Crítica sobre o curta-metragem: A Pedra (2019, Iuli Gerbase)

  

   Curta-metragem dirigido por Iuli Gerbase e selecionado para o Festival de Cinema de Gramado.

    O filme se passa numa floresta no sul do país. Uma família composta por pai, mãe, um filho e uma filha decidem andar de caiaque e vão acompanhados por um instrutor. Mas num certo momento, a protagonista, a garotinha Pietra, se cansa do passeio e prefere ir andando. A família se separa. A garotinha vai andando com seu pai, enquanto a mãe vai de caiaque com o filho e o instrutor. 

    Nesta caminhada com o pai, percebemos que ela está emburrada com ele. O pai nota e começa a investigar o porquê. Então descobrimos que é porque ela viu “coisas” no celular dele. Ele tenta convencê-la de que não é nada demais. E o filme tem boas sacadas quanto a isso. Em certo momento, ele tenta firmar esta parceria com a filha. Estende sua mão para que ela aperte, ao que ela responde:“Tá suja”. Ou seja, não só sua mão está suja, mas a proposta do pai também é suja. Inconscientemente ela sabe disso. E a câmera do filme promove planos muito criativos. O olhar da diretora foi muito certeiro. A fotografia é linda, a locação marcante, e a decupagem foi profundamente estudada. 




    Não fica claro no filme exatamente o que o pai escondia em seu celular. Qual é o conteúdo problemático. No primeiro momento imaginei ter a ver com pedofilia, mas o personagem do pai pergunta à filha se ela viu certas mensagens que ele recebeu. Isso pode indicar que se trate de um caso que ele esteja tendo com outra pessoa. Achei muito interessante não haver uma resposta certa para qual é o real problema. O final é aberto e talvez a intenção seja realmente essa. Cada um interpreta, então, qual seria o podre que o pai da protagonista esconde. 


    Como certeza a atriz mirim (Ester Amanda Schafer), que faz Pietra, rouba a cena; mas a interpretação de Felipe Kannenberg também é hipnotizante. Tentamos entender o que se passa em sua mente, o que ele fez de errado e o que o levou a isso. Com certeza é o personagem que mais instiga a nossa curiosidade. A floresta também parece “mudar” de acordo com cada cena. Nos momentos mais tensos, o pai aparece sob as sombras, parcialmente visto ou enquadrado. Quem será este homem que não vemos por completo?
    
     No final do filme ele está na floresta, olhando de longe, por entre as folhagens, enquanto a família está unida, aguardando seu retorno. Pietra reencontra a mãe e o irmão. Eles abraçados aguardam o pai, que parece nunca vir. Fica à espreita na floresta que fica cada vez menos convidativa. Vemos uma família aparentemente completa, feliz e unida, e ele isolado, escondido, com medo, tenso. Como uma criatura selvagem, desconhecida, solitária, analisando tudo de longe. A vergonha o corrói por dentro. 
    Trata-se de um filme sobre amadurecimento. E Pietra perceber que precisa perder aquela inocência que tinha a respeito das coisas e também aquela admiração que sentia sobre o pai acaba sendo necessário para que ela se torne cada vez mais madura e esperta.  Infelizmente a criança, nesse caso, é obrigada a crescer, pois descobriu podres demais que mudarão sua família para sempre. Dá a entender que o tema também permeia a confiança. Muitas vezes acreditamos conhecer as pessoas de verdade, principalmente as mais próximas. E descobrir que não é bem assim acaba sendo impactante. 

Título Original: A Pedra 

Direção: Iuli Gerbase

Duração: 19 minutos e 15 segundos

Elenco: Felipe Kannenberg, Ester Amanda Schafer, Morgana Kretzmann, João Felipe Kowal. 

Sinopse: Uma família decide fazer um passeio pela natureza. Em certo momento se dividem. A protagonista, a jovem Ester, vai andando pela mata com seu pai. E revela que sabe de um dos seus segredos. Ele tenta convencê-la a não contar para ninguém.

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