5 motivos para assistir Miss Fisher’s Murder Mysteries + Trailer do filme inspirado na série

Séries de mistério e crime sempre existiram na televisão e fizeram bastante sucesso. Os exemplos vão de CSI, Criminal Minds, Mindhunter Netflix, por favor, continue com a série  Hawaii Five-0 e Sherlock. Nos últimos tempos, no entanto, temos acompanhado produções de novos países começando a ganhar espaço, como Dark, da Alemanha; as séries espanholas da Netflix; Marianne, da França e Sex Education que, assim como Sherlock, é britânica. Mas e a australiana Miss Fisher’s Murder Mysteries, que foi produzida de 2012 a 2015, por que nunca teve seu momento em nosso país?

Bom, podemos especular os motivos por duas ou três horas — e acredite, eu adoraria — mas o ponto aqui é levantar as questões para vocês refletirem enquanto assistem a série e, quem sabe, não fazermos um próximo texto analisando apenas os questionamentos feitos aqui. Mas sejamos sinceros, o que mais tem nessas séries acima é detetives, criminosos e até mesmo serial killers, todos homens. E é exatamente este paradigma que Phryne Fisher (Essie Davis) está disposta a quebrar. Não por acaso o cartaz da série rememora uma cena emblemática do cinema. Alguém quer dar um palpite de que outra grande mulher, cheia de personalidade, estamos falando aqui?

Mia Wallace, interpretada brilhantemente por Uma Thurman no clássico Pulp Fiction (1994), é considerada como uma das personagens femininas mais emblemáticas da década de 90 — e, bem possivelmente, da história do cinema. Tanto que rendeu à Uma uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante. 


E quem melhor para ilustrar a personalidade determinada, forte e extremamente competente de Phryne Fisher do que Mia Wallace? Afinal, a série se passa na Melbourne dos anos 20 e ainda sim a personagem questiona todos os valores machistas da época apenas com seu jeito independente, astuto, experiente e o mais desinteressado possível em matrimônio. De modo geral, a série quebra com a visão de que homens resolvem crimes e mulheres são o prêmio pelo bom trabalho prestado — sim, estou falando com todos os James Bond da história. A série, no entanto, apresenta outros diversos motivos a serem reconhecidos e abaixo listei alguns deles.
1. É feminista

Para os desavisados que pularam direto para a lista ou aqueles que ainda tinham alguma dúvida a respeito: sim, a série é completamente empoderadora, ainda mais nesses tempos de intolerância. No entanto, aumentando ainda mais a força de sua mensagem, as críticas são tão bem construídas, de modo a se naturalizarem no enredo, que suas intenções em tela não parecem de modo algum artificial.

Aliás, o próprio modo de ser colocado como algo tão natural é a maior crítica que poderia ser feita. Se essa história, com uma mulher incrivelmente capaz de resolver mistérios melhor que o detetive inspetor, pode ser incrivelmente normal e maravilhoso de assistir aos nossos olhos, por que então crer que a sociedade machista é o modo “natural” de se fazer as coisas?


Considerando que a série é ambientada na décade de 20 — na qual um dos maiores nomes do movimento feminista, Simone de Beauvoir, era uma adolescente e só iria publicar seu primeiro livro anos mais tarde, em 1943 — chega a ser doloroso lembrar que em pleno século XXI, cem anos mais tarde, a série não passa como contextualizada na década atual única e exclusivamente pela direção de arte.

Mulheres de espírito livre e personalidade decidida, como Phryne Fisher, continuam a escandalizar aqueles mais conservadores, como sua tia Prudence (Miriam Margolyes) que vive condenando suas ações nada convencionais, que entram em um embate com as regras da sociedade vigente. Ademais, personagens como Dra. Mac (Tammy MacIntosh), — um apelido que serve para ambos os sexos — uma médica lésbica e grande amiga de Phryne e Dorothy “Dot” Williams (Ashleigh Cummings) — uma tímida e acuada jovem que, ao se ver em meio a um crime na casa onde trabalha, acaba sendo recrutada como ajudante investigativa de Phryne, com quem descobre muito mais sobre si mesma do que imaginava — representam exatamente as mulheres que tomam as rédeas da própria história e que ansiamos tanto ver.

O fato de as tramas trazerem temas como abortos clandestinos e práticas inseguras de trabalho em fábricas compostas por mulheres ainda chama mais atenção para assuntos que precisam urgentemente ser discutidos, em 1920 e 2020 também. E podemos citar o fato de Essie protagonizar uma série com 42 anos, enquanto o mercado cinematográfico parece a indústria futebolística que descarta qualquer um após 35 anos, mais ou menos? Isso, é claro, se você for mulher, do contrário você é um “grisalho charmoso”.

2. Roteiro é uma combinação de Agatha Christie com Sherlock Holmes e a pitada certa de humor 

Quando se fala em mistério é impossível não lembrar imediatamente de Agatha Christie, a “Rainha do Crime”, como ficou conhecida, e Arthur Conan Doyle — que se tornou indissociável de sua famosa criação, o detetive Sherlock Holmes e suas histórias, consideras uma importante inovação no campo da literatura criminal. Ambos, a seu próprio modo, apresentaram personagens com métodos nada ortodoxos de “utilizar nossa massa cinzenta” para resolver os mais diversos e inoportunos crimes e irritar a polícia deixando-na para trás. 


Se Agatha Christie ficou incrivelmente famosa com Monsieur Hercule Poirot, há também uma outra personagem muitíssimo querida por seus fãs que também ganhou algumas adaptações para as telas, a querida e adorável Miss Marple. Uma senhora, solteirona no melhor sentido da palavra (existe ruim?) e moradora do fictício vilarejo de St. Mary Mead, Miss Jane Marple é uma exímia observadora da natureza humana, e usa seus talentos e comparações sempre que precisa desvendar algum crime em que se envolve acidentalmente. 

Um dos aspectos mais tristes de suas histórias é ver como sempre subjugam sua capacidade por ver diante de si uma mulher, idosa e que é vista com piedade por não ter um casamento ou família do qual “cuidar” (afinal, o casamento e os filhos são só das mulheres, não é mesmo?). No entanto, sempre doce e obstinada, Miss Marple nunca tem tempo para se ocupar com os comentários e olhares alheios, por estar sempre provando quão errado eles estão. E é claro, tanto as histórias de Holmes, quanto da velhinha são repletas de um humor sofisticado e Miss Fisher’s Murder Mysteries sabe trazer exatamente essa essência para a trama, ainda mais se pensarmos na quebra de paradigma que Jane Marple representa na sociedade em que se insere. Temos um fã dos clássicos, talvez?


3. Figurinos apaixonantes

Vamos fazer um pequeno jogo aqui, sim? Eu falo “filme que retrata a década de 20” e você me diz qual passou pela sua cabeça, que tal? Bem, infelizmente não conseguimos obter todas as respostas a tempo de esse texto ser publicado, mas posso dizer o filme no qual eu — e aposto que muitos — pensei: O Grande Gatsby. Para efeito de curiosidade, e como toda boa fã de mistérios, tenho muita dentro de mim, coloquem nos comentários em qual pensaram.

Baseado em uma obra homônima, a história se passa na Nova York e Long Island de 1922, apresentando uma crítica ao “sonho americano”. O longa rendeu o Oscar de Melhor Figurino para Catherine Martin, que assinala a modernidade visceral dos anos 20 com os cabelos femininos pós-guerra la garçonne, — desdenhando das convenções  a maquiagem mais marcante, o hábito de fumar — antes restrito aos homens — e a silhueta livre de espartilhos, com vestidos tubulares tomando seu lugar.


Em outro país — e continente — a série australiana traz também todas as belas referências visuais da década, compondo um figurino, e direção de arte de modo geral, de tirar o fôlego.  Mais alguém gostaria de ter a chance concedida em Meia Noite em Paris de voltar à uma década específica da história? 

4. Enredo que te prende até o final

Creio que muito disso se deve ao fato de, como falado acima, trazer o melhor de Agatha Christie e Arthur Conan Doyle em uma roupagem empoderada e que coloca a mulher não como donzela em perigo ou prêmio por um trabalho bem feito, como muitos filmes, infelizmente recentes, o fazem. Mas parte também é um misto da excelente escrita de Kerry Greenwood, autora da série de livros que deu origem à produção, com a dedicação das roteiristas Deb Cox e Shelley Birse — sim, nós vamos aclamar essas mulheres incríveis, ainda mais com a falta de representatividade feminina na indústria.

De início, logo em seus primeiros segundos, a história já se mostra impossível de largar. Nos é apresentado um caso inusitado, com circunstâncias ainda mais improváveis — Agatha e Arthur aplaudiriam o trabalho feito aqui  e queremos descobrir pistas com os métodos mais incomuns e resolver o mistério antes da polícia. Ao longo desse processo, no entanto, somos envolvidos numa espécie de sedução das personagens, suas histórias e conflitos pessoais e da própria direção de arte, tanto que ao chegar ao final do episódio o botão de “próximo episódio” é apertado sem nem percebermos. 


5. Elenco e personagens formidáveis


O elenco regular conta com a protagonista e detetive particular, em uma época na qual isso era impensável para uma mulher, Phryne Fisher; sua amiga íntima e parceira de investigações, católica devota Dorothy “Dot” Williams; o detetive inspetor John Robinson (Nathan Page), com quem Phryne tem uma relação quase de “gato e rato”; e o policial Hugh Collins (Hugo Johnstone-Burt), braço direito do detetive inspetor, um jovem tímido e ingênuo, que desenvolve interesse por Dot. 


Essie nos traz momentos repletos de sentimento e carga dramática, mas também mostra uma mulher elegante, inteligente, poliglota, em nada reprimida sexualmente, com traumas passados, — sim, todos temos — mas que não se deixa definir por eles. Sua versatilidade e coragem para o novo e desafiador a levam a pilotar carros de corrida, aviões, usar armas de fogo, espadas, participar de shows de mágica e ainda, para relaxar, dançar diversos ritmos em festas às quais é convidada. Tudo isso coroado com seu sempre intacto bom humor. Parece difícil de alcançar esse nível? Bem, Essie consegue encarar com perfeição o desafio, tornando a personagem apaixonante e uma heroína — sem poderes mágicos — para todas as meninas e mulheres cansadas de não se verem contempladas nos papéis femininos. E eu sei, dificilmente alguma de nós vai se identificar com Phryne Fisher ou com seu modo de viver a vida, mas é um primeiro passo para ver mulheres de desdobrando em mil tarefas e provando aos homens que genitálias não fazem a menor diferença quando se quer medir a competência de alguém.



Quanto à Dot e Hugh devemos as cenas mais engraçadas e adoráveis, com a dificuldade de ambos em se expressar e se encaixar nos papéis sociais convencionais. Os atores trazem um trabalho tão delicado e sensível para lidar com esses aspectos intrínsecos da personalidade de ambos que é impossível não se deliciar nas cenas em que eles estão presentes. 


O detetive inspetor também traz uma comicidade e fragilidade em seus trejeitos duros e extremamente marcados, claramente fruto dessa sociedade machista que também vitimiza — embora infinitamente menos — os homens. De modo geral, o quarteto entrega uma dedicação e afinidade tão grande que é impossível lembrar que estamos vendo uma série e não vivendo aqueles momentos na vida real.


E para os fãs que, como eu, aguardaram ansiosamente por um filme inspirado na série, em 2020 estreia Miss Fisher e A Cripta da Lágrima. Você pode conferir o trailer abaixo.




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