Coletiva de imprensa de Bacurau

Minha Visão do Cinema esteve presente na coletiva de imprensa de Bacurau, realizada em São Paulo. No evento, os diretores Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles – juntamente com a produtora Emilie Lesclaux e parte do elenco – conversaram um pouco sobre o filme e responderam aos questionamentos sobre ele. Sônia Braga, nossa diva, chegou antes e abriu a coletiva agradecendo a presença de todos. 


Kleber Mendonça Filho explicou que Bacurau foi desenvolvido desde 2009 e muita coisa aconteceu desde então, inclusive a estreia de seus filmes O Som ao Redor e Aquarius. O filme foi selecionado para o Festival de Cannes e ele está muito feliz pela exibição de Bacurau no Brasil. Abaixo, reproduziremos (não integralmente) algumas das perguntas e respostas:
O
filme está sendo muito bem recebido nos países mundo afora, o que vocês esperam
da recepção dele no Brasil, sendo que o brasileiro ainda tem preconceito com
filmes brasileiros? E o fato de Bacurau ser o favorito para representar o Oscar
no ano que vem? Com tanta crítica social no filme, como vocês esperam que será
a reação do nosso presidente ao assistir o filme? (Bruno, do Portal 42).


Juliano
Dornelles:
 
A gente vem de
Gramado e já tiveram muitas sessões de pré-estreia, a gente já tem um
termômetro de uma recepção bem entusiasmada e estou sempre com um sorriso no
rosto, porque tenho lido muita coisa no
twitter
e as pessoas estão enlouquecidas.
 Então,
isso gera um sinal muito forte de que tem tido uma comunicação muito próxima de
afeto e paixão pelo filme, a gente está muito feliz.

Kleber
Mendonça Filho:
Na
coletiva, após a premiação em Cannes, um repórter francês informou que o Macron teria pedido pra ver Lés Miserables, que estava em competição com Bacurau,
nessa edição do Festival de Cannes, e emendou perguntando se nós exibiríamos
Bacurau para o presidente do Brasil e eu falei que o filme foi feito com
dinheiro público e, como cidadão brasileiro, ele tem todo direito de ver o
filme e quem sabe até pode gostar. A gente não tem jurisdição para saber o que
ele vai achar, mas ele pode ver o filme como qualquer cidadão brasileiro pode
ver o filme.

   Coletiva de Bacurau em São Paulo com parte do elenco, diretores e produtora Emilie Lesclaux.

O
filme passou para mim, pelo menos, uma mensagem de união e resistência, vocês
acham que o filme pode ser uma representação alegórica do momento social em que
a gente está vivendo? Uma mensagem do que precisa acontecer? (Caroline, Revista Cásper Líbero)

Kleber Mendonça Filho: Eu nunca fiz
nenhum filme e, quando eu era crítico de cinema, eu nunca escrevi nada com a
intenção de passar uma mensagem. […] Meus filmes são sempre muito cheios de
conflitos que meio que se anulam e isso gera uma confusão que eu considero
importante. […] Eu não acho que há mensagem nenhuma, eu não trabalho com
mensagens.  


Sônia
Braga:
Eu acho que a
visão acadêmica é bem diferente da visão intuitiva, eu sou uma atriz totalmente
intuitiva. […] Esse sentimento de mudança, de união e de resistência não é um
sentimento apenas brasileiro, é um sentimento do mundo nesse momento. Mas a
gente está falando de um lugar muito específico que é o Brasil e essas mudanças
que a gente precisa fazer. Quando a gente chegou aqui, com Aquarius, depois do
que fizemos em Cannes, a gente chegou com um Brasil completamente divido, então
Aquarius representava uma parte dessa sociedade que era a sociedade que estava
denunciando esse futuro se não tomássemos uma providência urgente. A minha
intuição é que Bacurau venha trazer uma revisão, que as pessoas assistam esse
filme e se coloquem no ponto de rever o Brasil, as nossas necessidades, porque
no fundo, todos nós queremos a mesma coisa. […] Eu tenho essa esperança que a
gente encontre um caminho, porque se o mundo não encontrar um caminho rápido, o
mundo acaba em dez anos. […] Eu dedico Domingas, minha personagem, a Marielle
e quero saber quem mandou matar Marielle.  


Silvero
Pereira:
Eu gostaria de
endossar tudo isso, porque eu acho que é muito importante que a gente tenha
consciência de não responsabilizar a arte por uma transformação. Nós artistas
temos a função de questionar, provocar e toda a construção que a gente faz, de
uma obra como essa, é um sistema e esse sistema vem desses órgãos, que somos
nós, cada um com suas funções e referências. […] Então é importante que a
gente tire a responsabilidade dos artistas de transformar, a nossa questão é de
ampliar o pensamento, questionar e provocar. As pessoas que assistem, com as
suas referências e decisões, é que têm que deixar de ser indivíduos e perceber
que vivem em coletividade e que a mudança parte deste ponto.

    Na foto, Sônia Braga, que protagoniza a médica Domingas, e eu. 

Kleber
e Juliano mencionaram a ausência de mensagem no filme, mas a gente vê bastante
simbologia, assim como Sônia Braga mencionou. Como foi a construção desse
roteiro e desses personagens no sentido de crítica social e mundial de como o
mundo enxerga o Brasil? […] Eu gostaria de saber a visão de vocês da construção
desse roteiro. (Giovana)


Juliano
Dornelles:
É bom lembrar
que a gente está falando sobre um filme de gênero e os filmes de gênero, pelo
menos para mim, são muito mais fortes e interessantes quando o mundo está
alimentando ideias e realidades absurdas. As motivações dessa construção vem
desse mundo todo errado que a gente está cansado de viver. […] A gente vive
em um país rico em absurdos, contradições, violência e deseducação e eu acho
que isso é alimento para mais 2.000 filmes. Bacurau é só mais um.


Kleber
Mendonça: 
O que você
chama de simbologia, eu chamo de observações. Os melhores filmes e livros são
repletos de observações e, dependendo de quem escreve, as observações passam de
uma forma muito natural ou, dependendo de quem escreve, podem virar statements, o que acho que não é uma
coisa boa. Bacurau é repleto de observações sobre a vida no mundo, no nordeste,
no Brasil, sobre ser latino-americano, ser brasileiro em relação ao mundo,
observações sobre a sociedade americana, mas são observações localizadas e elas
vêm de uma bagagem pessoal, que é minha, e de toda a equipe. […] Cinema é uma
serie de observações e, tudo dando certo, elas vão fazer algum sentido.



             Kleber Mendonça Filho, que compartilha a direção de Bacurau com Juliano Dornelles.

[…]
Nós estamos com um novo governo há oito meses que é um inimigo da cultura e o
filme teve captação de recursos públicos, via Ancine e Petrobras. Vocês acham
que, se vocês apresentassem esse projeto hoje, o presidente autorizaria a
captação de recursos públicos? (Humberto, Zapnroll)


Emilie
Lesclaux:
Eu acho que não
conseguiríamos captar os valores essenciais que captamos para fazer Bacurau. […] Boa parte do filme foi feito com recursos públicos do Brasil e da França,
também. Em todas as etapas do processo, a gente teve liberdade e não sei como
seria agora.  


Em
todos os seus filmes a música tem um papel muito grande e, nesse filme, tem um
personagem que é músico e ele, literalmente, afasta os forasteiros. Eu queria
saber sobre o processo da escolha da trilha sonora e de como você inclui a
música no roteiro dos filmes. (Dimas, Meca)


Kleber Mendonça Filho: Mais uma vez tudo feito com Juliano. […] Às vezes a
música entra no roteiro, mas em grande parte ela aparece também na filmagem e
no processo de montagem, principalmente.
Não identificado
surgiu na montagem e ela me parece uma música muito
especial. […] A gente escreveu Night, do Carpenter, no roteiro para abrir o filme com a imagem do
universo, mas depois não achamos interessante abrir esse filme brasileiro com
uma imagem que já é muito associada ao cinema industrial e com uma música
industrial. A gente tinha que ter o choque de uma imagem incrivelmente bem
realizada com uma música profundamente brasileira e, ao dar um zoom, não na
Califórnia ou na Europa mas, na América do Sul e no nordeste do Brasil, o
efeito seria muito mais forte. […] Mas é difícil falar sobre música, é uma
questão muito orgânica.
A
gente percebeu símbolos muito fortes da cultura nordestina, em especial
pernambucana. Como se deu esse processo de pesquisa e a busca por essas referências?
(Débora, Meca)


Juliano
Dornelles:
Eu e Kleber
somos nordestinos e queríamos fazer um filme de pessoas como essas e de um
lugar como esse e Bacurau é um filme sobre história também, não só história
nordestina ou do cangaço, mas a história dos conflitos, da necessidade do ser
humano de subjugar o outro. Essa iconografia é a nossa iconografia. […].
Bacurau não é uma invenção, ele existe, é uma comprovação.


                     Juliano Dornelles, um dos diretores de Bacurau.


Como
foi pensar uma história de resistência armada em um Brasil futuro, considerando
o acesso de armas hoje em dia no Brasil? […] (Vivi)


Kleber
Mendonça Filho
: As armas
em Bacurau estão no museu e eu acho que todas as armas deveriam ser destruídas
e algumas, para efeito de referência, serem colocadas no museu e é exatamente
essa a ideia de Bacurau. […] Bacurau é uma comunidade pacífica, onde as armas
são elementos do passado.


Wilson
Rabelo
: Uma das
maiores armas da população de Bacurau é a identidade, o respeito às diferenças
[…].



            O ator Wilson Rabelo, que vive Plínio, o professor da cidade.



Eles também elogiaram muito os
moradores da Barra, onde foram realizadas as filmagens de Bacurau, e contaram
que fariam uma exibição do filme naquela comunidade. Karine Teles fez uma fala
belíssima sobre a importância da arte, bem como do investimento em cultura no
nosso país e Brian Townes terminou a coletiva ressaltando a importância de nos
reconhecermos como iguais e de nos valorizarmos como povo brasileiro.



Aqui estão os links para as críticas de Bacurau em nosso site:
https://www.minhavisaodocinema.com.br/2019/08/critica-bacurau-2019-de kleber-mendonca.html


https://www.minhavisaodocinema.com.br/2019/08/critica-bacurau-com spoilers-2019.html



Bacurau estreou dia 29 de agosto, portanto já está em exibição nos cinemas. Se vocês ainda não assistiram, corram para ver e deixem seus comentários aqui no site para sabermos a opinião de vocês! 🙂 

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