Retrospectiva Pânico – Parte II

É uma noite de sábado. Seus amigos foram a uma festa ou evento, mas você ficou em casa. Decidiu fazer uma pipoca, talvez assistir alguma coisa? Foi então que o telefone tocou e, ao atendê-lo, você ouviu a seguinte pergunta:

Qual é o seu filme de terror favorito?

Dado seu status como um ícone cultural do horror no fim dos anos noventa, é curioso que os três primeiros filmes da trilogia Pânico sejam lembrados principalmente por suas paródias. Essa mistura de memórias e noções, alimentada ainda mais pela metalinguagem utilizada nesses filmes, me deixou curioso para revisitar a franquia e os sentimentos associados com ela. Em três matérias, olharemos para Pânico (1996), Pânico 2 (1997) e Pânico 3 (2000).


Não deixe de ler a primeira parte da retrospectiva, disponível aqui.

Entremos, então, no mundo de Sidney, Gale, Dewey e, é claro, Ghostface.


Pânico 2 é mais ambicioso do que seu antecessor e representa o ápice da série em termos de hype e credibilidade, mesmo que esse aumento também se mostre nos problemas em sua produção e roteiro. O estúdio Miramax reagiu rapidamente ao sucesso imenso de Pânico (1996). Acreditando que o conceito de uma franquia seria mais atraente para estúdios, Kevin Williamson já havia criado um plano para possíveis continuações enquanto escrevia o roteiro do primeiro filme, sendo que a produção de Pânico 2 se iniciou pouco tempo após a confirmação do sucesso de Pânico


Em Pânico 2, Sidney Prescott (Neve Campbell) está na universidade e se reencontra com Gale Weathers (Courtney Cox) e Dewey Riley (David Arquette) após o início de uma nova série de assassinatos. A maior novidade na história se dá em uma camada extra de metalinguagem: os acontecimentos de Pânico deram origem a um filme slasher chamado Stab. Embora essa trama seja bastante secundária, ela carrega os temas apresentados no primeiro filme para algo bastante inovador. 


A atitude do estúdio agora era muito mais positiva, mas também muito mais intensa no objetivo de garantir um retorno financeiro maior. Dessa forma, Pânico 2 teve uma produção apressada e problemática. Após o vazamento do roteiro original na internet, Williamson precisou repensar boa parte da história, incluindo as revelações finais da identidade do assassino. Já antecipando o que se tornaria uma regra em Pânico 3, algumas cenas chegaram a ser escritas na hora da gravação. Para além disso, o filme foi gravado em apenas seis meses e lançado antes mesmo de Pânico completar um ano. É essencialmente impossível que esses fatores não tenham um impacto negativo na história, e em Pânico 2 isso se torna bastante claro conforme o filme avança e abandona a inteligência e a coesão de seu início.


Nem todos os aspectos da produção foram negativos. A seleção do elenco para os personagens novos foi consideravelmente mais fácil após a participação de Drew Barrymore no primeiro filme. Sarah Michelle Gellar foi uma das celebridades interessadas em fazer parte da continuação, além de Laurie Metcalf, Timothy Olymphant, Omar Epps e Jada Pinkett-Smith. Outro detalhe interessante é que Wes Craven já antecipava uma reação negativa do órgão de classificação indicativa dos EUA e usou uma estratégia em que apresentava cortes do filme com um grande exagero de violência, de forma que assim pudesse manter a versão ideal como algo mais aceitável. 



Os fatores que elevam Pânico 2 também o prejudicam: o roteiro, escrito de forma apressada, alterna entre momentos marcantes e outros menos coesos. O uso da metalinguagem é fascinante, especialmente quando os personagens conversam sobre a natureza das continuações de filmes de terror e suas regras, mas o filme nunca usa isso de uma forma significativa. A ideia no centro da narrativa é forte, mas seu desenvolvimento é sacrificado em favor de uma conclusão “surpresa” que, na verdade, parece desconexa e preguiçosa. 


Talvez o maior problema aqui seja que Pânico 2 não sabe bem o que fazer com seus personagens secundários. Os que mais se destacam são Haley (Elise Neal), amiga de Sidney, e Derek (Jerry O’connell), seu namorado. Outro sobrevivente do primeiro filme, Randy (Jamie Kennedy), também retorna como o amigo cinéfilo, dessa vez acompanhado por outros colegas da faculdade. Gale Weathers agora é uma escritora famosa – em parte pelo livro que escreveu sobre o massacre em Woodsboro – e Dewey é um policial aposentado. Mais curioso ainda, Cotton Weary (Liev Schreiber) retorna como um possível suspeito na nova onda de assassinatos. 


A trama de Cotton é bastante estranha, em parte porque ele nunca é muito desenvolvido no primeiro filme. Ele é inicialmente acusado pelo assassinato da mãe de Sidney, mas é inocentado após a confirmação de que Billie e Stu (os assassinos em Pânico) foram os verdadeiros responsáveis. Dessa forma, seu papel em Pânico 2 é correr atrás de Sidney em busca de uma forma de se tornar famoso e limpar sua imagem. Essa é uma história que nunca realmente se conecta bem com o resto do filme, embora apresente ideias interessantes sobre o absurdo que a vida de Sidney se tornou após os eventos de Pânico.


Em muitas formas, o que poderia ter tornado Pânico 2 muito melhor seria ter focado mais em Sidney. São infinitas as possibilidades de desenvolvimento a partir de sua jornada em Pânico. Aqui, os conflitos são repetidos mais uma vez: sua incapacidade de se relacionar romanticamente com outra pessoa e o fato de que essa outra pessoa talvez seja um assassino. Esse poderia ter sido o momento para Sidney reagir de forma mais ativa aos acontecimentos, mas ela apenas espera que as coisas aconteçam. Parte do drama do primeiro filme é carregado para cá e funciona, mas de forma muito menos impactante do que deveria. 

É possível perdoar Pânico 2 por alguns problemas em função do carinho pelo filme anterior e os personagens estabelecidos ali. Uma sequência em especial, envolvendo Dewey e Gale dentro de um dos prédios da faculdade, é incrivelmente tensa, mas acaba não significando muito quando o filme chega ao fim. A sequência inicial de Pânico 2 também é bastante marcante, especialmente na medida em que apresenta o filme anterior como um hit cultural e estabelece essa continuação como algo muito maior e mais ambicioso. 


Os problemas com o roteiro seriam o maior erro de Pânico 3. No segundo filme, entretanto, esses problemas não chegam a ser tão evidentes e é bastante agradável retornar para a vida dos personagens. Talvez com mais tempo e uma construção melhor de roteiro, o filme pudesse superar o padrão alto deixado pelo filme anterior da franquia.


Título Original: Scream 2

Direção: Wes Craven

Duração: 122 minutos

Elenco: Neve Campbell, David Arquette, Courteney Cox, Eliase Neal, Liev Schreiber, Sarah Michelle Gellar

Sinopse: Dois anos pós o massacre em Woodsboro, Sidney Prescott (Neve Campbell) e Randy Meeks estão tentando refazer suas vidas em uma nova cidade. Estudando no colégio de Windsor, eles vão lidar com uma nova onda de assassinatos quando o terrível psicopata retorna para assombrá-los nas vésperas do lançamento do filme baseado nos seus crimes.


Trailer:
O sucesso da franquia Pânico deu origem a vários outros filmes slasher. Você consegue lembrar de algum deles? Qual seu favorito? Falaremos sobre eles na próxima matéria!

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