25 de julho: Feminismo Negro Contado em Primeiro Pessoa (2013, de Avelino Regicida)

Você sabia que o dia 25 de julho é tão importante quanto o dia 8 de março para as mulheres? Para as mulheres negras, indígenas e caribenhas ele é ainda mais importante: é o nosso dia!

Mas aí você se pergunta: poxa, mas qual a necessidade disso? Calma, eu te explico! 

O Dia da Mulher, comemorado internacionalmente, alude às exaustivas lutas das mulheres por melhores de condições de trabalho (que eram muito piores que às dos homens, que já não eram muito boas) iniciadas no começo do século 20, tendo como evento dolorosamente marcante o incêndio numa fábrica de Nova York que dizimou dezenas de mulheres e homens, sendo a maioria mulheres. 

E é aí que entramos no ponto central da justificativa de se existir uma data para as demais mulheres: mulheres negras, indígenas e caribenhas sempre estiveram no mercado de trabalho. Inicialmente como escravas e posteriormente em subempregos, essas mulheres conheceram há muitas gerações, condições sub-humanas de emprego, porém entendeu-se durante anos e anos que elas estariam condicionadas a isso por sua cor e classe social. A luta representada pelo dia 8 de março é válida, mas não abarca a realidade da maioria das mulheres: aquelas que estavam em uma posição inferior das trabalhadoras, geralmente, brancas.

Com esse primeiro pensamento, iniciamos nossa trajetória com depoimentos de várias mulheres brasileiras, trazendo questionamentos e respostas relevantes ao tema central: o feminismo negro vivido na pele pelas protagonistas desta injusta história.

Da esquerda para direita, de cima para baixo: Audre Lorde, Dandara, Bell Hooks e Angela Davis

Você conhece a história ou já ouviu falar de pelo menos uma das mulheres acima? Espero que sim! Mas caso não, como um dos maiores exemplos, temos em Dandara, uma das precursoras do feminismo negro, na época da escravidão brasileira, e muito provavelmente você já deve ter ouvido falar de Zumbi dos Palmares e não dela… Assim, observa-se, não só pelo machismo enraizado na história, mas pela massiva presença de brancos nos espaços de destaque, a falta de referências negras para que as pessoas se inspirem, principalmente as mulheres.

Um dos diálogos de grande destaque que observamos no documentário é o que trata sobre o fato de o negro brasileiro não ter consciência de que é negro: o estado, o sistema, o branco e o racista, sabem que ele é negro, menos ele. Temos que tomar consciência de nosso lugar em nossa sociedade para que não deixemos de lado a luta que reverbera por séculos.

A mulher deve ter ainda mais consciência, nos diversos contextos em que está inserida, como por exemplo, em relação ao aborto: hoje, uma das principais pautas do feminismo é a liberação do aborto seguro e gratuito para tantas mulheres que morrem na tentativa de não seguirem com uma gravidez indesejada (dentre outros problemas decorrentes disto)… mas uma das questões levantadas no documentário é a do direito de mulheres negras seguirem com a gravidez, já que a maioria dos abortos clandestinos são cometidos por elas, uma vez que não possuem condição de criar seus filhos, devido aos subempregos em que estão alocadas, abandono dos parceiros, entre outros. O direito, obviamente, está atrelado à promoção desta mulher dentro da sociedade.

Charge que exemplifica o assunto debatido no filme e na crítica
E assim, dentre tantos pontos abordados, o que vemos é que a luta das mulheres não é uma luta única pela pluralidade existente, mesmo que em tese ela devesse ser. O abismo que separa mulheres brancas das negras é imenso e é preciso ser considerado dentro do próprio feminismo.

Apesar de o tema ser essencialmente sobre mulheres, a direção fica a cargo de um homem e talvez o documentário tivesse melhor dinâmica se a visão fosse a de uma mulher. O que nos fica como alerta: a luta não pode acabar e precisamos ter a consciência de que devemos ocupar estes e outros espaços e contar nossa história.


Título Original: 25 de julho – O filme / Feminismo Negro Contado em Primeiro Pessoa 

Direção: Avelino Regicida

Duração:  62 minutos

Elenco: Amanda Prado, Cathiara Kilombagem, Daniela Gomes, Fatima Taddeo, Gabriela Gaia, Gissele dos Anjos Santos, Juliana Queiroz, Lucilene AfroBreak,  Mariana Laiola, Priscila Di Lá, Shirley Casa Verde, Yzalú, Ziza Soberana.

Sinopse: Filme com grande repercussão na mídia nacional e internacional, exibido em diversos espaços culturais, eventos e cine clubes. O filme surge por conta da curiosa situação de existir uma data tão significativa para as mulheres, em nosso contexto político-social, o 25 de julho e mesmo assim o dia 8 de março ainda é mais reconhecido e comemorado por nossas guerreiras terceiro-mundistas. Assim o documentarista Avelino Regicida, junto com a Do Morro Produções lança em 2013 a proposta de desenvolver um documentário/pesquisa que trate sobre a data e diversas questões que a cercam.

Confira o documentário aqui:


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