Crítica: Dear White People – 3ª temporada (Justin Simien e outros)




Dear White People volta ao seu terceiro ano ainda trazendo várias questões relevantes sobre raça, porém, mesmo ainda com algumas críticas pontuais, a série retorna menos consistente do que em suas duas primeiras temporadas. Enquanto nos dois primeiros anos é possível perceber uma evolução na narrativa e nos personagens, durante os 10 episódios da terceira temporada, embora haja alguns questionamentos pontuais e instigantes, pouco foi entregue em relação ao desenvolvimento da história e de seus protagonistas.


Começando pela Sam, a protagonista passou a temporada inteira envolvida na criação de seu documentário para a tese de graduação e na sua busca com o Lionel pela tal sociedade secreta, e praticamente deixou todo seu lado ativista de lado. Até mesmo seu documentário ficou inconsistente, tentando abordar vários pontos de vista e ao mesmo tempo não falando sobre nada específico. É compreensível que em algum momento a personagem ia descansar um pouco em relação a militância, ou pelo menos encontrar outras formas de expressar suas opiniões, mas a escolha de abandonar o Dear White People e praticamente esquecer as questões pelas quais sempre lutou em Winchester pareceu um tanto inconsistente para a personagem. Um momento bastante contraditório foi quando Gabe resolveu usar a sua recém descoberta descendência indígena para conseguir a bolsa de estudos, e a Sam simplesmente aceitou sem no mínimo uma conversa sobre, algo que a Samantha das primeiras temporadas nunca faria. E num geral o Gabe pareceu ter mais protagonismo e consciência social (mesmo que forçada) que a Sam, o que é um tanto estranho para uma série sobre representatividade negra.




Lionel teve uma evolução parcial, finalmente desabrochando e se libertando um pouco de sua timidez. Diferente do Lionel das duas primeiras temporadas, o da terceira abraçou completamente (ou quase) sua sexualidade e perdeu o medo ser quem é. A história que o personagem escreve sobre seu alter ego Chester, e que se transforma numa sensação entre os estudantes de Winchester, foi uma das coisas mais interessantes da temporada. A convivência com o D’unte foi extremamente importante para o desenvolvimento do personagem, dando ao Lionel o empurrãozinho que ele precisava para abraçar de vez o mundo gay e trazendo uma renovada aos ares de Dear White People. Porém a série poderia ter dado um pouco mais de espaço para o possível relacionamento do nosso jornalista com o Michael, que também foi uma grata introdução ao terceiro ano da série. A discussão sobre HIV foi importante, mas rasa. Esperemos que no próximo ano tenhamos um desenvolvimento melhor desse possível namoro e nos possamos nos aprofundar nesse tópico.





Joelle e Reggie renderam bons momentos, mas creio que o desenrolar desse relacionamento foi um pouco mais complicado do que deveria. Depois de duas temporadas enrolando para esse casal finalmente acontecer acho que público merecia um desenvolvimento menos atribulado, porém o que tivemos foi uma série de pequenas brigas e discussões que não levaram a quase nada. A única discussão relevante entre os dois foi sobre algo que não tinha nada a ver com seu relacionamento. Ver a Joelle confrontando o Reggie sobre o caso de violência contra a Murphy foi extremamente importante pois deixou claro que mesmo os dois dividindo uma luta contra o racismo, o Reggie ainda tem seus privilégios masculinos e não pensou duas vezes antes de defender seu companheiro homem e desmerecer a vítima. Tendo várias ótimas personagens femininas já era tempo DWP discutir as diferenças de opressão entre mulheres negras e homens negros. E embora tenha fundamento o argumento do Reggie sobre homens negros serem acusados injustamente por mulheres brancas (ponto que foi importante ser levantado), ele não pensou duas vezes antes de presumir automaticamente que seu adorado professor era inocente, descartando toda a dor pela qual a Murphy estava passando.





Embora menos instigante que as primeiras, a terceira temporada rendeu bons momentos e discussões, porém faltou desenvolvimento de personagens e arcos narrativos, como, por exemplo, a Coco que ficou extremamente perdida nessa temporada e teve seu único bom momento de verdade na temporada durante episódio em que a sua mãe aparece, e foi bem interessante conhecer um pouco mais sobre o passado de Colandrea. Todo o arco narrativo sobre a tal ordem ficou completamente jogado durante a temporada, e nem nossos protagonistas Lionel e Sam pareceram realmente interessados no mistério. O foco que foi dado a isso poderia ter sido gasto mais construtivamente com espaço de tela para personagens como Brooke, Al e Kelsey que têm se mostrado cada mais interessantes. Entre erros e acertos, Dear White People entrega uma temporada um pouco abaixo da média, mas que ainda de destaca da maior parte do conteúdo original da Netflix.










Título Original: Dear White People


Direção: Justin Simien

Episódios: 10


Duração: 25 min. aprox.

Elenco: Logan Browining, Marque Richardson, Antoinette Robertson, DeRon Horton, Ashley Blaine Featherson, Brandon P Bell e John Patrick Amedori
Sinopse: Uma comédia sobre o que significa ser negro nos Estados Unidos.

Trailer:

Não deixem de conferir a terceira temporada e comentar aqui!



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