A Equipe do Blog Comenta: Game of Thrones S08E05 – The Bells (2019, de David Benioff e D.B. Weiss)


Aviso: esta crítica contém spoilers

Na reta final de Game of Thrones, temos o que pode ser considerado o clímax da temporada, o momento em que a tensão está, ou ao menos deveria, em seu ápice, deixando a expectativa para o fim de todo o mundo de Westeros na pele. Por isso, alguns membros da equipe do blog se reuniram e comentaram algumas impressões e opiniões sobre este quinto episódio.





Guilhermen Amado comenta:

The Bells é um episódio que tenta justificar toda
a confusão dessa e das últimas temporadas. Em um nível pessoal, o episódio não
me pareceu tão terrível, mas a esse ponto é impossível diferenciar se isso vem
de um senso genuíno de entretenimento ou de uma armadura de apatia construída
para me proteger das decisões péssimas feitas ultimamente na série. No fim das
contas, o sentimento é de “ah, é isso, então? Ok.”
O episódio combina as melhores e piores
características de seus antecessores: escolhas dramáticas que, mesmo sem tempo
para surgirem de forma natural, às vezes são apresentadas de forma efetiva e só
caem por terra quando o episódio termina – o início com Varys sendo queimado é
um dos exemplos disso. Na superfície é tudo muito apressado e, francamente,
ridículo, mas é impossível não sentir a indiferença e cansaço no Dracarys de
Daenerys e uma certa confusão quando um personagem é queimado sem algum tipo de
indicação musical do que devemos sentir. 
Da mesma forma, o senso de caos é muito melhor
trabalhado durante o ataque de Daenerys em King’s Landing do que na Batalha de
Winterfell, mas ainda assim a produção serve principalmente para tentar segurar
um roteiro repetitivo e fraco em meio a dezenas de cenas em que mulheres e
crianças morrem enquanto personagens principais escapam com alguns arranhões.
Se apenas esse cuidado com a apresentação fosse em função de algo além de
especiais pós-episódio …
É importante ressaltar que os problemas de
escrita não surgiram nessa temporada, mas tiveram sua evidência intensificada
pelo fato de que não há mais um futuro para justificá-los. Algumas das
decisões, como o fim de Jaime e Cersei e até a “loucura” de Daenerys
podem ser explicadas se generosamente preenchermos os espaços com informações
dos livros e indicações de outras temporadas, mas ainda assim são
desenvolvimentos forçados e arbitrários. Os escritores parecem acreditar que a indicação
de um acontecimento em um momento anterior ao que ele acontece justifica
qualquer absurdo que eles decidam para os personagens. 

Assim como grande parte dos fãs, acredito que
é hora de fazer uma longa pausa no universo de Game of Thrones para recarregar
as baterias enquanto espero – possivelmente para sempre – pelo próximo volume
na série de livros. Tenho esperanças mínimas para o próximo episódio, mas ainda
assim a certeza mais positiva é que essa temporada cansada e sem inspiração irá
chegar ao fim em breve.

Igor Motta comenta:

Acima de tudo, podemos dizer que The Bells foi um episódio de fato polêmico. Não da forma como os criadores imaginavam ou desejavam, mas ele conseguiu colocar os fãs em um pé de guerra que dura desde a exibição do episódio no domingo passado. Mas, devo dizer, alguns problemas seguem desde o início da temporada e culminam nele que, em tese, é o grande clímax. Problemas que são imperdoáveis visto toda a construção anterior.

Começando pelos detalhes técnicos. No geral, foi um episódio bem dirigido. Do mesmo diretor de The Battle of the Bastards, vemos que a forma como as batalhas foram mostradas, as cenas brincam com silêncio e barulho para deixar tensão; a exibição de porto real como um labirinto de prédios desmoronando ficou muito boa e o vai e volta entre as cenas de Arya e Sandor ficou bem sincronizado. Do ponto de produção, efeitos especiais e afins, foi um bom episódio, estava na “embalagem” que deveria estar, orquestrado como um clímax de temporada. Até possível causar alguma confusão de como algo tão bem dirigido pode ter um roteiro tão mal escrito. E nisso chegamos ao problema.

Como já comentei em minhas críticas aos episódios anteriores, parece que a dupla de showrunners, D&D, está completamente perdida. The Bells parece que tenta voltar algum sentido para as coisas, mas não consegue pois justamente todo o desenvolvimento anterior fora jogado no lixo. Volto na impressão de que planejaram tanto os pontos de choque da temporada, aqueles que “quebrariam a internet”, que deixaram o desenvolvimento de lado. Não canso de dar exemplos anteriores da série, como Oberyn Martell. O personagem conseguiu em uma temporada ganhar o gosto do público e causar uma comoção em sua morte. O porquê? Ele foi desenvolvido, suas ações foram justificadas e trabalhadas. Não sentimos as mãos invisíveis de roteiristas definindo seu destino. Já em The Bells e em toda essa última temporada, sentimos a todo momento essas mãos e queremos que elas apenas parem.



Tal sensação reside no ponto em que todas as encruzilhadas que levaram os personagens até aquelas escolhas são completamente rasas. Jaime jogou toda sua questão de se afastar de Cersei para, no fim, correr até ela para morrer? Cersei, que sobreviveu ao Aerys e ao Robert, jogou o jogo dos tronos de forma tão habilidosa que quase todos os seus inimigos morreram, estava preparada para morrer e matar os filhos se Stannis invadisse a Porto Real (fazendo inclusive piadas com Sansa por rezar pelo bem geral); ainda também a pessoa que não derramou uma lágrima quando fora humilhada a andar nua e de cabelo raspado por toda Porto Real…, tivera um dos finais mais romanticamente forçados de toda a série, quase como uma donzela indefesa. E Arya, que desistiu tão facilmente da chance de matar a primeiríssima pessoa de sua lista por uma fala de Sandor. A desistência de Ninguém poderia fazer sentido? Poderia, mas como disse, a jornada é tão importante quanto o destino, talvez até mais.



E não somente, o que aconteceu com todas as profecias e mistérios? Afinal, o que Varys ouviu no fogo quando era criança? Não havia toda uma profecia sobre um(a) valonkar que mataria a Cersei? (aqui desconsidero os tijolos da Fortaleza Vermelha como um assassino em potencial). Visto a já ignorada profecia de Azor Ahai, temos a impressão que todas essas pistas e dicas sobre o futuro, teorias e mais teorias, foram para o absoluto nada. E devo dizer, algumas teorias e fan fictions ficaram melhores do que os atuais rumos dados. Talvez o único presente aos fãs tenha sido o conflito final entre Sandor e Clegor (que realmente foi um final digno para ambos os personagens).



Mas todo o episódio girou ao redor de uma personagem e sua escolha quando os sinos tocaram. Rhaegal foi morto em uma emboscada muito mais do que forçada e estupidamente fácil, para que no episódio seguinte, apenas Drogon fosse necessário para praticamente tomar a capital do reino. Todas as bestas que um dia foram de fácil manuseio para acertar uma criatura alada em pleno voo, agora são complicadíssimas…, o poder de um dragão parece reduzido e aumentando sem qualquer sentido lógico, que só obedece na realidade o bel prazer dor roteiristas.

Daenerys foi, e ainda é, o ponto de maior conflito do episódio. Suas ações foram condizentes com sua evolução como personagem? Ela está louca como o pai ou apenas furiosa? Seu lado Targaryen, que antes parecia adormecido, fora despertado pela sucessão de desventuras que sofrera desde o início da temporada? Faz sentido colocar fogo em toda uma multidão inocente e rendida, quando que atacar a Cersei diretamente era o que restava para terminar a guerra? Pois bem, eu diria que em partes não, em partes sim.

Quando terminei o episódio, por conta desses momentos de Daenerys, eu gostei dele. Na revisão desse, tive outras impressões. A grande questão aqui, que apontei em outros momentos, está na forçação de barra no arco da mãe dos dragões para o destino de Jon. Pintá-la repentinamente como uma pessoa instável e mencionar o ditado popular que os deuses jogam uma moeda para cada Targaryen que nasce, resume tudo o que pontuei sobre o desenvolvimento. Danny tem um lado tirânico e violento, sim, mas não é louca. Aerys Targeryen, o famigerado rei louco, ouvia vozes que o mandavam colocar fogo na cidade. Daenerys, ao que parece na construção chula de D&D, fora dominada pela fúria e insanidade de perder sua melhor amiga e seu fiel companheiro, assim como o acúmulo de traições de seus novos, mas não concretos, aliados.

Vejo a personagem destruindo uma cidade toda em nome do ódio? Sim, não seria o primeiro Targaryen a fazer tal coisa, nem a primeira vez da própria personagem, afinal, o lema da casa, repetido inúmeras vezes por Daenerys, é “fogo e sangue”. Mas vejo, e concordo, com o ponto mais fraco da situação: qual a função de atear fogo em inocentes de uma cidade já rendida? A projeção de ódio dessas mortes foram todas para os civis quando poderia, e deveria, ser descontada em Cersei. Existe um conflito desde a primeira temporada entre a Dany quebradora de correntes e a Dany “fogo e sangue”. Seria muito justo colocar um desenvolvimento a longo prazo que justificasse  a escolha desse lado mais ancestral dela.


O episódio tenta abrir margem para tal situação na cena em que comparam a população de Meeren e de Porto Real, mas não fica uma comparação justa, ou sequer coerente, não deixando nada coeso em dizimar todas aquelas pessoas. Ao meu ver, Daenerys destruindo porto real seria um ponto climático muito bem colocado, se muito bem trabalhado anteriormente, e não somente numa correria de 4 episódios. É o ponto alto de um episódio bom, mas bom quando comparado ao restante de uma temporada muito ruim, que no final das contas não significa muita coisa.

Agora, em relação a raiva dos fãs, esta pode ser direcionada, e com toda razão, aos dois Ds. Algumas informações novas rondam a internet, que incluem um vídeo compilado da reação dos atores ao serem questionados sobre a temporada final, que ilustra muito bem que o descontentamento também é do elenco; como também a notícia de que a HBO propôs que as temporadas finais fossem completas, 10 episódios cada, e que gastariam o que fosse necessário. Ou seja, um orçamento em que o teto seria o desejo dos showrunners. A culpa fica a cargo da dupla.  




Apesar de ter gostado do episódio em alguns pontos, e ter sentido que aquela crueldade de outrora havia retornado, The Bells possui inúmeros defeitos que foram criados e carregados por seus antecessores, deixando mesmo as partes que me conquistaram nubladas perante o mar de erros. E afirmo, assistir uma segunda vez não melhora as coisas. Queria eu poder escrever sobre as qualidades completas do episódio, ou mesmo sobre a animação para o derradeiro último episódio, mas, infelizmente, só posso dizer not today.


Título Original: Game of Thrones





Direção: David Benioff e D.B. Weiss


Episódios: 6


Duração: 60 minutos em média


Elenco: Emilia Clarke, Kit Harinton, Peter Dinklage, Lena Headey, Sophie Tuner e Nicolaj Coster-Waldau e outros.



Sinopse: Daenerys está à beira de uma decisão drástica. Varys trama para que o Jon seja o novo rei, enquanto Tyrion tenta remediar as coisas entre todos, incluindo sua irmã. O grande jogo dos tronos parece começar sua partida final.

Promo do episódio final: 
Bônus:

O compilado de reações citados no texto

O que acharam do episódio? Animados para o episódio final? 

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