Crítica: Capitão Fantástico (2016, de Matt Ross)



Confira nossas outras críticas sobre o filme aqui e aqui!


Lançado em 2016 e dirigido por Matt Ross, Capitão Fantástico é um longa metragem norte-americano que conta a história de uma família que foge completamente aos padrões sociais enquanto faz uma dura crítica à sociedade capitalista, sem deixar de questionar-se a respeito de seus próprios idealismos.


Ben (Viggo Mortensen) e seus seis filhos, Bodevan, Kielyr, Vespyr, Rellian, Zaja e Nai, todos únicos e inusitados, assim como seus nomes, vivem em uma floresta excluídos da sociedade, onde constroem um modelo familiar horizontal e subsistente. São esses personagens e suas peculiaridades que – assim como o roteiro encantador e atuações cativantes – prendem o interesse do espectador, que é levado a acompanhá-los e que de certa forma torna-se cúmplice de seu estilo de vida. O filme então sugere uma vivência alternativa, alheia a sociedade de consumo, harmoniosa e idílica.


Em sua primeira aparição os personagens têm seu caráter animalesco evidenciado. Aparecem no meio do mato, sujos, caçando com as próprias mãos sua próxima refeição. Entretanto, após sua introdução – e um divertido banho de rio – os personagens recuperam sua humanidade enquanto o espectador é inserido na rotina da família, e cada vez mais seduzido por ela.

Assim como diversos outros aspectos da família, sua rotina é única. Utópica e ecológica, cada qual com sua função, todos cuidam do lar e do ambiente familiar. O dia-a-dia da família é pautado por um treinamento intensivo (físico e intelectual) e, principalmente pela união entre os personagens e pela felicidade vigente. Porém, logo é apontado – pelo vazio no interior da casa – a ausência da mãe.
O fim desse primeiro ato que apresenta os familiares e sua rotina se dá pelo descobrimento da morte da mãe, Leslie. Leslie sofria de depressão e acaba cometendo suicídio. Sua morte faz com que a família seja forçada a abandonar seu exílio para impedir que ela fosse enterrada contra sua vontade (Leslie era budista e desejava ser cremada, o que dá início à “Operação Salvar Mamãe”). Porém, ao deixar seu isolamento, a família se depara com um mundo desconhecido, e é forçada a encarar suas próprias debilidades.

A relação entre a família e a sociedade é de completa oposição, fato muito bem demarcado pela direção de arte (com figurinos mais que extravagantes) e evidenciado principalmente nas cenas em que interagem com outros parentes como os avós, que representam a burguesia dona do poder, e com os tios e primos, que representam uma família americana medíocre imersa na sociedade de consumo. Os atritos e discrepâncias entre as crianças e o “mundo real” são gritantes. A falta de contato social e algumas atitudes extremas (como a “Operação resgatar a comida”) aparecem como um problema e um perigo na estrutura familiar.


O encontro com a sociedade revela seus defeitos e escancara o fato de que a vida da família não é perfeita. Mesmo com a tentativa de construir um estilo de vida que beirava a perfeição ideológica, os personagens são humanos e cometem erros. E é justamente o fato de deixarem seu conto de fadas que faz com que eles percebam e encarem seus problemas intrínsecos.

Dessa forma, a trajetória da família parte de um modelo utópico completamente desconectada da realidade social, para conseguir encarar seus defeitos e poder ir em busca de um desfecho harmonioso. Nem os padrões da sociedade capitalista, nem a utopia do isolamento. Em seu desfecho, os personagens alcançam certo equilíbrio entre sua filosofia de vida e sua existência em sociedade. As crianças seguem vivendo de forma natural e sustentável em sua casa – agora não mais isolada na floresta, mas uma fazenda colorida e iluminada – mas também vão para a escola e inserem-se no mundo.

Assim, o filme que começa com uma intensa negação da sociedade capitalista, acaba por rejeitar sua própria utopia, propondo como solução o equilíbrio e priorizando as necessidades dos filhos em detrimento de ideologias. Uma jornada de união que demonstra que a verdadeira revolução está no amor.








Título Original: Captain Fantastic



Direção: Matt Ross



Duração: 118 minutos



Elenco: Viggo Mortensen, George MacKay, Samantha Isler, Annalise Basso, Nicholas Hamilton, Shree Crooks, Charlie Shotwell

Sinopse: Ben (Viggo Mortensen) tem seis filhos com quem vive longe da civilização, no meio da floresta, numa rígida rotina de aventuras. As crianças lutam, escalam, leem obras clássicas, debatem, caçam e praticam duros exercícios, tendo a autossuficiência sempre como palavra de ordem. Certo dia um triste acontecimento leva a família a deixar o isolamento e o reencontro com parentes distantes traz à tona velhos conflitos.

Trailer:



E você? O que achou de Capitão Fantástico? 



Aproveite para comentar e deixar seu like!




Deixe uma resposta