Crítica: Elon Não Acredita na Morte (2016, de Ricardo Alves Júnior)

Filmar com a câmera na mão, seguindo o protagonista, é um artifício que, se usado de maneira devida, consegue aproximar o espectador da personagem e o colocar diante de suas problemáticas de maneira mais intensa. O problema surge quando, nesta tentativa, a proximidade acaba por afastar quem assiste, seja por conta do excesso, da gratuidade ou de um roteiro mal elaborado.

O caso de Elon Não Acredita na Morte, filme do mineiro Ricardo Alves Júnior, encaixa-se na terceira opção. Não que o longa, na verdade, possua um roteiro ruim ou uma premissa fraca. Do contrário, a ideia de acompanharmos um homem na busca por sua esposa que desaparece misteriosamente é realmente interessante. O infortúnio surge quando a narrativa em si não é bem trabalhada o suficiente e se estabelece sob a qualidade elemento visual. A construção cênica é bem elaborada e se encaixa com a proposta, porém é prejudicada justamente pelo texto.

No filme seguimos Elon, que perambula por vários lugares escuros e decrépitos, conversando com sujeitos particulares, sempre atrás da esposa que sumiu. A câmera está sempre próxima do protagonista, seja em sua nuca ou em sua face, no estilo “câmera na mão”, aproximando o espectador da personagem e o colocando em sua própria claustrofobia perdida. É compreensível a tentativa de criação deste sentimento de desnorteamento, reforçado pela iluminação escura ou neon e os cenários sujos e vazios, muitas vezes vistos sob a luz de uma lanterna, porém o próprio ato de aproximação se repele em um afastamento, justamente por conta da construção narrativa insuficiente. A organicidade do filme é prejudicada pelo texto que acaba se mostrando frágil para um longa-metragem de 74 minutos e sedimentado sobre diálogos que, apesar da proposta absurda, soam inverossímeis até na construção interna da obra.



Dessa maneira, há uma falta de engajamento do espectador em relação ao filme. Tudo que se assiste na tela ou acaba se tornando desinteressante, por não se sustentar narrativamente, ou não possui o envolvimento emocional suficiente e não suscita o interesse de quem assiste – coisa que é essencial em um thriller. Fica-se, então, diante de um filme vazio, pois há a gênese de uma ideia embasada na construção formal que, por não se sustentar no texto, culmina em uma narrativa oca.

Não que o filme seja de todo desinteressante, como estudo visual há uma bela elaboração estética, certo elemento progressivo que se assemelha a uma experimentação urbana e suja, porém sem a verdadeira entrega para possibilitar este rótulo. Ou seja, estar preso a seu guia narrativo que não possui força o suficiente para a sustentação é o que prejudica a composição de um filme experimental interessante, que poderia apostar justamente no jogo cênico para a criação de tensão e angústia.



Porém, Elon Não Acredita na Morte se insere, de maneira importante, como uma tentativa de construção deste tipo cinematográfico em meio à falta destas produções no Brasil. Assim, vale assistir pela elaboração visual, ainda que narrativamente desperdice um potencial que poderia ser gasto melhor com um roteiro mais elaborado e alinhado com o elemento estético, ou em um curta-metragem. Fica a expectativa para se assistir aos curtas de Ricardo Alves Júnior para, ao menos, encontrar o princípio do trabalho aqui elaborado e buscar um possível trabalho melhor elaborado organicamente.

Título Original: Elon Não Acredita na Morte

Direção: Ricardo Alves Júnior

Duração: 75 minutos

Elenco: Rômulo Braga, Clara Choveaux, Lourenço Mutarelli, Grace Passô

Sinopse: A esposa de Elon (Rômulo Braga), Madalena (Clara Choveaux), desaparece misteriosamente e não volta para casa depois do trabalho. Ele inicia então uma longa jornada por respostas: começa a seguir as rotas diárias da mulher, além de visitar os lugares mais sombrios da cidade. Mas o que ele encontra são vários mal-entendidos e estranhos encontros.

Trailer:

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