Crítica: Sex Education (1ª Temporada) É tão polêmica quanto dizem? Vale a pena assistir?

Se engana quem pensa que Sex Education é uma série apenas para os adolescentes, é também para todos que um dia já foram. É impossível não se emocionar ou se identificar em algum aspecto com essa história e suas inúmeras abordagens. 

Continue lendo para descobrir os motivos pelos quais vale a pena dar uma chance a Sex Education

Primeiro de tudo, não dê muita bola para o trailer e comece a assistir a série sem medo, independente da idade que você tenha, e lhe digo o porquê: ele é ambíguo, bem engana bobo, e apesar de ser eficaz em fisgar o público mais juvenil, captando a sua atenção pelo divertimento que promete, pode acabar afastando o espectador que está procurando algo mais sério para assistir. E na verdade, tem muito drama (e bem educativo) no meio dessa comédia. E não é educativo somente para os adolescentes, é para os adultos também. 

Mas, afinal de contas, sobre o que se trata essa série que, aparentemente, vem tendo uma certa fama? Sobre o que ela aborda que a torna tão polêmica? 

A resposta é: sexo. Ou melhor, educação sexual. Dois grandes tabus que existem desde que os seres humanos apareceram no planeta. 

E dentro do sexo e da educação sexual, existem inúmeras outras vertentes que são tão polêmicas quanto, ou mais, como o aborto, masturbação, funcionamento dos preservativos, saúde íntima, nudes vazados, fetiches, homossexualidade, etc. E a série trata de tudo isso e muito mais de maneira leve, descontraída, divertida, mas não deixando de lado a boa dose de seriedade e de drama, que se fazem necessários.

Otis é um garoto de 16 anos que vive apenas com a sua mãe, Jean, uma terapeuta sexual. Sendo assim, os mais diversos assuntos envolvendo sexo e sexualidade nunca foram tabus para ele. No entanto, ele começa a perceber que está com alguma fobia sexual, mas conversar sobre isso com a sua mãe aparenta estar fora de cogitação.  

Jean nota que Otis está passando por problemas, quando, por exemplo, percebe que o filho está forjando cenários para ela acreditar que ele está se masturbando e assim pensar que ele é um “garoto normal que se masturba”, então tenta ajudá-lo sorrateiramente, mas acaba levando uma rasteira sempre que o filho percebe que ela está tentando se meter em sua privacidade. 

Deixando esse assunto de lado, o que importa é começar o ano letivo no ensino médio com muita diversão ao lado de seu melhor amigo, Eric, um garoto que não esconde de ninguém que é gay, mas que se mostra em conflito consigo mesmo por estar se descobrindo ainda, não sobre sua sexualidade, mas sim do que ele gosta e da imagem que quer passar. 

Diga-se de passagem, a amizade dos dois é algo lindo de se ver. Em nenhum momento a sexualidade deles entra em questão ou serve de motivo para que a heterossexualidade de Otis seja questionada. Eles não deixam de se abraçar, não deixam de frequentar a casa um do outro, não deixam de andar pra cima e pra baixo juntos, de dançar juntos, de irem em eventos customizados juntos. Eles são apenas amigos e ponto. Não se importam com o que possam pensar deles. E ninguém realmente liga para isso. A série parece se passar em um século bem distante onde certas coisas, como esta, já são tratadas com muita naturalidade.

O retrato dessa amizade silencia muito o preconceito homofóbico de quem acredita que se um hétero andar com um gay, ele será “convertido”. Nós vemos gays andando com héteros o tempo todo e eles não são convertidos, por que então o contrário seria verdade? Sexualidade não é algo influenciável.

A vida de Otis no colégio muda quando Maeve, a punk com fama de puta mas que no fundo é uma das mais inteligentes do colégio, presencia Otis aplicando as técnicas terapêuticas da mãe em Adam, o filho do diretor que trata todos os amigos da mesma maneira que seu pai o trata: a pior possível. Adam está com certos problemas na hora H, e após tomar 3 pílulas de viagra e se esconder por horas no banheiro interditado da escola, Otis acaba indo lá falar algumas palavras amigas para o garoto.


Otis aconselha o garoto de forma que se nota melhora e mudança naquilo que antes era um enorme problema. Ao perceber isso, Maeve começa a notar o comportamento de todos os alunos e percebe que há muitas dúvidas sexuais a serem sanadas dentro daquela escola, sendo assim, ela tem a grande ideia de criar uma clínica clandestina na escola junto com Otis, onde ela cuidará da parte burocrática e ele fará as consultas. Otis aceita, em parte porque adora a ideia, e em parte porque quem propõe isso é Maeve. 

Maeve é quase um mito entre os garotos, uma lenda. Ao mesmo tempo é considerada uma biscate pelas garotas. No fim das contas ela não liga para nenhuma das opiniões sobre ela. É inteligente, bem resolvida, e não tem paciência para ficar se provando para os outros, primeiro porque ela mesma sabe que não é nada daquilo que dizem, segundo porque ela tem seus próprios problemas reais para lidar e não vê necessidade de gastar energia se justificando para quem a faz mal. 

Temos muito o que aprender com ela, não acham?

Voltando ao assunto… 

Nessa jornada eles acabam ganhando bastante dinheiro e também ajudando muitos alunos, que tem seus problemas muito bem desenvolvidos e retratados, como a questão do aborto, dos fetiches, da masturbação, dos nudes, da pornografia de vingança, da relação com o parceiro tanto num relacionamento lésbico quanto hétero, da dificuldade para conseguir se soltar, transar e gozar, entre diversas outras coisas.

Uma das sacadas mais geniais de Sex Education é a maneira como resolveram expor todos esses assuntos: como sendo problema único e exclusivamente daquele que está vivenciando. 

E não é exatamente isso? O que nos diz respeito o que os outros fazem, independente do que seja? Absolutamente nada. E Otis apenas intervém quando as pessoas o procuram porque querem ajuda, querem opinião, e ele jamais reprime essas pessoas, pelo contrário. 

Se ainda não ficou claro, essa mensagem que a série passa, que é apenas uma das tantas já mencionadas, é que a vida dos outros não é da nossa conta. 

Pense: se muitas vezes já está ruim e difícil para quem está passando por determinada situação, imagine como se torna pior quando pessoas que não tem absolutamente nada a ver começam a se manifestar preconceituosamente… A vida só piora quando “opiniões” venenosas sobem em cima de um fardo que já está pesado de carregar.

Sex Education não dá espaço para o seu preconceito. Ela o ignora completamente.

Todo o elenco da série é sensacional e lidou com muita maturidade da primeira à última cena – aliás, maturidade é a palavra que define a série -, mas é claro que o nosso trio principal não pode deixar de ganhar uma menção especial, né? 

Asa Butterfield, Ncuti Gatwa e Emma Mackey são Otis, Eric e Maeve, respectivamente. Os três conseguiram dar tanta vida e veracidade para suas personagens que se tornou impossível imaginar quaisquer outros em seus papéis. Eles estão simplesmente perfeitos, como diz o ditado, “caiu como uma luva”


A paleta de cores, bem colorida e vibrante, remete bem à essa fase intensa que é a da adolescência e das descobertas sexuais. Junto a isso, temos uma fotografia maravilhosa que consegue captar com maestria os olhares e gestos dos personagens para que muito seja dito sem que necessariamente precise ser verbalizado. E é necessário um pouco de sensibilidade para captar essas sutilezas, então assista com carinho e de coração aberto.


Agora, a soundtrack, meus amigos… Isso merece ser mencionado à parte! Além das músicas complementarem o que está se passando em tela, somos deliciados com músicas de bandas icônicas, como Ramones, A-ha, The Smiths, The Cure, Talking Heads, Billy Ocean, entre inúmeras outras. Vale a pena procurar a playlist!

Sex Education definitivamente merece ser assistida. É uma série importante, necessária e corajosa, que traz diversos assuntos à tona porque já estava mesmo na hora de falar sobre eles. É a série que faltava na Netflix! 


Todos os assuntos são relevantes e nos deixam reflexivos. É possível se apaixonar por todas as personagens – ou quase todas, e nem por isso deixar de ter sororidade mesmo com os mais odiáveis, e quanto a isso, só assistindo para entender o que eu quero dizer! 

E como a série ainda tem muito a nos dizer, a nos ensinar, é óbvio que uma segunda temporada já foi confirmada, então não perca mais tempo e se faça o favor de colocar essa série na sua lista, ou melhor, de furar a fila e assisti-la assim que puder, imediatamente se possível, porque de uma coisa eu sei, você não vai se arrepender! 

Título Original: Sex Education

Direção: Kate Herron e Ben Taylor

Episódios: 8

Duração: 50 minutos

Elenco: Asa Butterfield, Emma Mackey, Ncuti Gatwa, Gillian Anderson, Connor Swindells, Gillian Anderson, Tanya Reynolds, Aimee Lou Wood, Kedar Williams-Stirling e mais.

Sinopse: Apesar das instruções da mãe sexóloga e do encorajamento de seu melhor amigo Eric, Otis se preocupa em falhar na hora H. E ele não é o único.

Trailer:

Você que está aí me lendo até agora, já assistiu essa série maravilhosa?
Então fica mais um pouquinho aqui e me deixa um comentário dizendo o que achou, ou se sentiu vontade de assistir depois de ler essa matéria. 
Vou adorar ler seu comentário! 😇

Deixe uma resposta