão colocá-la numa situação engraçada e constrangedora. Divertido, mas vazio.

A fim de preencher lacunas, Heathcote introduz diversos personagens que, como de praxe na série, são extremamente cativantes. Temos Dasha (Dame Harriet Walter), a macabra treinadora de Villanelle, que serve aqui como mero artifício narrativo para revelar informações sobre o passado da protagonista e adicionar sustância ao saturado arco d’Os Doze. Além dela há Jamie, interpretado por um divertido Danny Sapani, porém sem muito o que fazer e, no saldo final, pouco agrega à trama central. Para completar, há Geraldine (Gemma Whelan), que nunca diz a que veio, senão atormentar sua mãe Carolyn (Fiona Shaw, sempre magnífica) após a trágica morte de Kenny.

Aliados ao elenco original, temos uma gama de personagens cativantes que entram em conflito constate e, mesmo que façam a trama andar a doses homeopáticas, não carecem de carisma e boas interpretações, completamente dentro do tom proposto pela série. Tom esse que não se perde em nenhum minuto de seu desenrolar, muito bem orquestrado pelo design de produção cinematográfico, com destaque para o setor de figurinos, além das incríveis locações e da cinematografia que valoriza cada aspecto pensado tão minuciosamente por cada ala, culminando também na excelente e creepy trilha sonora original, numa soma que torna Killing Eve uma série única, estilizada e tragicômica à sua maneira de ser.

Com uma melhora repentina no terço final da temporada, Killing Eve chega ao seu terceiro ano com muito carisma, mas deixando de lado o coração da série, o que realmente nos instiga a querer mais daquele universo: é a paixão desenfreada, maluca e obsessiva entre a dupla protagonista, coisa que, infelizmente, fica tão dispersa no resto da narrativa que acaba se transformando, em certos momentos, num subtexto sem muito desenvolvimento. Já renovada para a quarta temporada, o hype não está alto como já esteve, no entanto, o carinho por esse bizarro universo não deixa de existir, fazendo com que esperemos para ver quais serão as próximas vítimas dessa psicótica saga.


Direção: Terry McDonough, Miranda Bowen, Shannon Murphy, Damon Thomas.

Episódios: 8

Duração: 42 minutos

Elenco: Sandra Oh, Jodie Comer, Fiona Shaw, Dame Harriet Walter, Kim Bodnia, Danny Sapani, Gemma Whelan, Sean Delaney, Owen McDonnell,  Yuli Lagodinsky.

Sinopse: Killing Eve gira em torno de duas mulheres, Eve, uma agente do MI5 um tanto desgrenhada, e Villanelle, uma assassina contratada com um talento para encenar e um amor por roupas de grife exageradas.

Trailer:

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