Histórias ignoradas no Documentário: Rita Lee – Ovelha Negra (2007)



         O documentário sobre a vida da Rita Lee conta com a presença da cantora falando de alguns momentos da sua trajetória, mas a parte que mais chama a atenção é o “antes” dela ser conhecida. Sua infância até o início da sua juventude. Ela nos traz fragmentos de histórias interessantíssimas como o fato de ser filha de um americano com uma italiana, de ter estudado na escola Liceu Pasteur, em São Bernardo do Campo e ter aprontado poucas e boas por lá. Ela revela que chegou a incendiar o teatro da escola, mas infelizmente não conta os detalhes. Histórias como essas e outras não são aprofundadas. Claro que pode ter sido opção da própria cantora, mas do jeito que é despreocupada, duvido que se importaria de contar e de expor isso. Infelizmente relatos como estes se perdem, não são contados a fundo e honestamente fazem falta. São escolhas técnicas, e acredito que foi uma escolha do diretor e do montador. 

            Além disso, o documentário, assim como qualquer projeto audiovisual – seja ele de ficção ou não – conta com o olhar e direcionamento do diretor, claro, portanto o diretor da vez claramente optou por não se alongar na infância. Não se aprofundou no “antes”, mas mais no depois que Rita Lee “estourou”. Infelizmente não acho um recorte tão relevante, pois já a conhecemos. Todo mundo a conhece pelo menos basicamente. Tem histórias muito interessantes que ela conta como quando virou amiga e aprendiz de Caetano Veloso e Gilberto Gil, mas honestamente, nem momentos posteriores são muito aprofundados. O documentário, em geral, não se aprofunda. Poderia ter aproveitado muito mais informações que ela deu. As escolhas de direção e montagem parece que tentaram enxugar muito. Resumiram tanto que fica algo raso. Fica aquele “gostinho de quero mais”, mas não necessariamente de um jeito bom. 


              A direção também não teve uma identidade marcante. Todo diretor tem sua personalidade e deixa a sua marca. No entanto, me pareceu uma direção solta demais por talvez não saber o que se pretendia. Não deu para sentir identidade e personalidade do diretor. 


            Um documentário sempre é conduzido pelas perguntas que o diretor faz. E talvez ele não tenha sabido explorar a chance de trocar uma ideia com a incrível Rita Lee, pelo menos não da forma que deveria. Será que ele não chegou a se aprofundar nas perguntas de sua infância? E se sim, por que não integraram no chamado “corte final” do filme? Não seria interessante e inovador saber mais sobre essa perspectiva de sua vida? Como seria enxergar esta cantora incrível por um ângulo jamais visto? Se a justificativa for “porque o filme ficaria muito longo”, então mais uma vez posso apontar os erros da montagem, que colocam músicas inteiras de shows que a cantora fez. Para quê? Coloque um trecho apenas, ora! Não queremos assistir um show inteiro. Queremos saber da sua biografia. No caso, sua autobiografia. Ao invés de enxugar informações importantes, poderiam enxugar coisas óbvias como apresentações da cantora. Não precisava incluir as músicas na íntegra. 


            O documentário, no entanto, inova pois grande parte dele se passa com Rita Lee fazendo seus relatos de dentro de um carro em movimento e que passeia por pontos marcantes para ela, na cidade de São Paulo. Isso dá dinamicidade. É muito bacana. No entanto, o manuseio da câmera e as escolhas de qual ângulo incluir na edição fez parecer com que fosse um trabalho de escola. Muitas vezes as escolhas de câmeras tremidas (por puro descuido, não intenção) poderiam ser evitadas, mas são incluídas. Por que? Tiro no próprio pé. Isso não parece “linguagem documental” e sim linguagem de amadorismo mesmo. Eu esperava mais. 


             O Filme se encontra disponível na Amazon. 

Título Original: Rita Lee: A Ovelha Negra

Direção: Roberto de Oliveira

Duração: 71 min

Elenco: Rita Lee 

Sinopse: Rita Lee narra momentos sobre sua vida, além de conter várias performances na íntegra de alguns de seus shows. 



Trailer:






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