A Equipe do Site Comenta: Midsommar – O Mal não Espera a Noite (2019, Ari Aster)

Depois de grande espera, finalmente Midsommar estreou no Brasil, com um daqueles subtítulos que quase sempre não tem nada a ver com o filme apresentado: O Mal não Espera a Noite, que estreou no dia 18 de Setembro e deixou os fãs de Hereditário (primeiro filme do diretor Ari Aster) divididos. Abaixo, confira se nós do Minha Visão do Cinema nos dividimos nas impressões também:

Os filmes de Ari Aster dependem de uma certa disposição do espectador: são filmes brutais em um sentido físico e emocional. Também são caóticos em vários momentos e não usam muitos jump scares. Midsommar não se propõe a criar um sentimento de medo, mas sim de angústia e raiva. É um filme que se assiste e se comenta, que volta de novo e de novo para a discussão quando se acha que tudo sobre ele já foi dito.

A relação amorosa no centro da trama é desenvolvida de forma cuidadosa e convincente, especialmente na medida em que evita alguns clichês – ainda assim, o desconforto proposto está lá e se torna cada vez mais claro conforme o filme avança. Ari Aster claramente tem grandes ambições para o gênero e seus esforços resultaram em uma obra que merece ser assistida e apreciada como a experiência visceral que ela é.

Nota: 9,0
Guilherme Amado

Parece que o elo narrativo que tece Midsommarse concentra na (não unânime) experiência do espectador, que passa a integrar as sensações experimentadas em cena. O filme tem início na escuridão, com um cenário que, há décadas, valoriza o gênero do horror: noite, neve e solidão.

Já com a chegada no campo diurno, Ari Aster desenha o medo nas relações pacíficas. A estética alucinógena é bem trabalhada e dialoga com a beleza conflitante daquele paraíso controverso. Assim, a sensação de inquietude é bem aplicada em todos os recursos: da respiração ofegante muito bem interpretada de Florence Pugh aos movimentos de câmera, que por vezes invertem e nauseiam o olhar.

O diálogo central se baseia nas relações entre o contato entre homem e natureza. De início, se torna prazeroso assimilar a relação de simbiose que, depois incomoda ao notar até a movimentação ininterrupta das flores.

Os jogos morais e éticos dos personagens são desenvolvidos da mesma maneira com a qual a trama se desenvolve com a natureza: a pacificidade se torna o algoz do desfecho. Há, no entanto, um fato curioso na trama: não parece haver crueldade.

Mas sim uma resposta do coletivo que ainda pretende se manter firme.

Nota 8,0
Iago Rezende


Midsommar é um filme bom, de fato. Cria uma atmosfera de medo e terror que inova o próprio gênero desgastado, e que hoje parece mostrar alguns sinais de vida e criatividade graças à justamente o estúdio por trás das mais recentes obras, o A24. Não seguindo os ditames do gênero, vemos a provocação de sensações mais concretas do que aquele medo baseado em sustos gratuitos e jumpscares. Ou seja, o clima aqui é muito mais importante do que o que nós de fato vemos acontecer.

Se existe a possibilidade de criarmos aqui uma categoria de “terror antropológico”, Midsommar será o maior representante. Os elementos do enredo são bem encaixados e inseridos, criando uma atmosfera rica e instigante quando se trata de o que é e como o culto do filme funciona, inclusive com uma menção ao tabu do incesto do antropólogo Levi-Strauss. Já estava na hora de uma maior abordagem da antropologia como fonte criativa para filmes, principalmente os de terror. Os detalhes aos costumes e ritos deixam a sensação de isolamento e trama dentro dos grupos de visitantes que, como nós, estranham tudo aquilo e parecem apenas vítimas em uma armadilha paradisíaca.

O ponto que talvez deixe um pouco a desejar é quando questionamos algumas motivações. Midsommar é um filme que deixa vários acontecimentos dentro do subtexto, ou seja, muitos dos acontecimentos do filme ficam “escondidos” dentro do universo ali representado, até mesmo alguns destinos de certos personagens, sem alguma resolução clara e concreta. Claro, temos personagens muito bem trabalhados e justificados, principalmente a protagonista, mas alguns personagens do grupo de amigos parecem até mais apagados que alguns personagens do elenco de apoio. Da mesma forma que a coesão mitológica é importante, a motivação e participação dos personagens é crucial para entendermos o que acontece ali e como reagem aos acontecimentos, por isso acho que a apresentação dos conflitos entre Christian e Josh para fazer a tese poderia ser um ponto inserido antes. Ficamos com sensações escassas quando se trata de Josh e Mark, e um ponto que talvez fosse muito bem relacionado ao modo que Christian é mostrado, suas motivações antropológicas: acadêmicos torcendo culturas locais em busca de prestígio acadêmico.

Uma boa experiência, recheada de antropologia e ansiedade. Pode dar alguns tons confusos e certa dificuldade de entendimento, visto que não é um filme escrachado naquilo que quer mostrar.

Nota 9,0
Igor Motta

Resultado de imagem para midsommar William Jackson Harper
Perturbadoramente encantador, Midsommar, trás uma atmosfera diferente para um filme de terror que acontece de dia. A história simples da trama que serve apenas de pano de fundo trás a ideia de que qualquer situação extrema pode ser um filme de terror, como a perca de familiares ou mesmo o fim de um relacionamento.

O diretor Ari Aster te deixa prever tudo o que pode acontecer dentro da trama e esta ideia de previsão apresenta um sofrimento de antecipação, gerando uma ansiedade irreal e sádica, que ao mesmo tempo é decorada com uma fotografia deslumbrante perfeita, quase que demonstrando que aparentemente o que pode ser lindo por fora não é por dentro, te deixando confuso.

Midsommar é sobre como os ciclos de relacionamentos se findam. Dani (Florence Pugh) ironicamente floresce durante a trama, enquanto seu namorado Christian (Jack Reynor), murcha. Você consegue sentir pelo olhar de Dani os momentos em que Dani começa a perceber a indiferença de seu companheiro e como aquilo parece realmente um filme de terror.

O filme conta sobre como o término pode ser considerado terrivelmente doloroso e como pode ser lindo se libertar, mas ao mesmo tempo tenebroso e assustador. Recomendo assistir mais de uma vez para entender toda a simbologia genialmente sinistra.

Nota 10
Livia Martins

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Midsommar é incrível visualmente, e esse talvez seja um de seus maiores defeitos, pois o filme já começa com lindas cenas elaboradas mesmo antes dos protagonistas serem devidamente apresentados e fazerem sua viagem onde começa o verdadeiro horror, o que acaba por tirar um pouco o vislumbre que é se encontrar naquele vilarejo onde se celebra as festividades. Talvez seja um pouco absurdo, a priori, criticar a linda fotografia de Pawel Pogorzelski, mas, grande parte da estranheza que o filme busca, e não alcança, vem através deste conflito narrativo que acontece entre a magnitude das imagens e o minimalismo das linhas de diálogo do roteiro dadas no primeiro. 

Exemplificando: grandes filmes que conseguem imprimir essa esquisitice, como O Convite (2015), Coherence (2013) e, principalmente, O Homem de Palha (1973), uma inspiração clara para Aster,  começam de maneira um pouco relapsa e quase sempre simplista, para se refinar na medida em que o/a protagonista começa a se desenvolver na história. Trazendo um crescente constante a quem assiste, e consequentemente aumentando a euforia do espectador. Já Midsommar, quando busca este pulo para o absurdo ele falha. 

Porém, em todo os outros aspectos, o filme acerta. Acerta no cuidado da preparação dos personagens e dos mínimos detalhes da trama, que traz aquela mesma sensação de Hereditário, que aparenta que tudo aquilo foi arquitetado para acontecer exatamente da maneira como aconteceu, tornando os seres humanos apenas marionetes sendo controladas por uma força maligna maior, que é onde exatamente repousa o aspecto de horror dos dois filmes.

Outro aspecto que se assemelha com seu antecessor é a força de seu subtexto que é também muito eficiente. Ari Aster não esconde que ele usa o terror para retratar dramas pessoais, e usa da melhor maneira. Alguns comentários sobre Midsommar, tentam dizer que ele pertence mais a outro gênero, como o drama, e menos como terror, mas quem pensa assim, não poderia estar mais errado ou enganado com uma leva de filmes medíocres que podemos ter presenciado no gêneros nas últimas duas década. Nada remete tanto à O Exorcista (1973), hoje em dia, que as obras de Ari Aster.

Hereditário, já é um dos meus filmes favoritos, e isso se deu após alguns estudos sobre o arcabouço que circunda a história e algumas reassistidas pegando vários de seus pequenos detalhes. Talvez após algumas pesquisas sobre as tradições retratadas em Midsommar e depois de assistir o filme novamente talvez eu compreenda o grande defeito que encontrei no filme, pois o autor já se mostrou um grande cineasta e este filme veio para confirmar que seu primeiro longa não foi um acerto ao acaso.

Nota 8,5
Rodrigo Zanateli
Também temos a crítica em vídeo de Midsommar – O Mal não Espera a Noite, acompanhe o que Guilherme Kaizer falou e se inscreva no nosso canal.

Com a nota 4,0 do vídeo, a média de notas da equipe é:


E vocês, leitores, o que acharam do filme? Deixa o comentário aí embaixo.

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