O Feminismo e Princesas Clássicas da Disney

Na matéria à seguir analiso especificamente filmes clássicos em 2D das princesas da Disney, e principalmente analisaremos o quão feminista cada uma delas conseguiu ser em suas histórias, por isso infelizmente não se enquadram os novos filmes feitos em 3D, como Valente, Rapunzel e Frozen, por exemplo, e mesmo Tiana, do filme A Princesa e o Sapo, pois ela é uma princesa recente e considerada moderna. Meu intuito aqui é analisar as antigas e refletir sobre como foram criadas. 



Mulan 

Sendo uma das mais feministas, Mulan provou a todos que uma mulher pode, sim, lutar e honrar a família de muitos outros jeitos que não só “casando-se bem”. Logo no início do filme vemos que as recomendações dadas à Mulan era que não fosse ansiosa, mas sim atenciosa, contida e paciente. Essas palavras até podem não significar coisas erradas à primeira vista, mas quando aplicadas neste contexto de casamenteira não é nada feminista. Mulan não tem que ser uma coisa específica ou deixar de ser algo para que um rapaz goste dela. E apesar desse discursinho estar sendo reproduzido por mulheres na cena, é claro que essas regras não nasceram das mulheres. Este tipo de frase é fundamentada no machismo e no sexismo, originado do pensamento de que homens são superiores. Acho que o mais ofensivo do discurso reproduzido pela casamenteira, talvez, é a história de ser “obediente” e só falar quando permitida. A única pessoa que pode ditar quando você, mulher, pode falar ou não é você mesma, a sua própria vontade. Não seu namorado, marido, pai ou qualquer outro e outra. E Mulan estava sendo criada para deixar de servir ao seu pai, para servir ao seu futuro marido. E é dito a ela que com seu jeito de ser não conseguiria arranjar um, então precisava estudar muito para mudar seu jeito e se encaixar numa heteronormatividade, tendo que exibir uma feminilidade aceitável. 

      Alguns podem dizer: “Ah, mas o filme retrata uma época muito antiga”. Na verdade o filme é inspirado numa lenda muito antiga sobre a guerreira da China: Mulan. Mas honestamente, a Mulan da Disney representa os descendentes asiáticos, e isso eu descobri após ler muito sobre o assunto e ao assistir esse vídeo muito interessante: https://www.youtube.com/watch?v=h7p49d0CZFoNunca havia pensado no filme desta maneira, mas concordo muito com tal interpretação. A Mulan da Disney, pelo menos enquanto desenho, representaria os descendentes que se veem entre as tradições antigas de suas origens, e o mundo atual, moderno, bem ocidentalizado em conceitos, cultura e concepções. A Mulan, no meio disso tudo, não se vê só numa coisa ou em outra, não cabe num rótulo ou numa caixinha, e isso é lindo, até porque ninguém deveria se contentar em ser resumido a uma coisa ou outra. Somos todos plurais. Então apesar de parecer falar de uma China antiga, acredito que a Disney possa estar fazendo uma metáfora com o mundo oriental ou não, pois o ocidental também é apegado a muitas tradições, conservadorismos desnecessários e regras sem fundamento, se não no machismo. Coisas um tanto quanto antiquadas e sexistas. E Mulan quebra isso tudo brilhantemente bem. E além de tudo temos a bissexualidade representada pelo par de Mulan, o general, que gostava dela sendo homem ou não. 
A Pequena Sereia


Este filme sempre foi um dos meus favoritos da Disney. As pessoas costumam criticá-lo pois dizem que Ariel abriu mão de ser sereia para ficar com Eric, mas da maneira que eu vejo, ela nunca gostou da ideia de ser sereia para sempre. Desde o início vemos ela encantada com o mundo dos humanos, depois ela acabou se apaixonando por um deles, e aí foi meio que o gatilho para querer sair de vez de lá. Ao meu ver ela nunca se encaixou naquele mundo do mar, e nem queria ser princesa, isso está mais nas entrelinhas. Porque ser princesa geralmente requer regras rígidas que nos podam, e Ariel sempre foi muito aventureira e também rebelde. 
Desde criança nunca vi Ariel como aquela que abdicou de tudo por um homem, eu juro que sempre vi ali uma metáfora do tipo: por mais que pareça impossível, não desista, você conquistará seus sonhos. Principalmente eu, que nunca me senti encaixada no meio que vivia durante minha adolescência, então entendo ela. O amor por Eric foi mera coincidência, gatilho para que sua vontade de se tornar humana fosse cumprida. Para mim ela conquistou seus sonhos, ter pernas, sair debaixo do controle abusivo de seu pai e andar por aí, indo onde quer que fosse. 

Úrsula também tem um discurso muito machista ao tentar convencê-la de que não precisava de sua voz para conquistar Eric, afinal, “o homem abomina tagarela. Garota caladinha ele adora”. Ou seja, mulheres não devem falar o que pensam, porque isso não é atraente. Devem ser obedientes, apenas. E ela sendo muda seria o “rostinho bonito” perfeito. Seria, pior que isso, só um corpo. Só uma mulher bonita, e nada com conteúdo, pois dificilmente se expressaria. 

Cinderela

Para quem reclamava de Ariel, esta sim infelizmente depende e muito, de seu príncipe. A pobrezinha leva uma vida miserável, pois mesmo sendo a dona da casa, sua madrasta e irmãs postiças desconsideraram como sendo sua herança, e usurparam, além de transformar a garota em sua escrava. 

Ao invés de adotar o plano “fugir para a floresta”, estilo Branca de Neve, ela resolveu ficar e sofrer. Realmente, Cinderela não tem muita atitude, mas claramente é uma história que reflete padrões de comportamento de outra era, além do mais, é adaptada de um conto muito antigo também. E não vamos nos esquecer que a animação em si é antiga, de 1950. 

A Bela Adormecida



Inegável que o design desta animação da Disney é, com certeza, um dos mais belos e que chamam mais a atenção por conter todo um cuidado na reprodução do estilo gótico arquitetônico. Coisa que não é vista em outras animações. A Bela Adormecida encanta pela trilha sonora e pela beleza do filme, mas como pode a protagonista ter apenas uma função: a de dormir e esperar? 
Quem salva o dia, e rouba o protagonismo do filme é seu futuro maridão, que a desperta pelo “beijo do amor verdadeiro”, que é o que diz a profecia. E que amor verdadeiro é esse já que só se viram pessoalmente umas 2 vezes na vida, sendo uma delas quando crianças? Aliás, ela era um bebê de berço. 

Na próxima matéria analisaremos Jasmin, Bela, Tiana, Branca de Neve e Pocahontas!






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