Perfil Bergman – Parte III


Na primeira e na segunda parte do especial Perfil Bergman, examinamos a vida e o modo de trabalho de Ingmar Bergman. Dessa vez, iremos nos direcionar para sua outra metade: Liv Ullmann. É na relação com Ullmann que podemos ver a personalidade tempestuosa de Bergman em ação no seu ápice positivo e negativo, já que seria justamente sua necessidade por controle e ordem que iriam, ultimamente, tornar impossível a manutenção da relação amorosa entre ele e Ullmann. Vamos lá?

Ingmar Bergman e Liv Ullmann se conheceram durante as filmagens de Persona, em 1965, na ilha de Faro. Até então, Bergman já havia consolidado sua carreira com uma série de lançamentos bem sucedidos e premiados, tendo sido indicado para o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro quatro vezes e vencido em duas ocasiões. A partir de Liv, entretanto, tudo começa a ser diferente. Se até então Bergman ia demonstrando em sua filmografia um interesse maior e maior pela consciência humana e por representações de sentimentos complexos, em Persona isso toma conta do filme como um todo, transbordando do roteiro e das personagens para a própria linguagem visual e montagem do filme.

Conforme as gravações prosseguiam, a relação entre Bergman e Ullmann também avançava. O romance entre os dois já se iniciou carregado de complicações, pois ambos estavam em outros relacionamentos quando se apaixonaram um pelo outro. Após seus respectivos términos, Bergman e Ullmann passaram a viver na própria ilha de Faro, onde uma casa foi construída para ser o lar dos dois. 

No documentário Liv & Ingmar (2012), dirigido por Dheeraj Akolkar, Liv Ullmann descreve o início da relação:

“Eu nunca me perguntei o que poderia resultar do nosso relacionamento. Era como se eu estivesse vivendo entre paredes suaves de luz solar, desejo e felicidade. Nenhum verão foi assim desde então.”

Os problemas surgiriam com o tempo. Muito mais jovem que Bergman, Ulllmann passou a ter sua vida cada vez mais limitada pelas atitudes controladoras dele. Para além disso, ressentimentos e mágoas recorrentes tornavam o dia a dia entre os dois bastante difícil. A residência na ilha, que inicialmente era um espaço de felicidade, se tornou a prisão de Ullmann quando Bergman ergueu um muro alto ao redor da casa. Ullmann tentou aguentar mais tempo, convencida de que uma filha poderia ser o elemento de trégua entre os dois. Quando isso também não funcionou, ela deixou a ilha e Bergman. Os dois continuariam a trabalhar juntos ao longo das próximas décadas, mas não mais como um casal. 

Ao descrever o período mais turbulento da relação, Ullmann coloca:

“Eu sabia que Ingmar havia encontrado sua ilha e tentei amá-la do jeito que ele amava. À noite, quando ele não conseguia dormir, eu ficava deitada ao lado dele, com medo do que ele estava pensando. Talvez que eu não fizesse parte da ilha, que perturbasse a harmonia que ele tentava criar dentro de si e a natureza e a quietude que significavam tanto para ele. Minha segurança se tornou viver da forma que ele desejava, pois só assim ele estava seguro.”

Não há dúvidas da imensa contribuição de Ullmann para a obra
de Bergman. Através de sua expressividade e dedicação, ela consegue navegar
perfeitamente entre as nuances que cada filme requer, representando tanto os
momentos cotidianos quanto os mais exagerados. Para além de sua colaboração com
Bergman, ela também trabalhou como diretora de cinema e teatro – seu último
filme, Miss Julie, foi lançado em
2013. Um ótimo material para se aprofundar em sua vida é a autobiografia
Changing, lançada em 1972.

                “Eu
estava sozinha, mas essa solidão pertencia a mim. Não foi nada que ele
(Bergman) criou. Ninguém cria sua solidão. Ninguém cria a escuridão que você
tem em seu estômago. É como lidamos com isso que faz a diferença.”

Bergman é conhecido por usar atores recorrentes em suas produções. Na próxima e última parte do especial Perfil Bergman, vamos olhar para as outras atrizes e atores responsáveis por tornar os universos imaginados por Bergman em realidade. Por enquanto, fique com a próxima recomendação: Persona. Lançado em 1966, esse seria o filme que mudaria a carreira de Bergman para sempre. Ousado, inventivo e absolutamente devastador em sua representação de duas mulheres que aos poucos se perdem uma na outra. 
Persona

Título Original: Persona


Direção: Ingmar Bergman


Duração: 84 minutos


Elenco: Bibi Andersson, Liv Ullmann, Margaretha Krook, Gunnar Björnstrand, Jörgen Lindström


Sinopse: Isoladas em uma casa de praia, uma enfermeira (Bibi Andersson) e sua paciente, uma atriz que se recusa a falar (Liv Ullmann), se tornam mais e mais íntimas. Com o tempo, a relação das duas se torna algo mais e mais complexo conforme limites pessoais e psicológicos são cruzados.

Você já assistiu a alguma das recomendações dos especiais sobre Bergman? Se sim, deixe sua opinião nos comentários!

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