Crítica: The Ballad of Buster Scruggs (2018, de Joel e Ethan Coen)

Os Irmãos Coen são daqueles diretores e roteiristas que conquistaram tudo. Já tem na estante dois Oscares de roteiro (Fargo e Onde os Fracos Não Tem Vez), um Oscar por direção (Onde os Fracos Não Tem Vez) e mais um por filme (também Onde os Fracos Não Tem Vez). Claro que chegar neste estágio tem além do bônus, o ônus. A cada nova estreia, a crítica já fica alvoroçada esperando algo tão único como sempre fazem.


Antes de chegarmos ao The Ballad of Buster Scruggs, eles passaram por filmes como Avé, César!, Ponte dos Espiões e Inside Llewyn Davis, este último recebendo críticas mais fortes inclusive. Mas meus amigos, quando essa dupla resolve escrachar o que há de mais animalesco no comportamento humano, ouso dizer, que pouca gente fica à sombra deles.




O filme é dividido em 6 pequenas histórias, independentes entre si, e que só se correlacionam por ter o faroeste como componente. E é no faroeste que os Coen se saem melhor para contar suas histórias. Este ambiente traz à tona comportamentos selvagens, que são o objeto de estudo e que ambos são aficionados. A divisão do filme nestas curtas histórias, o ajudam a ter mais dinamismo, mas, em contrapartida, atrapalham um pouco o trabalho dos atores, que tem pouco tempo para compor seus personagens, ainda que na maioria dos casos façam isso muito bem.


Fica claro, pela diferença entre as histórias, que o roteiro foi escrito ao longo dos anos. Este roteiro, inclusive, foi baseado nas obras All Gold Canyon e The Gal Who Got Rattled.

A primeira história, que é também o título do filme, conta de forma bastante caricata a história de Buster Scruggs (Tim Blake Nelson), e não poupa a utilização de nenhum utensílio absurdo, como bandejas,  espelhos e afins, como objetos extremamente mortais. Aqui, a boa atuação de Blake Nelson, o figurino, o design de produção e a fotografia, conversam com o excelente roteiro e entregam um início épico a narrativa. De fato os elementos técnicos aqui chamam muita atenção.


Na segunda história, Near Algodones, acompanhamos James Franco como um ladrão de bancos, que foge da forca graças a um ataque indígena e depois é solto por um homem que o acaba por enrolar, e devolver o homem ao seu destino pré determinado. A queda entre a primeira e a segunda história é nítida. Essa segunda é muito mais burocrática, e nem os elementos técnicos aqui salvam tanto a trama.

Seguindo, temos Meal Ticket, que apesar de protagonizada por Liam Neeson, quem rouba a cena e é merecedor dos méritos é Harry Melling (o eterno Dudley Dursley de Harry Potter). Aqui temos um show itinerante, conduzido por Liam Neeson e que tem como atração principal o Harry Melling, um homem sem braços e pernas, que tem como grande diferencial sua inteligência e eloquência. Esta, ao contrário das demais, causa pouco riso e muito mais choque, ainda mais pela resolução do conflito, que os irmãos Coen entendem que a sugestão é mais impactante do que mostrar a cena em si.

A quarta história, All Gold Canyon, protagonizada por Tom Waits, é a mais fraca do ponto de vista de roteiro. Apresenta poucas novidades e uma evolução esperada, sem surpresas. No entanto, sabedores disso, é aqui que o trabalho de fotografia se sobressai à própria história: é um espetáculo à parte, e é uma “pena” que este ano tenhamos tantos filmes tão esteticamente perfeitos, caso contrário, além das indicações de Roteiro Adaptado, Figurino e Música Original, o filme teria abocanhado ainda Fotografia e Direção de Arte.
Na quinta história, The Gal Who Gotted Rattled, somos apresentados à nossa protagonista, Zoe Kazan (Doentes de Amor), que está mudando de cidade com seu irmão, quando esse morre pelo caminho e ela se vê na dúvida entre casar com um caubói que está na carreata da mudança, ao mesmo tempo em que se veem em meio a um ataque indígena. A conclusão aqui volta a ser magistral, e retoma o ritmo da primeira história, com muito humor entremeado a dezenas de críticas. Aqui, no entanto, podemos destacar apenas a fotografia, que segue no mesmo patamar da primeira história junto ao roteiro.


Por fim, temos The Mortal Remains que, a detrimento das demais, aposta num extenso, mas sagaz diálogo, enquanto 5 viajantes estão a caminho de seu destino, destino esse inclusive, que por muitas vezes te deixa aflito de qual será. Mérito total do roteiro e dos diálogos afiados.


The Ballad of Buster Scruggs é um filme que marca a volta dos Irmãos Coen à velha forma. No entanto, é composta de altos e baixos, sendo os baixos compensados algumas vezes pela parte técnica impecável, ou por atores que sabem como compor personagens diante de um roteiro com a velha dose de humor ácido conhecida.
Título Original: The Ballad of Buster Scruggs

Direção: Joel e Ethan Coen

Duração: 133 minutos

Elenco: Tim Blake Nelson, James Franco, Zoe Kazan, Liam Neeson, Harry Melling e outros.

Sinopse: O faroeste dos irmãos Coen sobre foras da lei e colonizadores na fronteira americana vai da reflexão mais profunda ao absurdo total.


Trailer:


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