Crítica: Tempo de Caça (2020, de Yoon Sung-hyun)

Após o lançamento de Parasita, de Bong Joon-ho; Tempo de
Caça
 é também um filme híbrido, com muita ação e suspense, que traz questionamentos a uma sociedade desigual. 

Num futuro não tão distante, com características
pós-apocalípticas, a maioria dos habitantes da Coreia do Sul vive em
condições miseráveis. As ruas das cidades estão todas quebradas, esquecidas e
envolvidas por um clima fantasmagórico. A moeda do país está completamente desvalorizada e o custo de
vida subiu. Esse é o plano de fundo 
– que evoca à ficção científica – de Tempo
de Caça
.


A trama inicia mostrando dois amigos, Ki-hoon e Jang-ho, que dirigem até a saída de uma prisão, onde vão buscar seu antigo parceiro Jun-seok, que acaba de ser liberto após cumprir uma sentença de três anos – sentença essa, na qual Jun-seok acabou por encobrir a participação dos dois amigos




Até o primeiro ponto de virada, adentramos o universo e o laço entre os três amigos que, sem direitos e com o dinheiro acabando, não sobrando nem para o aluguel; abordam um velho conhecido de Jun-seok e, juntos, os quatro planejam e se preparam para assaltar uma casa de apostas ilegal. 




Nisso, um ponto de reflexão está claro: o abandono da população, que está “a ver navios” e pena para sobreviver. A partir disso, os três amigos veem esse assalto como uma chance de finalmente poder recomeçar a vida, numa ilha paradisíaca. 


Aqui, tem-se o principal foco no qual a desigualdade social é trabalhada no filme: as emoções, os afetos e os sonhos das personagens. O desejo de recomeçar suas vidas tem um impedimento; há uma barreira social para eles. Jung-seok e Jang-ho não têm mais seus pais por perto; não há emprego para nenhum deles, pois têm ficha criminal; não há perspectiva de melhora de forma alguma e os poucos protestos que acontecem não reverberam e não trazem resultados. Nisso, os três amigos também se veem e se tratam como uma família. Para eles, esse plano seria como o ultimato para que, finalmente, pudessem transpor essas dificuldades. E Ki-hoon, o único que ainda tem seus pais por perto, também vê a oportunidade de dar a seus progenitores uma vida melhor. O problema é que esta barreira não é tão simples quanto parece.




O plano que parecia perfeito muda, quando um encarregado do cassino ilegal, passa a persegui-los. Esse homem quase que onipotente, conhecido como Han, é um assassino que quando tem uma “presa”, vai até o fim. A postura de Han é intimidadora, quando chega em algum lugar, sua presença “gela” todo o ambiente. Han não caça por dinheiro, mas por diversão. – A personagem me faz pensar em pessoas, dentro da sociedade, que adoram e fazem questão de demonstrar e, até abusar de outros, para demonstrar seu poder. Por se tratar de um assassino profissional, que chega a parecer imortal, o trio acaba a mercê de seu amadorismo por inúmeras vezes e, isso, deixa o medo ainda mais presente; o anseio pela sobrevivência de suas vidas e de seus laços, aos quais o espectador também se apega.



O diretor Yoon Sung-hyun constrói suspense de maneira
única
ouso dizer que nunca vi
ninguém construir um jogo de ritmo e tensão como esse jovem diretor
com vários momentos que
deixam o espectador sem fôlego, torcendo pela sobrevivência das personagens. A
fotografia do filme cai como uma luva e faz jus a esse perigo iminente a todo instante presente. Os planos de perseguição se estendem e, consequentemente o suspense. Os locais escuros com luzes neon, 
que variam sua coloração e intensidade; e ampliam a aflição do momento. 


O longa-metragem termina de forma aberta e abre possibilidade para uma possível continuação. Mas, da mesma maneira, também funciona bem como um filme solo. A incerteza do que vem pela frente é também o que sentem as personagens. 


O filme mostra, mais uma vez que é possível explorar uma
reflexão através de um bom entretenimento
possibilidade essa, muitas vezes
ignorada por muitos dentro do cinema.
Nem só ação e suspense; nem
um artigo filosófico wannabe
relembrando que, nem um, nem outro, são ruins; o ponto é reforçar que se
abrace a existência da diversidade no cinema e na arte. Tempo de Caça cumpre sua premissa de forma exímia 
– e completo, dizendo que esse trabalho me deixou curiosa para os próximos do diretor.



Título
Original:
사냥의 (Ing: Time To Hunt)


Direção:
Yoon
Sung-hyun


Duração: 134 min


Elenco: Lee Je-hoon, Ahn Jae-hong, Choi Woo-shik, Park
Jeong-min, Park Hae-soo e outros


Sinopse: Três amigos planejam um grande assalto. Mas eles não esperavam que nessa empreitada virassem caça de um assassino impiedoso.



Trailer:
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