Com o professor de teatro, Gene Cousineau (Henry Winkler), extremamente abalado pelo aparente sumiço da namorada, detetive Janice Moss (Paula Newsome), Barry (Bill Hader) acaba acidentalmente dando ao professor a ideia para um novo espetáculo, cujo tema é o momento de maior trauma da vida de cada um. Ao mesmo tempo, o ex-parceiro da detetive cerca Fuches em busca do assassino da amiga, que ele tem certeza ser Barry.
Um outro subplot trabalhado nessa nova temporada é o de Hank (Anthony Carrigan), que precisa de ajuda com a chegada de uma terceira máfia chegando ao seu cartel. É a fórmula certa para provocar Barry a abraçar seus instintos violentos, certo? Mas a história vai bem mais além do que o famoso “mais do mesmo” e entrega personagens mais complexos, densos e, por que não?, humanos. O próprio protagonista traz uma carga dramática muito mais intensa, de alguém que lida constantemente com o medo absurdo do que pode fazer e a vergonha sem tamanho de seu passado e das coisas que já fez.
Pensando em relacionamentos abusivos e em como escrever sobre o passado de Sally — que será abordado aqui posteriormente — não pude deixar de pensar que há outras espécies de relacionamentos abusivos não tão falados, alguns que já presenciei, igualmente perigosos. E a imagem que me veio na cabeça foi de Barry e Fuches (Stephen Root). Muitos defendem a amizade dos dois, até veem Fuches como uma espécie de mentor ou figura paterna, mas o que eu vejo é uma pessoa que desde o primeiro episódio é apresentado como alguém que, sim, tem sentimentos por Barry, mas é extremamente tóxico. Em verdade, o verdadeiro “cargo” de figura paterna cabe muito melhor a Cousineau que, com toda sua excentricidade, consegue enxergar o melhor em Barry.
Mas para quem leu a análise da primeira temporada provavelmente, assim como eu, estava esperando por uma continuação na história de Sally, de todo o assédio sofrido e o que seria feito a partir de então. Representada pela Agência Gersh, ela acaba passando por situações em que homens interrompem o que ela fala o tempo todo, menosprezam seu trabalho, desejam colocá-la em uma série sobre (abre várias aspas) “empoderamento feminino” — claramente escrita unicamente por homens — em que o título faz piada com menstruação e elas estão basicamente desnudas, sexualizando completamente as personagens.
O fato de Barry estar ali esperando a namorada e conseguir um teste com o diretor do filme por ser um rapaz alto e, porquanto, “pular umas cinco etapas do processo”, brinca exatamente com o fato de como a carreira para os homens é confortavelmente mais fácil em “umas cinco” milhões de etapas”. Acha que é exagero? Pense em quantos atores brutalmente honestos, beirando ao rude, são aplaudidos e adorados por milhares de pessoas ao redor do mundo. Traçando um paralelo, quantas são as mulheres que, por dar um “bom dia” menos animado em um momento específico, já foram chamadas de nomes bem desagradáveis e sofreram imensa crítica; ou que em uma entrevista de trabalho tiveram de responder perguntas sobre suas roupas íntimas e dietas enquanto seus colegas homens respondiam questões de fato pertinentes com o filme? É isso que séries como Brooklyn Nine-Nine pontuam na fala de personagens femininas marcantes como “para a gente tudo é muito mais difícil” e Barry traz exatamente isso no arco dramático de Sally, cada vez mais forte.
E falando sobre mulheres fortes, como pontuado no gif, a vida pessoal de Sally também é aprofundada com o desenvolvimento das cenas e reaparecimento do ex-marido Sam — que não fica nada feliz com seu nome exposto na peça. Mais do que lidar com ele e as memórias e sentimentos que toda a situação traz à tona, ela precisa lidar com um próprio conflito dentro dela sobre qual verdade ela quer contar — e/ou os outros desejam ver — a que realmente aconteceu ou a que ela gostaria que tivesse acontecido. Chega a ser desconcertante como a série fala tão abertamente de violência mas, para grande maioria, a única violência representada ainda é a por uso de armas de fogo e troca de chutes e socos.