“A desigualdade é a raiz do males sociais”
– Papa Francisco
O diretor Bong Jon-ho ficou conhecido pelos seus longas repletos de críticas ao capitalismo desenfreado e reflexões sobre questões de classe como os aclamados Okja e Expresso do Amanhã. O coreano se esforça para que suas obras sejam um reflexo da realidade e do contexto sócio-politico atual, e assim estimulem questionamentos sobre os problemas sociais contemporâneos e demonstrem como a desigualdade social constitui um sistema extremamente injusto.
Parasita segue a mesma linha de reflexão contando a história de um jovem coreano que se encontra em situação de vulnerabilidade social e através de um elaborado esquema consegue garantir um emprego para todos os seus familiares na mansão de uma família rica. O filme constrói arquitetadamente um retrato social dicotômico entre uma Coréia do Sul abastada e privilegiada e uma outra desfavorecida e humilde sem se perder em clichês e fórmulas, criando assim uma obra extremamente original e instigante.
Embora suas atitudes antiéticas se intensifiquem durante o filme, a família Kim inicia a trama como uma família de classe popular comum fazendo o possível para sobreviver, chegando ao ponto de deixar a janela aberta durante a dedetização da rua para conseguirem dedetizar a própria casa de graça. Essa cena exemplifica o quão angustiante é a situação financeira da família. Eles literalmente só possuem a intenção de manter seus empregos e garantir uma renda para se manterem de maneira digna.
O roteiro desenvolve aos poucos as características de seus protagonistas engajando o público a se colocar no lugar dos mesmos e compreender suas motivações. O primeiro plano do filme em que vemos através da janela do apartamento dos Kim serve como metáfora ao colocar o telespectador literalmente na posição dos personagens enxergando o mundo do lado de fora a partir do mesmo ponto de vista deles. Somos convidados a nos infiltrar no cotidiano daquelas pessoas e sentir o mesmo desespero que eles. A cena do apartamento-porão alagado e pai e filhos fazendo o possível para conseguir salvar o pouco que possuem força o telespectador a se questionar se não faria o mesmo vivendo aquela situação.
É interessante notar como as duas famílias retratadas no filme, por mais proximidade que tenham, estão sempre extremamente distanciadas devido as suas realidades sociais. Até mesmo na forma de tratamento de cada um dos membros da família Kim é possível notar uma diferença. Kevin e Jessica por serem tutores dos filhos dos Park são sempre tratados com um nível de respeito e cordialidade maior já que seus cargos possuem um tom mais elitista, enquanto que seus pais que estão em funções mais serviçais são tratados de uma maneira mais distanciada.
O Sr. e a Sra. Park representam bem como funciona a dualidade entre patrão e empregado, pois por mais gentis que eles sejam com seus funcionários, há sempre a lembrança que a relação que existe ali não é amistosa, mas sim veementemente empregatícia. O mal cheiro que o patrão diz sentir quanto está perto de seu motorista é o exemplo perfeito do classismo sutil que é apresentado pelo filme, deixando claro que o casal Park não enxerga seus empregados como iguais. É interessante ver como a narrativa vai elaborando a tensão entre classes sutilmente até sucumbir ao ápice dramático do filme.
Não deixem de conferir um dos melhores filmes do ano!