Crítica: Como Treinar o Seu Dragão (2010, de Chris Sanders e Dean DeBlois)

Com o lançamento do terceiro e último filme da saga, é normal ficarmos nostálgicos e sentir aquela vontade de rever onde tudo começou, então falar de Como Treinar o Seu Dragão não é somente uma coisa saudosista aqui, mas também de relembrar onde a história começou para dar um adeus mais caloroso aos personagens.


Baseado na série de livros infantis da escocesa Cressida Cowell, Como Treinar o Seu Dragão narra a história de Soluço, um garoto morador de uma vila viking em meio ao oceano. Soluço, ao contrário de todos os outros moradores da vila, não possui dotes físicos, é magricela e desajeitado. Na tentativa de ganhar algum respeito de seu pai, Soluço tenta caçar o dragão mais temido pelos caçadores, o Fúria da Noite.

  
Por ser um filme infantil, alguns pontos podem soar meio desajeitados para aqueles que esperam uma narrativa com elementos adultos. As experiências de faixa etária são diferentes, mas nem por isso um anula a outra. A qualidade de Como Treinar o Seu Dragão começa nesse ponto: várias idades podem aproveitar o filme. Com cenas de piadas infantis e outras com subtextos mais maduros, o filme consegue agradar uma gama bem variada de público.

O lado de fantasia, grande forte do filme, é claro e bem postulado. Estamos em uma terra nórdica que pode se parecer com a realidade, mas não é necessariamente nossa realidade. Ou seja, as aberturas para o fantástico estão muito mais do que colocadas assim que o filme começa, mostrando a realidade daquele ambiente. Os fãs do gênero vão encontrar conforto mesmo na forma mais fofa de como o animal mitológico mais famoso e temido é representado, lembrando de certa forma o comportamento de um gato, até de um cachorro, num pêndulo entre terror e fofura. 

As constantes invasões dos dragões ganham um tom tragicômico, perdendo o lado devastador mostrado em outras histórias do gênero e ganhando um outro de criaturas pragas, que atrapalham a vida dos vikings, e que nem em todos os casos dizimam vilas inteiras e criam uma reinado de terror. 

Visto esse lado mais fantasioso do filme, é interessante perceber que algumas similaridades da cultura de povos vikings são respeitadas. Claro, há toda uma construção romântica por volta de como uma sociedade viking funciona dentro da história, principalmente quando temos em mente o público alvo, então uma completa, ou mesmo próxima de completa, abordagem verossímil deixaria o enredo completamente fora da proposta. Mas alguns detalhes de divisão de trabalho entre gênero e classe são muito bem colocados, em especial a presença feminina, visto a presença feminina nas caças, guerras, expedições e projetos militares. Já fora comprovado por especialistas da área que exércitos vikings eram compostos, também, por guerreiras.

A qualidade da animação, para um agora longínquo ano de 2010, também era algo a se levar em conta. Percebemos que o investimento no filme fora alto, visto que ainda podemos olhar algumas cenas e ressaltar a qualidade gráfica, como das explosões, paisagens e batalhas. Algumas outras, no entanto, não envelheceram tão bem, como uma determinada cena do Banguela tentando mordiscar um peixe dentro d’água. Percebemos um acabamento não tão bom e a artificialidade é jogada na nossa cara, quebrando um pouco do clima. Mas, ainda assim, não chega a ser um ponto fraco, considerar tal situação como tal pode cair no risco de exigirmos de um filme de 2010 uma tecnologia de 2019.


Um ponto perceptível na animação, que algumas vezes passa por despercebido de sua real necessidade no todo, são as atuações. Dublar é uma forma de atuar. Dubladores são atores treinados para tal. Com dublagens ruins, qualquer credulidade esvai-se pelo ralo, a exemplo de animações, alguns vários casos das dublagens brasileiras, que resolvem colocar celebridades que não são atores para tal trabalho. A diferença é gritante. Como Treinar o Seu Dragão, em seu idioma original e em sua dublagem, não cometem esse pecado e, como dito, entregam um trabalho bem feito, emocionante.

Mas nada dito sobre o filme pode fugir da amizade entre Soluço e Banguela. Existe uma igualdade entre os dois que coloca a história em um nível de emoção muito grande. Ambos são estranhos e únicos, ambos são solitários e aprenderam a lidar com a vida sozinhos. No momento em que percebem a necessidade do outro para continuar sobrevivendo como uma escolha sem saída, esses se apoiam um no outro. Tal igualdade deixa a história mais sensível em como os dois personagens, embora de espécies e mundos diferentes, para não dizer opostos, se equilibram. Não é à toa que um dos livros da série, na perspectiva do dragão, leva o nome de Como Treinar o Seu Viking. A lógica apresentada é muito simples e o ponto alto do filme: Soluço aprende com Banguela e Banguela aprende com Soluço. O fato de ambos terem perdido análogas partes do corpo, asa da cauda e pé, deixa a relação deles até com um tom kharmico.

Como Treinar o Seu Dragão é uma bela animação. Cumpre o que propõe e deixa aquela sensação gostosa quando termina. Atinge o público alvo como também permite que outros públicos aproveitem da história. Envelhece bem, deixando margem para sucesso de suas continuações mesmo com longos períodos de intervalo. Um filme a ser lembrado com certeza dentre as melhores animações feitas nos últimos tempos.

Título Original: How to Train Your Dragon



Direção: Chris Sanders e Dean DeBlois


Duração: 98 minutos


Elenco: Jay Baruchel, America Ferrera, Gerard Butler, Craigh Fegurson, Jonah Hill e Kristen Wiig



Sinopse:
Soluço é um viking adolescente que não combina muito bem com a longa tradição de sua tribo de heroicos matadores de dragões. Seu mundo vira de cabeça para baixo quando ele encontra um dragão que desafia tanto ele quanto seus amigos a encararem o mundo a partir de outro ponto de vista.


Trailer:

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