Análise: Cheese In The Trap – 1ª Temporada (2016, de Lee Yoon-jung)


A análise a seguir contém alguns leves spoilers da série, a fim de analisar as personagens.

Baseado no webtoon homônimo, Cheese In The Trap é uma
série televisiva sul-coreana lançada em 2016. A história traz a clássica comédia romântica associada a um bom drama e pitadas de suspense.


Depois de trancar seu curso na faculdade por um tempo, para que pudesse trabalhar
e ter dinheiro para conseguir pagar sua graduação por si mesma, Hong Seol volta à faculdade ao mesmo tempo em que Yoo Jung, seu veterano, retorna às aulas depois do serviço militar obrigatório. Embora não se conheçam, Seol passa a se incomodar com o comportamento de Jung que, visivelmente, cria situações desconfortáveis para aqueles que o incomodam, sem que ele precise dizer nada, apenas manipulando as pessoas ou circunstâncias; como, por exemplo, quando uma de suas calouras tenta “puxar seu saco” e se aproxima oferecendo para servir bebida em seu copo, enquanto Jung, desconfortável, faz com que a bebida caia “acidentalmente” na roupa da moça, para que ela se retire sem que ele precise tomar um partido.  



A partir de então, Seol pensa novamente em dar mais um tempo em seu curso, pois percebe que Yoo Jung não para de incomodá-la. Mas, tudo muda quando ela recebe a notícia de que conseguiu uma bolsa de estudos  que antes era de Jung, mas que passou a Seol, uma vez que o professor supostamente havia perdido o relatório dele. Deste ponto, Jung passa a chamá-la para sair e a tratá-la muito bem, como nunca antes havia. Seol resiste por um tempo, mas logo se vê tentada a conhecer melhor seu veterano e não tarda para que os dois iniciem um namoro. 




Durante os episódios, a utilização de voice-over é recorrente, a fim de demonstrar os pensamentos e sentimentos das personagens em momentos específicos  especialmente de Seol. O uso é certeiro e justificável e não está ali simplesmente para parecer poético. O espectador de fato adentra na emoção e no vaguear dos pensamentos de quem fala.


Mais para frente, o espectador descobre que, não só a bolsa de estudos de Seol, mas que também uma série de conquistas dela foram facilitadas pelos esquemas de Jung, seja através de ameaças a terceiros ou de contatos próximos que facilitaram seus planos acontecerem. 

Outro arco importantíssimo na história são os irmãos Baek, In-ho e In-ha. Quando criança, ambos sofriam violência doméstica da tia que detinha a guarda dos dois. In-ha ainda apanhava da tia abusiva. Num dos episódios de violência, Yoo Young-soo, pai de Yoo Jung e velho amigo do avô das duas crianças aparece e atende o pedido de resgate dos dois, levando-os para viver e crescer junto com Jung.

In-ho e Jung eram inseparáveis na adolescência, até que um episódio chateia Yoo Jung e ele passa a tratar In-ho da mesma forma com que trata quem o machuca. O atrito entre os dois permanece mal resolvido. Ambos se separam, pois In-ho vai morar fora se Seul. Até que um dia ele volta e, então, um novo conflito é introduzido na vida de Yoo Jung, que já se desentendia com In-ha.




O drama investe no conflito entre o passado e o presente que Jung, In-ho e In-ha enfrentam. O arco dos três se entrelaçam com o de Seol – a protagonista – e o plot principal acaba girando em torno da relação de Seol com cada um eles, cada um por seu próprio motivo.

In-ha é uma personagem interessantíssima. Com uma personalidade completamente excêntrica e exagerada, ela vive atrás de dinheiro e parece realmente viver num mundo paralelo na maioria do tempo. A atriz Lee Sung-kyung, que a interpreta, entrega brilhantemente expressões que chegam a ser teatrais. In-ha vive em constante conflito com Jung e às vezes também tira o espectador do sério, assim como ele. Mas dentro disso, suas motivações ficam claras conforme se conhece sua história e tudo o que ela passou.  


In-ho é igualmente profundo e instigante. O ator Seo Kang-joon dá a In-ho muita profundidade. Os momentos em que ele se põe vulnerável, quase que brigando contra si mesmo, são esplendorosos. Ele inicia vivendo de forma amargurada, já que em sua vida muitas perdas recorrentes o afetaram. In-ho teve de se virar por si só a partir do ponto que viu que estava sozinho; além de ter largado seu sonho de ser pianista. In-ho por muitas vezes é grosseiro, mesmo sem intenção, como se ele tivesse se auto protegendo de alguma possível ameaça. A jornada de In-ho é muito rica. Ele se amargura, se apaixona, se fecha, se perde em sua raiva, volta a se apaixonar pelo seu sonho. 

O desenvolvimento do personagem Yoo Jung é o que fica
meio nublado no drama. Como uma das figura principais, o espectador mantém uma
relação de gosto/desgosto com Jung. O que a princípio pode ser muito rico,
perde um pouco de força por falta de um mergulho maior na verdadeira persona de
Jung, que se mantém misterioso pela grande maioria do tempo. É certo que, entender
quem ele é, é o grande arco do personagem, mas ainda assim, o espectador permanece
com um anseio de compreender melhor o comportamento dele e suas motivações. 


Jung é um jovem adulto que desde a infância período mostrado através
de flashbacks – demonstra um
comportamento manipulador, de forma que, para se “vingar” das pessoas que o
chateiam ou o machucam, ele cria situações desfavoráveis para os envolvidos,
sem que ele precise se envolver diretamente. O pai de Jung, conforme os
episódios evoluem, demonstra o mesmo comportamento de “usar” as pessoas. Quando
é sugerido que Jung teria personalidade sociopata, o
médico sugere que o pai encontre irmãos para Jung, que pudessem cuidar e olhar
por ele. Então, ele decide adotar os irmãos Baek, In-ho e In-ha, não por amor,
mas por serem úteis ao seu filho.





O fato é que Jung não consegue ter verdadeira empatia com a maioria das pessoas e só demonstra se preocupar com Seol. Ele mantém quase que duas personalidades distintas. Isso só muda no último episódio, quando um insight atinge sua mente  ele entende o porquê das pessoas olharem para ele do jeito que olhavam – e ele parte em busca de uma jornada de autoconhecimento para saber quem é o Jung real, fora das formalidades e obrigações.



É necessário ressaltar que, o que poderia ter se
dissecado melhor é o desenvolvimento do personagem, porém, no que diz respeito
à atuação do ator Park Hae-jin, a palavra impecável define. Bem como todos os outros atores, que se saíram muito bem. Hae-jin traz a
dualidade de Jung de forma minimalista: as pequenas expressões, um olhar sutil,
um sorriso de canto e a postura que toda a infância de Jung o deu. 



A Hong Seol, interpretada pela atriz Kim Go-eun, é igualmente excelente. Seol tem uma personalidade introvertida, aceita muitas coisas calada, assim como Yoo Jung. Esse é um dos motivos para os dois se aproximarem. Jung entende Seol, se vê nela. Ele observa que muitos se aproximam dela por interesse pelo fato dela ser dedicada, por ela fazer o trabalho por ela e por todos. Mas a aproximação e a mudança drástica de comportamento tão repentina de Jung, causa desconforto em Seol. Go-eun passa as emoções de Seol sem precisar falar nada e dá uma estranheza adorável à personagem – reforçando que estranho não significa ruim. Por ser introvertida, uma de suas características é precisar de um maior tempo para lidar com os acontecimentos externos, para entendê-los e decidir melhor como agir sobre tal. Desta forma, muitas vezes, Seol vê uma “bola de neve” formar a sua frente enquanto muitas outras coisas já estão se sucedendo. Seol é muito carismática e, como uma marcante protagonista, ela conquista a torcida para sua felicidade por parte de quem assiste.


A energia retraída de Seol é balanceada com a de seus extrovertidos dois e únicos amigos próximos na faculdade: Jang Bo-ra e Kwon Eun-taek. Ambos, apesar de estarem como coadjuvantes na história principal, têm seu próprio e pequeno, mas muito interessante, arco. Os dois dão uma leveza maior ao drama e são personagens muito fascinantes.


Em todos os níveis, conseguimos entender um pouco de cada personagem. Uns são mais carismáticos ao público que outros,  que acabam ganhando certa aura de vilões  porém, em menor ou maior escala, as ações das personagens são todas justificadas a partir de causa e efeito.


Seol, apesar de terminar a série aparentemente presa ao passado, demonstra grande evolução durante os episódios. Mesmo com a complicada relação com Jung, ele acaba por ajudá-la a se levantar por si mesma, a dizer sua opinião e tomar seus próprios partidos e, independentemente de isso ter sido facilitado por Jung, foi Seol quem tomou suas próprias decisões.


O drama apresenta relações tóxicas em muitos níveis,
pessoas que se intoxicam entre si. In-ho e In-ha, como o próprio observa, que são
feitos de fantoches pelo patriarca 
Yoo Young-soo para servirem ao seu filho. Young Gwon, que
stalkeia Seol e parece perder sua cabeça com qualquer um a sua volta. O mútuo e
constante desentendimento entre In-ha e Jung. As pessoas que se aproximam de Jung
e Seol apenas por interesse. O momento que o drama perde um pouco a mão ao explorar essas
relações é ao romantizar demasiadamente o relacionamento de Seol com Jung. Por mais que ele goste genuinamente de Seol e tente agradá-la, o seu comportamento manipulador continua a se repetir e,
Seol, vendo as pessoas a sua volta serem manipuladas, cria uma sucessão de
desculpas para si mesma de que está tudo bem ele fazer isso, pois está fazendo
por ela. 



Ao final, a série termina com um saldo positivo para Jung, que
finalmente reconhece que o relacionamento dos dois não era saudável e parte em
busca de uma jornada de autoconhecimento. Já Seol, prossegue com sua vida profissional, mas suas feridas do passado demonstram não terem se fechado ainda. As demais personagens também seguem com suas respectivas vidas e planos. Desta forma, o
final se mostra bem coerente com a sua proposta e com a vida real, visto que
cada um tem seu ritmo, cada um evolui de uma forma e faz suas próprias escolhas. Nem sempre o final feliz é o fim esperado; nem sempre o final feliz acontece, mas isso também não impede que a pessoa se levante, amadureça e encontre seu próprio
desfecho feliz. 


Nisso, a série acerta ao mostrar que todos têm seu lado
de sombra, que as pessoas são feitas de escalas de cinzas e são muito mais complexas do que podem parecer. Não há ninguém perfeito e/ou que não tenha questões a se trabalhar, seja algo do presente, seja um fantasma do passado. Desta forma, a série é muito profunda e levanta questões muito pertinentes de uma forma intensa e com um bom entretenimento. 




Título Original: 
치즈인더트랩 (Cheese In The Trap)


Direção: Lee Yoon-jung


Episódios: 16


Duração: 60 min


Elenco: Kim Go-eun, Park Hae-jin, Seo Kang-joon, Lee Sung-kyung, Nam Joo-hyuk, Park Min-ji e outros


Sinopse: Hong Seol é uma estudante universitária que batalha para conseguir conciliar seu trabalho e pagar seus estudos. Mas sua vida parece tomar um novo rumo quando seu veterano de faculdade passa a provocá-la.


Trailer:
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2 thoughts on “Análise: Cheese In The Trap – 1ª Temporada (2016, de Lee Yoon-jung)”

  1. Essa foi uma série que me deixou muito intrigada. Estava incomodada com as desculpas de Seol para o comportamento de Jung e a análise daqui mostrou que não estava enganada. Acho que essa é uma série que merece ser vista mais de uma vez para refletir sobre as diversas relações que aparecem do drama e são bem verossímeis.

  2. quero a 2 temporadas nao e justo ele sofrer desta forma e seol ser excluida da vida sem poder ser apaixonar e les realmente se gostavam mesmo com os defeitos deles

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