Crítica: Mindhunter – 2ª Temporada (2019, de David Fincher e mais)

Em sua muito bem construída primeira temporada, Mindhunter teceu de maneira instigante a investigação e mergulho no cérebro de psicopatas realizada dentro da Unidade de Ciência Comportamental do FBI. O tom sombrio foi um grande acerto, uma vez que o agente Holden Ford, muito bem interpretado por Jonathan Groff, foi desenvolvido de maneira fascinante graças a seus métodos pouco convencionais que puseram em cheque a ética versus agregação de conhecimento em prol da sociedade. Tendo isso bem estabelecido em seu primeiro ano, o que Mindhunter poderia nos oferecer em seguida? 

A resposta é: aplicar tudo que aprendemos sobre serial killers na primeira temporada de maneira prática, dando vigor e substância à pesquisa desenvolvida pelo trio principal de protagonistas. Para isso, Ford e Tench vão para Atlanta investigar o assassinato de crianças negras. Temos aqui uma ideia sensacional e muito lógica de roteiro, que, no entanto, demora demais para ter seu pontapé iniciado. Entretanto, o clima de tensão racial e o envolvimento profundo de Holden em todo o desenrolar da investigação até o fim é construído de modo curioso, entregando o conflito principal da temporada de maneira muito bem amarrada e uma boa novidade para a série.
Distanciando do plot principal, tivemos a introdução do novo diretor do FBI, Ted Gunn (Michael Cerveris), que acrescenta uma boa ajuda e prestígio à Unidade de Ciência Comportamental. Além disso, a subtrama de Tench dessa vez é mais densa e conversa muito bem como toda a temática em questão. Seu arco é bem resolvido do início ao fim, acompanhando a corrosão de sua família e casamento (destaque para Stacey Roca como Nancy Tench) por conta do assassinato de uma criança no qual seu filho adotado, Bryan, esteve envolvido, traçando então um comovente paralelo com o enredo geral.

O mesmo não pode ser dito do arco de Wendy Carr (Anna Torv) que soa avulso. Enquanto o plot de Ford se desenrola primordialmente em Atlanta, na busca por um serial killer, e o de Tench se divide entre a investigação e seus problemas familiares, Carr inicia um romance com Kay Manz (Lauren Glazier) e… só isso mesmo. O único paralelo estabelecido aqui é que ela deve tomar conta da Unidade de Ciência Comportamental e, em um certo momento, o roteiro decide que ela deve conduzir as próximas entrevistas com psicopatas, dando sequência ao trabalho que Ford e Tench ficam impossibilitados de fazer. No entanto, essa sensacional ideia morre na praia, e toda a trama de Carr com Manz torna-se não só avulsa, como também um grande sub plot sem grandes propósitos. É uma pena, pois tanto a interpretação de Torv quanto a personagem em questão são fascinantes. 
Sem dar grandes spoilers, temos poucas mas interessantes entrevistas nessa temporada, como a do personagem de Damon Herriman. No geral, porém, elas fazem falta. Não apenas isso, mas a alternância mais intrincada entre entrevista e investigação propriamente dita seria muito benéfica à progressão narrativa, que, se pararmos para pensar, fica mais estagnada no desenvolvimento de estudo psicológico em relação ao ano anterior, que abordou tais eventos com um olhar técnico muito perspicaz. Essa falta de sagacidade talvez revele que a fonte da série esteja aos poucos se esgotando.

Mindhunter, em sua segunda temporada, ainda que inferior a primeira, continua relevante e trazendo à tona interessantes questões psíquicas e morais para a contemporaneidade. Talvez a solução para os próximos passos seja adentrar mais afundo em questões sociais, uma vez que a tensão racial enriqueceu e muito a narrativa. Para mais, a série segue com atuações de primeira, direção primorosa de Fincher, Dominik e Carl Franklin e uma estética sensacional que emulam o tom necessário para tornar toda essa experiência algo interessante.

Título Original: Mindhunter
Direção: David Fincher, Andrew Dominik, Carl Franklin
Episódios: 9
Duração: 50 min
Elenco: Jonathan Groff, Holt McCallany, Anna Torv, Cotter Smith, Stacey Roca, Joe Tuttle, Michael Cerveris, Lauren Glazier, Albert Jones, Sierra McClain, June Carryl, Sonny Valicenti, Regi Davis, Cameron Britton, Happy Anderson
Sinopse: A série se passa em 1977 e gira em torno de dois agentes do FBI que entrevistam assassinos em série presos para tentar resolver casos em andamento.
Trailer:

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