Crítica: SCOOBY! O Filme (2020, de Tony Cervone)

Scooby-Doo é uma pérola. Criado em 1969 por Iwao Takamoto, a animação perpassou gerações e segue sendo um dos mais memoráveis clássicos da tv, cinema e quadrinhos, integrando o tão icônico e nostálgico estúdio Hanna Barbera, que tem em seu catálogo clássicos como nada menos que Os Flintstones e Zé Colmeia. Com um legado lendário, o peso da nova animação era introduzir Scooby e a turma da Mistérios S/A não apenas para uma nova geração, como também reestruturar todo o seu sinistro  universo a fim de criar um Universo Compartilhado Hanna Barbera, seguindo padrões atuais da indústria.

Dito isto, em seus minutos iniciais, SCOOBY! é um deleite. O roteiro escrito por Matt Lieberman, Adam Sztykiel, Jack Donaldson e Derek Elliott faz questão de prestar uma homenagem àqueles que cresceram apreciando a animação, colocando nossos amados personagens na tradicional trama de mistério, e, dessa forma, abrindo o longa com chave de ouro. A trama, no entanto, apresenta uma guinada totalmente diferente após esse belo prólogo: uma história de super heróis. Livrando-se quase que de vez do charme que originou o clássico, a “marvelização” da narrativa torna-se um grande peso no que vemos a seguir, cabendo a nós comprar ou não esta mudança brusca no cerne dos personagens.
Com isso, a narrativa é dividida em diversos blocos, que traz o Falcão Azul (Mark Wahlberg) e o Bionicão (Ken Jeong) para ajudar Scooby (Frank Welker) e Salsicha (Will Forte) contra o vilanesco Dick Vigarista (sim, o mesmo da Corrida Maluca!, interpretado por Jason Isaacs), que tenta caçar nosso querido dogue alemão, num jogo de gato e rato. Enquanto isso, Daphne (Amanda Seyfried), Velma (Gina Rodrigues) e Fred (Zac Efron) tentam descobrir o paradeiro de seus melhores amigos, entrando em confusões que os levam e encontrar diversos outros personagens queridos de Hanna Barbera, como o memorável Capitão Caverna, gerando, assim, crossovers que sonhávamos quando criança.

Tais crossovers, no entanto, não se sustentam por si só, com grandes e icônicos personagens relegados a um desfile que não chega realmente a lugar algum. Além disso, há uma enorme descaracterização de Fred, Daphne e Velma, cujas ações não tem impacto real sobre a narrativa. No fim das contas, esse bloco é tão raso, que torna-se esquecível minutos depois da projeção acabar, visto que sua existência parece querer apenas justificar uma preparação de terreno para vindouras sequências. 
Em contrapartida, Scooby e Salsicha trazem grandes divertimentos, apesar da presença pouco carismática do Falcão Azul e do Bionicão. Ainda assim, a ambição dos produtores em construir um universo compartilhado às pressas faz com que, em oposição ao vazio bloco da turminha Mistérios S/A., este arco se torne inchado e carregado, principalmente em seu final, que gera um anticlímax bagunçado. Diante desse roteiro nada equilibrado, o filme se encerra aos trancos e barrancos e, apesar de seu apelo nostálgico, deixa um gosto amargo na boca. No fim das contas, há mais super heróis do que Scooby-Doo aqui.

Em contrapartida a seu roteiro rasteiro, o longa de Tony Cervone (que já adaptou Scooby outras vezes para a tv) traz um trabalho técnico invejável, o qual transporta nossa turminha querida para o universo 3D de maneira muito bem sucedida. Seja na recriação de personagens cartunescos por excelência ou na construção de cenários, indumentárias e fios de cabelo, a animação enche mais os olhos que a alma, mas ainda assim, encanta. E isso, é claro, reflete em todos os setores de produção, inclusive na reformulação de Dick Vigarista que, além de estar mais que divertido aqui, também apresenta visual e construção de mundo invejáveis. 

Feito para todos os públicos, mas escolhendo seguir numa linha mais infantiloide, o novo longa do SCOOBY! é, com toda certeza, uma boa pedida para tempos pandêmicos. Ainda que careça de uma narrativa mais clássica (pois o usual mistério faz sim muita falta), o longa é um grande passo em direção ao universo compartilhado Hanna Barbera que, se continuar desse jeito, irá dar o que falar nos próximos anos. Resta-nos aguardar os próximos capítulos dessa nova saga cinematográfica.



Título Original: SCOOB!

Direção: Tony Cervone


Duração: 95 minutos


Elenco: Will Forte, Frank Welker, Iain Armitage, Jason Isaacs, Mark Wahlberg, Gina Rodriguez, Ariana Greenblatt, Zac Efron, Pierce Gagnon, Amanda Seyfried, Mckenna Grace, Kiersey Clemons, Ken Jeong, Tracy Morgan, Billy West, Eric Cowell, Simon Cowell, Ira Glass, Don Messick 

Sinopse: “SCOOBY! O Filme” revela como os amigos de longa data, Scooby e Salsicha, se encontram pela primeira vez e como se juntaram aos pequenos detetives Fred, Velma e Daphne para formar a famosa Mistério S/A. Agora, com centenas de casos resolvidos e aventuras compartilhadas, Scooby e sua gangue encaram o maior e mais desafiador mistério de todos os tempos: uma trama que libera o fantasma do cão Cerberus sob o mundo. Enquanto eles se apressam para impedir esse “apocãolipse”, a gangue descobre que Scooby tem um legado secreto e um destino mais épico do que qualquer um poderia imaginar.

Trailer:



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