Crítica: Chef’s Tables – 5ª Temporada (2018, de Abigail Fuller e outros)

Se você espera um documentário sobre pessoas fazendo pratos gourmetizados e ficando ricas com isso, você está um pouco equivocado. O documentário me surpreendeu e muito, ao mostrar o valor que a comida tem numa determinada família, cultura e país. Cada prato acarreta lembranças, e isso pode te levar  para mais perto daquilo que você ama, até mesmo unir pessoas desconhecidas de um jeito que nada mais pode. Confira o que achamos dessa excelente temporada de Chef’s Table!

A primeira história contada, particularmente, me emocionou muito. Conhecemos Cristina Martínez e como seu restaurante na Filadélfia ficou entre os 10 melhores restaurantes. Cristina, uma mulher mexicana, imigrante ilegal e mãe, como tantas outras, teve que dar um rumo completamente diferente à sua vida a fim de ter condições de pagar estudos para sua única filha. Uma mulher que sofreu muito na vida, mas que ao mesmo tempo aprendeu com ela. Nesse episódio aprendemos mais sobre a cultura mexicana e como os imigrantes sofrem ao chegar na terra do tio Sam. Não é nem de longe fácil fazer essa escolha e largar tudo para trás, mas com muita luta e muito tempero, Cristina conseguiu, pelo menos em partes, o que ela almejava. Recomendo muito que vocês assistam!


No segundo episódio, vamos para Istambul, na Turquia, conhecer o dia a dia de Musa Dagdeviren e como ele se orgulha por poder fazer as comidas típicas de sua região, sejam elas simples ou consideradas mais elaboradas. As pessoas da região são por natureza divididas por nacionalidades e religiões, e o chef, ao cozinhar, tenta não dar bola para essas divisões, muito pelo contrário, ele tenta mostrar que, mais uma vez, a comida é capaz de unir as pessoas. 

Vimos também como a comida pode ser associada à uma determinada classe econômica e o quanto isso influencia as pessoas que a estão comendo. Se eu comer um prato simples, significa que não sou educado e bom o bastante para entender ou gostar de algo refinado? E é aí que Musa entra. Também é contado como a política teve impacto na sua vida e aos poucos, ele e outras pessoas foram capazes de fazer mudanças significativas. Com tradições que vem do passado, seus pratos trazem história, respeito e muita diversidade.

No terceiro episódio, conhecemos Bo Songvisava e sua luta em fazer a comida tailandesa ser o que ela deveria ser. Fica nítido que a chef se sente desrespeitada quando a forma de cozinhar é modificada ou o tempero suavizado a fim de agradar turistas. O que diz muito sobre a sua identidade e a identidade do país que ela quer que as pessoas conheçam e respeitem. É um misto de indignação e tentativa de buscar reviver os sabores e às tradições como elas eram antes. A industrialização, os sabores ocidentais e o descaso sobre a culinária, fizeram com que Bo e seu marido buscassem conhecimento sobre si e pela comida que, aparentemente, estava sendo esquecida. 

Vimos uma mulher que luta pelo que ela acredita ser sustentável e real, por aquilo que ela quer que mude. Preservação, produtos sustentáveis e saudáveis, pensar mais na geração que está por vir, são muito dos temas tocados e nos faz refletir sobre como lidamos com muitas coisas no nosso dia a dia que passa e muito, desapercebido.

E por último mas não menos importante, Albert Adrià. Nesse episódio vemos o quanto a comida pode encantar e se tornar uma experiência única. Transformar o tradicional em algo mágico e divertido, com muita técnica e ousadia, esse chef mostra que tudo é possível quando se pensa fora da caixa. 

E o engraçado, ao ver o episódio, é que realmente parece um truque de mágica o que ele consegue fazer. Nos encanta a diversidade de pratos que ele consegue fazer simplesmente porque ele disse que seria possível. Ele reinventou a cozinha moderna, se tornando referência em todo o mundo. Apesar de ser o episódio mais leve dessa temporada, é muito bom de se assistir e perceber o quanto não sabemos nada sobre culinária.

É simplesmente incrível se dar conta de algo tão natural como a comida e como ela está intimamente ligada ao nosso eu. Seja por uma determinada região, seja pelo simples fato de poder fazer para as pessoas se sentirem bem, seja aquele prato de arroz e feijão que ninguém faz melhor do que a nossa mãe ou nossa avó…

Digo e repito, essa série me emocionou pela humanidade que transcorre dos episódios, pelo respeito às pessoas, às tradições, às famílias e pelo amor que é empregado com tanto custo para que isso aconteça. Em tempos de individualismo, perceber que algo tão banal como um prato de comida pode trazer tanto à nossa alma, me deixa de coração cheio e transbordando. 

Pode parecer elaborado demais para descrever sobre um documentário sobre chefes de cozinha, mas o olhar da direção não era sobre necessariamente o prato feito, mas sim, o quanto eles tiveram que lutar, batalhar e por vezes sofrer para estar ali. O quanto o passado influencia e continuará influenciando, criando novos laços e novas tradições que não serão esquecidas. Isso é história.

Título Original: Chef’s Table





Direção: Abigail Fuller, Andrew Fried, Brian McGinn, Clay Jeter, David Gelb 

Episódios: 4
Duração: 50 minutos 
Elenco: Cristina Martínez, Musa Dagdeviren, Bo Songvisava, Albert Adrià

Trailer:
Ficaram com fome depois de assistir? 

Deixe uma resposta