Crítica: Uma História Real (1999, de David Lynch)

David Lynch é conhecido pelo seu estilo de fazer obras bizarras, complexas e confusas. Mas em Uma História Real acontece o oposto. Aqui Lynch trabalha de maneira leve com uma história baseada em fatos, e com distribuição da Walt Disney! O roteiro gira em torno de um senhor de 73 anos, Alvin Straight, que recebe a notícia de que seu irmão, Lyle, teve um derrame. Os dois não se falam há dez anos, devido a um desentendimento, e Alvin decide deixar o orgulho de lado e ir visitá-lo. Porém, por problemas de visão, ele não possui carteira de motorista e é aí que se encaixa o diferencial desse filme de estrada: ele opta por viajar em seu cortador de grama. É isso mesmo! Falando assim, faz até sentindo o Lynch ter dirigido o filme… Mas brincadeiras à parte, Alvin poderia pedir para que alguém o levasse até onde Lyle mora, por exemplo, mas ele sente que precisa fazer isso pelos seus próprios esforços, como uma forma de se redimir. E essa viagem dura seis semanas.


Ao longo de sua jornada, Alvin conhece pessoas que o ajudam, ou, às vezes, ele as ajuda. Há lições de vida que ele carrega que são transmitidas de maneira simples para quem passa pelo seu caminho. Vamos, então, conhecendo mais sobre essa figura, sua maneira de ver o mundo, um pouco sobre sua família e o que ele já viveu, além de um segredo que ele compartilha com alguém pela primeira vez durante um dos melhores diálogos do filme.




O longa não seria o mesmo sem a atuação emocionante de Richard Farnsworth, que lhe rendeu indicação ao Oscar e Globo de Ouro de Melhor Ator, em 2000,  além de ganhar prêmios em outros festivais, como o Independent Spirit. Sua entrega ao personagem é linda! O filme também conta com a atriz Sissy Spacek (Carrie, a Estranha, de 1976), como Rose, a filha de Alvin, que está ótima no papel! Quanto ao Lyle, irmão de Alvin, ele aparece apenas no final e é interpretado pelo renomado ator Harry Dean Stanton (Paris, Texas). Apesar do curto momento em tela, sua participação é intensa e grandiosa.

Já na parte musical, toda a trilha foi composta por Angelo Badalamenti, que costuma trabalhar com David Lynch produzindo a sonoridade de suas obras cinematográficas, como nos trabalhos anteriores à Uma História Real: Veludo Azul, Twin Peaks, Coração Selvagem e A Estrada Perdida. 


Todas as músicas feitas para o filme discutido nesta review são belas, mas a que mais chama a atenção e dá um toque especial às cenas é Laurens Walking.  Quando assisti pela primeira vez, foi o que mais me marcou ao pensar no filme como um todo, e ao rever continua como uma das minhas trilhas sonoras favoritas pelo sentimento que transmite, a nostalgia e conforto. Escute abaixo:


Em relação ao visual, a fotografia de Freddie Francis, foi premiada pela Associação de Críticos de Nova Iorque de 1999 (NYFCC). A utilização do tom amarelado emana movimentação, energia positiva, estado de mente claro e otimista. O que tem a ver com a determinação de Alvin em cumprir seu objetivo, e como ele acredita e obtém sucesso mesmo em meio a obstáculos.


Uma das partes mais interessantes do filme é o final, pois há aquela curiosidade em saber o que vai acontecer quando Alvin finalmente encontrar seu irmão. Não darei detalhes, mas só queria chamar a atenção para o silêncio que ocorre durante a cena, o que nos leva a refletir: querer tanto ver alguém não necessariamente implica que há muito o que conversar. Muitas vezes as ações falam por si só, e tudo o que falta para complementar é uma companhia para admirar as estrelas, como eles fazem.


O Alvin Straight da vida real nasceu em 1920, fez essa viagem em seu cortador de grama no ano de 1994 e morreu em 1996. Que bom que ele conseguiu se reconciliar com o irmão antes de partir! O motivo detalhado da briga entre os dois nunca é revelado, só se sabe quem tem algo a ver com teimosia e bebidas. Durante o filme é um prazer acompanhar a viagem de Alvin e como ele, ao falar de suas memórias, volta ao passado. A obra é sobre esse homem, sobre Alvin Straight. Gosto do título original: the Straight story. Como pode ser observado no pôster do filme, apenas o ‘S’ de Straight está em letra maiúscula. A história de Straight, e não apenas uma história simples e direta (straight). O ator, Farnsworth, morreu no ano de 2000, então esse foi seu último papel, mas foi uma bela despedida do universo cinematográfico.


Passo a passo, a direção de David Lynch vai conduzindo de maneira competente o roteiro escrito por Mary Sweeney e John Roach. Pode até ser subestimado por alguns dos fãs do diretor, que curtem obras mais extravagantes, mas não deixa de ser um filme lindo, provando que não há nada mais belo do que a simplicidade.


Título Original: The Straight Story

Direção: David Lynch



Duração: 112 minutos



Elenco: Richard Farnsworth, Sissy Spacek, Harry Dean Stanton, Everett McGill e outros.



Sinopse: Alvin Straight, já idoso, recebe a notícia de que seu irmão, com quem brigou e não mantêm contato há 10 anos, está doente. Assim, ele decide visitá-lo para fazer as pazes, mas por não possuir carteira de habilitação, viaja em seu cortador de grama.





Trailer:

E você? Já assistiu ao filme? Se não, ficou interessadx?

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