Crítica: A Letra Escarlate (1995, de Roland Joffé)

Mostrando a situação da mulher no século XV, em que o estado e a religião simplesmente se enredavam, o filme pousa sobre os ombros de Hester Pryne (Demi Moore), uma mulher um tanto avançada para o seu tempo, que encontra no novo mundo os antigos preconceitos e arquétipos que regiam a Inglaterra hipocritamente puritana do supracitado século. Onde um “pecado” pode ser a razão para os males da sociedade da época, o filme expõe como o preconceito e a injustiça regiam, veementemente aliados pela intolerância.

O enredo se passa em 1666, quando Hester, uma mulher casada com o médico Roger Chillingworth (Robert Duvall), chega em Massachussetts na frente do marido, com o intuito de providenciar um lar para o casal. Entretanto, nossa linda protagonista, para seu pior infortúnio, se apaixona pelo reverendo Arthur Dimmesdale (Gary Oldman), que, para piorar a situação, nutri por ela os mesmos sentimentos. Os dois reprimem o amor que sentem um pelo outro unicamente pelo fato de Hester ser casada, no entanto, quando ela supõe que o marido foi morto pelos índios, se vê livre e desimpedida e acaba por ficar grávida do reverendo (mais infortúnios?). Pronto, Hester fica marginalizada, com má fama, pois se recusa de pés juntos a revelar o nome do pai da criança; passa, então, em uma cerimônia pública humilhante, a portar por toda a vida um “A” de adúltera bordado em escarlate em suas roupas, representando a vergonha aos olhos da sociedade.


O filme nos convida a intensa ponderação sobre os valores que acreditamos. Onde a mulher era subjugada perante os homens, hoje podemos dizer que a situação mudou, ainda que com algumas barreiras que persistem em irem ao chão.

A Letra Escarlate possui várias versões para o cinema desde 1908. Mas todos eles têm sua base: adaptações do clássico de Nathaniel Hawthorne publicado em 1850, considerado proibido durante muitos anos, barrado justamente por grupos religiosos e perigosamente moralistas que, infelizmente, devo admitir, ainda têm força nos dias de hoje. Soube que a inspiração do autor foi o meio puritano em que foi criado. O romance, assim como todas as adaptações para o cinema, evidenciam claramente a luta entre os valores morais e os desejos e paixões naturais altamente repudiados (carpe diem, hã?).

Mas falemos do filme. Dizem que a versão de 1926 é de longe a melhor. Lillian Gish, com seu rosto resplandecente enquanto atuava, fazia uma verdadeira alusão as restrições morais que enfrentava fora das telas, assim como a personagem. E de fato o filme é a melhor adaptação, mas para quem leu A Letra Escarlate e deseja assistir o filme para concretizar opiniões, a versão de 1995, a qual essa crítica se baseia, talvez seja a mais fácil de encontrar.

Versão de 1926.

Demi Moore vivenciou o papel fazendo jus a excelente atriz que é (a cena do parto é de arrepiar, diga-se de passagem). Em nenhum momento conseguiu passar um ar enfadonho. Sua atuação não chega a ser brilhante e digna de jubilosos comentários, porém é uma verdade absoluta que interpretar Hester Pryne foi um trabalho muito bem feito, claro, nada em embate com outros como, por exemplo, a inesquecível Molly Jensen em Ghost – Do Outro Lado da Vida.


Gary Oldamn, o reverendo, executou o papel de modo formidável, merecendo minhas palmas. É um ator excepcional e mostrou, em cada vinco de seu rosto, em cada expressão de olhar e gesticulações, o conflito interno pelo qual seu personagem passava. Mas saindo do elenco, ah, o filme é certamente uma superprodução para a época: locações de respeito, figurinos impecáveis e ótima trilha sonora. Essa versão conta com um toque de erotismo que muitos criticaram, o intento da trama, porém, é exatamente esse: romper com os arquétipos e padrões constituídos e estabelecidos por hipócritas alienados. O que tem de mais em um pássaro assistir a cena de amor dos protagonistas enquanto a empregada toma banho na banheira da patroa? Nada de mais se levarmos em conta o argumento de defesa supracitado.


Roland Joffé, o diretor, conseguiu mostrar de modo primoroso os vários conflitos existentes no filme, mas sem tender para um lado específico, deixando a história de amor impossível no meio de todas essas intempéries, fazendo nós, expectadores, roerem as unhas e torcer para que o casal dê certo e tenha um final feliz.

Por fim, para aqueles que odeiam quando o filme se distancia do livro, certamente vão ficar aborrecidos com o final. No entanto vale a pena assistir essa versão, uma vez que indo muito mais além de uma adaptação, a mensagem que o filme convoca é simplesmente que o rigor exagerado nos princípios cega a razão e faz com que o homem, cada vez mais, se aproxime de animais irracionais, travando batalhas em seu interior.
Título Original: The Scarlet Letter

Direção: Roland Joffé

Duração: 135 minutos

Elenco: Demi Moore, Gary Oldman, Robert Duvall, Joan Plowright, Robert Prosky, Edward Hardwicke, Roy Dotrice, Amy Wright, Lisa Joliffe-Andoh, Larissa Laskin e mais.

Sinopse: Em 1666 em Massachussetts, Bay Colony, uma bela mulher (Demi Moore) casada com um médico (Robert Duvall) chega na localidade na frente do marido, com a incumbência de providenciar um lar para o casal. Mas ela fica apaixonada por um reverendo (Gary Oldman), que tem por ela os mesmos sentimentos. No entanto, eles reprimem tais emoções pelo fato dela ser casada, mas quando ela supõe que seu marido foi morto pelos índios ela se sente livre e acaba ficando grávida do reverendo. Mas, como apesar de ficar presa e socialmente marginalizada ela se recusa a dizer o nome do pai da criança, passa então a portar um “A” de adúltera bordado em cores vermelhas em suas roupas, como símbolo de sua vergonha perante a sociedade local.

Trailer:


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