Crítica: Para Todos os Garotos – P.S. Ainda Amo Você (2020, de Michael Fimognari)

Lançado em 2018, Para Todos os Garotos que Já Amei fez sucesso por ser um romance adolescente de tirar o fôlego. Reunindo todos os clichês possíveis e imagináveis, ele trouxe de volta um tipo de comédia romântica que há muito tempo não se fazia e de que os românticos incuráveis estavam precisando. Sua continuação, entretanto, não se mostrou tão necessária assim.

Lara Jean Song Covey retorna no segundo filme da trilogia como a mais nova namorada de Peter Kavinsky. Cheia de inseguranças devido à popularidade de Peter e ao fato de ele ter se relacionado com Genevieve no passado – enquanto a garota nunca tivera nada sério com ninguém –, Lara Jean é ainda mais confrontada por seus sentimentos quando recebe a resposta da última carta de amor que escreveu, destinada a John Ambrose McClaren.

A vida da garota começa a se complicar quando as pequenas coisas em seu relacionamento com Peter viram uma bola de neve. Embora ela conte para ele quando recebe a carta, eles não têm grandes diálogos a respeito disso – ou de qualquer coisa –, e podemos ver que comunicação não está sendo o forte no relacionamento dos dois, de ambas as partes. Além disso, as inseguranças da protagonista são, para muitos, insignificantes, mas para ela têm um peso enorme e por muitas vezes podem ser ensurdecedoras.

Toda a questão de Lara Jean não se sentir segura com Peter faz com que ela não se pareça tanto com ela mesma, com a Lara Jean que nós conhecemos no primeiro filme, e talvez esse seja um dos pontos mais realistas da história, o que é estranho, mas, ao mesmo tempo, interessante. Peter Kavinsky também não se parece muito com o que nós conhecemos, todavia de uma forma diferente. Ele não parece tão fofo e encantador quanto antes, e por isso não é difícil John Ambrose roubar a cena quando aparece. O novo – embora antigo – interesse amoroso de Lara Jean se mostra muito encantador, simpático, gentil, fofo e conquistador, mas seria ele o suficiente para roubar a garota dos braços de Peter?

A respeito das outras personagens, pode-se dizer que Kitty, a irmã mais nova de Lara Jean, e Dan, o pai das garotas, continuam maravilhosos. A Srta. Rothschild, vizinha da família Covey, é uma nova personagem que, apesar do seu pouco tempo de tela, também se mostra bastante amável. Nesse filme, Margot, a irmã mais velha de Lara Jean, mal aparece, enquanto Josh, seu ex-namorado e um dos caras para quem LJ escreveu uma carta, não dá sinal de vida – sumiço esse que pode ser explicado na sequência, caso ela seja fiel aos livros de Jenny Han.

Antes de o filme ser lançado, em uma das entrevistas, foi dito que Lucas, amigo da protagonista, teria mais destaque no longa, mas, na verdade, tudo o que ele faz é dizer poucas frases. É uma pena que uma personagem tão interessante tenha tão pouca importância, mas é até justificável, já que ele não tem muito destaque na obra original. Chris, a melhor amiga de Lara Jean, continua tendo sua importância, e agora engata um romance escondido que por vezes se torna mais chamativo que a história principal. Mas uma personagem secundária que realmente surpreendeu foi Genevieve, que deixou de ser apenas a “ex do Kavinsky” que odiava LJ por coisas ridículas para se tornar uma das pessoas mais sensatas dessa história. Mesmo tratando Covey com desprezo algumas vezes, ela consegue mostrar seu lado bom, tendo assim o que podemos chamar de sua redenção.

Em dado momento da narrativa, Lara Jean se torna voluntária em uma casa de repouso, e lá conhece Stormy, uma senhora de quem se aproxima e que é, de longe, a melhor personagem do filme. Com um ar de sofisticação, Stormy se mostra uma pessoa muito real, sábia e carinhosa, e trata Lara Jean como uma amiga, ou até mesmo uma neta. A interpretação de Holland Taylor foi excelente, é impossível pensar em uma pessoa que assumiria esse papel de uma forma melhor.

A atuação de Lana Condor está como esperado nesse filme, seguindo a linha do anterior, ao passo que a de Noah Centineo parece um pouco irritante, muito provavelmente porque ele passa a impressão de interpretar a mesma personagem em todos os filmes que faz – seja esse, O Date Perfeito, Sierra Burgess é uma Loser ou SPF-18. Jordan Fisher substituiu Jordan Burtchett no papel de John Ambrose e fez um trabalho ótimo, contudo não há muito tempo ou espaço para ele se desenvolver, tornando-se, assim, uma personagem rasa e pouco explorada.

Para ser sincera, a maioria das personagens desse filme parecem rasas, mesmo as que já conhecemos, e esse é o maior defeito do filme. Todas parecem distantes e vazias, como se não houvesse uma preocupação em aprofundar a história, e por isso muitas cenas parecem apenas jogadas, dando a sensação de que o filme é quebrado ou sem propósito. Por mais que a química entre Lana Condor e Noah Centineo seja admirável, as personagens não parecem crescer juntas, porque, na narrativa, elas não parecem se conectar.

Um dos principais motivos para esse estranhamento ocorrer é a mudança de direção. Susan Johnson não retorna para Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você, que passa para as mãos de Michael Fimognari. Enquanto Susan tem uma noção do que o seu público-alvo quer, Michael parece perdido e tenta com todas as forças não estragar tudo. Uma vez que diversos aspectos da continuação pareceram forçadas, Fimognari falhou em tentar repetir o que a diretora do primeiro filme fez de uma forma que soou natural e espontânea.

Susan Johnson parecia compreender Lara Jean e todas as personagens ao seu redor, incluindo os dramas diversos que fazem parte da vida das personagens; não à toa o primeiro filme recebeu 97% de aprovação da crítica e 86% do público no Rotten Tomatoes. Já o segundo alcançou a marca de 76% de aprovação da crítica e apenas 44% do público, mostrando-se uma verdadeira decepção aos que por dois anos criaram uma expectativa imensa para esse filme. Michael Fimognari não compreende as personagens da mesma forma, nem entende seus dramas pessoais, e isso fez com que ele criasse uma adaptação fraca, vazia e quase sem história.

Apesar de tudo, a trilha sonora continua excelente; as músicas foram muito bem escolhidas e sabem como e onde aparecer. A única estranheza ocorre em uma cena na qual Lara Jean está triste e, ao som de Moral of the Story, da Ashe, começa a cantar olhando diretamente para a câmera. Apesar de ser compreensível, não acredito que a escolha tenha sido a melhor para expressar os sentimentos da personagem.

A mesma coisa acontece com o uso do voice-over, técnica que em muitos momentos desse filme funcionam, mas que poderiam ter sido facilmente substituídos por elementos já criados no filme anterior. Por exemplo, as cenas em que a Lara Jean está em seu quarto tendo um milhão de pensamentos: em vez de se usar o voice-over, poderia ter usado a jogada de inserir conversas dela com as pessoas envolvidas nessa situação, mostrando-as dialogando com Covey fisicamente, mesmo que a conversa se passe em sua imaginação. Essa técnica, muito bem utilizada por Susan Johnson, é quase esquecida por Fimognari e poderia ter feito uma grande diferença.
No que diz respeito à fotografia, ela continua bastante artística, agora bem mais puxada para o azul, relacionando-se com os sentimentos da protagonista em partes da narrativa. O trabalho foi muito bem-feito, porém a paleta de cores é muito regrada e focada em poucos tons – a maioria das cenas é composta apenas por variações de azul, amarelo, rosa e/ou vermelho. É lindo? Definitivamente. Mas o fato de as cores seres milimetricamente calculadas torna o filme “perfeito” demais, bem pouco natural e bastante forçado, tornando-se até mesmo incômodo aos que reparam demais. A única personagem que parece ter um guarda-roupas que vai além do azul é Lara Jean, e de seu figurino não podemos reclamar, pois está sempre impecável, característico da personagem.

No geral, Para Todos os Garotos: P.S. Ainda Amo Você é bom, mas poderia ter sido muito melhor. Nas mãos de Fimognari, ele ganha um tom infantil e talvez até um pouco birrento. Todos os conflitos poderiam ter se resolvido com diálogos rápidos, e, pelo que me lembro, o livro tinha muito mais a oferecer do que isso. É impossível não comparar o “fracasso” dessa continuação com o filme anterior ou o livro que serviu de inspiração, uma vez que as expectativas vinham de todos os lados. Até mesmo os trailers conseguiram ser a causa de decepções, visto que diálogos presentes neles não estavam no filme. Dessa forma, os que não foram tão fãs do primeiro filme ou desconhecem os livros de Jenny Han podem curtir bem mais o longa – ele ainda é uma boa opção para se ver em um dia de chuva, debaixo das cobertas, tomando um chocolate quente.

Sobre o terceiro e último filme da trilogia, adaptado do livro Agora e Para Sempre, Lara Jean, o que se sabe é que ele já foi filmado, também com a direção de Fimognari. Ao que tudo indica, ele será lançado pela Netflix até o próximo ano, mas não há nada confirmado a respeito da data de estreia até agora.
Título Original: To All The Boys: P.S. I Still Love You

Direção: Michael Fimognari

Duração: 102 minutos

Elenco: Lana Condor, Noah Centineo, Jordan Fisher, Holland Taylor, Emilija Baranac, Anna Cathcard, Madeleine Arthur, John Corbett, Ross Butler, Sarayu Rao, Trezzo Mahoro, entre outros.

Sinopse: Lara Jean (Lana Condor) não esperava se apaixonar por Peter Kavinsky (Noah Centineo) quando eles fingiam namorar, mas a relação entre os dois rapidamente deixou de ser artificial. Só que, ao se reconectar com uma paixão do passado, John (Jordan Fisher), tudo fica ainda mais complicado para a jovem, que precisa entender o que se passa internamente para tomar uma grande decisão.

Trailer:
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