Crítica: Loja de Unicórnios (2019, de Brie Larson)

Que Brie Larson é uma artista de peso e um dos grandes nomes da atual cena hollywoodiana ninguém tem dúvidas, e agora ela se desafia estreando na cadeira de direção, com um filme leve, otimista e acima de tudo, que vai ao encontro das angústias de tantos jovens adultos.

Além de dirigir, Brie Larson também é a personagem principal da trama, Kit, uma jovem quase ou já na casa dos 30 anos que não obtém êxito na faculdade de Artes e decide retornar para a casa dos pais e encarar um emprego temporário em uma agência de publicidade.

Tudo muda quando ela começa a receber convites para visitar “A Loja” e quando decide verificar do que se trata, conhece O Vendedor, excêntrico personagem do sempre versátil, querido e potente Samuel L. Jackson.


A partir de então, Kit recebe uma proposta que para ela é irrecusável: adotar um unicórnio. Obviamente O Vendedor lhe avisa que serão exigidos alguns pré-requisitos para que ela consiga o unicórnio e ela mais do que depressa vai se encarregado de cumprir tais exigências.

A trama possui um ar muito fantasioso e por vezes até lúdico demais, o que gera um incômodo, que mesmo sendo proposital, como o roteiro possa sugerir, acaba não casando de forma redonda com o restante, comprometendo, em partes, o resultado final.


Calma!, eu me explico. Logicamente, se você ainda não viu ao filme, sugiro que o veja primeiramente antes de continuar a leitura. Ele é curtinho e está no catálogo da Netflix.

O que quero dizer com a parte lúdica demais do filme é que vemos claramente que Kit encontra-se perdida e parte em uma busca de autoconhecimento e aceitação ao mesmo tempo que procura refúgio naquilo que lhe é nostálgico, que remete à sua infância, quando se sentia de certa forma segura e sem medo. Esta nostalgia vem na forma do famigerado unicórnio e o mundo colorido, e traduz todo o sentimento que Kit tem de não querer abrir mão de seu lugar seguro, da sua zona de conforto. 


A vida de Kit começa a tomar rumos naturais da maturidade de todo ser, porém é muito difícil lidar com isso, no final das contas: os pais parecem nunca se agradar de suas escolhas, parecem achar que sempre tem alguém melhor ou parecem nunca lhe entender completamente, o emprego socialmente aceito é enfadonho e tomado por estruturas arcaicas e opressoras que na prática sufocam a criatividade, os locais onde buscamos conhecimento parecem desaprovar nossa própria noção da vida, mesmo que ela seja essencialmente verdadeira. Claro, esse é o mundo tal qual Kit enxerga e não necessariamente todas as afirmações são verdadeiras.


E eu percebo que essa geração da qual Kit faz parte, do final dos anos 80 e início dos anos 90, tem buscado cada vez mais refúgio naquilo que lhe é nostálgico, como uma válvula de escape talvez; onde o mundo é mais tenro do que a realidade nua e crua que temos de enfrentar (digo isso com propriedade, porque me vejo inserida neste meio). 

A iminência ou a chegada dos 30 anos nos traz um lembrete constante de que temos que encarar a vida, nos adequar, nos encaixar; amadurecer. No filme, vejo claramente que O Vendedor funciona como um terapeuta, alguém que guia o caminho de forma que Kit não perca sua essência ao final de sua caminhada, mas procure pelo amadurecimento, encarando a vida com um olhar positivo e não deixando de lado sua verdade.


A mensagem que o filme traz é muito mais potente do que sua execução, devo dizer. Muito embora a parte técnica esteja belíssima, com uma paleta bem colorida, à la anos 90, enquadramentos que particularmente amo ver em filmes simplistas como este e ainda uma trilha que instiga a curiosidade o tempo todo, a trama possui um roteiro raso, que poderia se aprofundar muito mais no tema. Há momentos em que claramente, mesmo com o talento da poderosa Joan Cusack e do veterano Bradley Whitford, as cenas com os pais, por exemplo, ficam um tanto quanto estranhas.


Assim, o trabalho de Brie Larson enquanto diretora e atriz mais uma vez merece atenção, mesmo que o roteiro de Samantha McIntyre não tenha sido talvez a melhor escolha, ainda assim, demonstra competência e obstinação, mostrando mais uma vez que seu voo tende a ser cada vez mais alto, mais forte e mais rápido (não pude evitar o trocadilho!).

Título Original: Unicorn Store

Direção: Brie Larson

Duração: 91 minutos

Elenco: Brie Larson, Samuel L. Jackson, Joan Cusack, Bradley Whitford, Mamoudou Athie, Hamish Linklater, Karan Soni, Martha MacIsaac, Annaleigh Ashford, Ryan Hansen, Mary Holland, Ithamar Enriquez, Todd Jeffries, Deb Hiett, Nelson Franklin.

Sinopse: Após fracassar na escola de artes e aceitar um emprego entediante no escritório, Kit (Brie Larson) finalmente tem a chance de realizar seu grande sonho: adotar um unicórnio.
Trailer:

E você, conseguiu captar a mensagem do filme? Gostou de ver Brie Larson na direção? Comente e não se esqueça de nos seguir nas redes sociais!

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