Crítica: Dede (2017, de Mariam Khatchvani)


É sempre bom ver mulheres fortes inspirando histórias e roteiros, sejam estes baseado em fatos reais ou de ficção. O filme georgiano Dede, dirigido por uma mulher chamada Mariam Khatchvani, traz no papel principal uma moça que lutou contra os costumes impostos pelo povo de seu vilarejo no começo da década de 90. Prometida pelo avô para David (Girshel Chelidze), Dina (Natia Vibliani) acaba se apaixonando por Gegi (George Babluani), mas o que ela não sabe é que os dois tornaram-se grandes amigos na guerra e estavam voltando juntos para o vilarejo depois da vitória.


O que parecia ser um filme de romance em que os dois candidatos lutariam pelo coração da mocinha se torna um drama recheado de boas reviravoltas, graças às atitudes consideradas impróprias de Dina. Diferente de qualquer mulher do vilarejo, a coragem de fazer suas próprias vontades, sem aprovação de seus avós ou de qualquer outro, fez Dina mudar para outro vilarejo com Gegi depois de alguns acontecimentos suspeitos.

Dina e Gegi

Com muita câmera na mão, o filme também apresenta o peso da religião e dos costumes antigos que ainda pairavam naquele vilarejo. Mas, é nas atitudes dos personagens que conseguimos observar a normalidade em que o processo de vida de uma mulher correta era aceito. Nascer, cuidar dos afazeres domésticos, casar com o homem que foi prometida, mesmo que não exista amor, procriar e morrer, muitas vezes na mão do próprio marido. Dina não se submeteu a este papel prescrito por outros e pagou um preço caro por isso.


Por ser um filme muito simples, localizado em uma só região e com poucos personagens, a atuação dos principais é muito valorizada pela direção, que não ousa em planos ou cortes, mas não perde nada com isso. Natia Vibliani é um show à parte, ela carrega todas as emoções de sua personagem de modo reservado, como se não quisesse mostrar, até que uma pequena expressão muda tudo.



O clima gélido da região montanhosa da Georgia onde fica o vilarejo reflete no filme através dos personagens, que muitas vezes não parecem ter compaixão pelo outro. O clima só esquenta quando os homens começam a brigar – e eles brigam por pouquíssimo. A paleta de cores na bela fotografia do filme também traz cores frias e pesadas, enfatizando o frio fora e dentro das pessoas. 

Com um final surpreendente, o ótimo roteiro de Mariam Khatchvani e Vladimer Katcharava, por diversas vezes, faz Dina encarar as consequências resultantes de suas escolhas; e quando pensamos que ela finalmente vai ceder, ela volta cada vez mais forte e pronta para enfrentar tudo e todos.



Dede não é um romance, muito menos comédia romântica, como pensei que seria, mas apresenta o ótimo cinema georgiano que até então me era desconhecido. O filme teve sua estreia internacional no Festival Internacional de Cinema de Karlovy Vary, em 2017, em que ganhou o prêmio de Menção Especial.



Título Original: Dede


Direção: Mariam Khatchvani



Duração: 97 minutos

Elenco: Natia Vibliani, Girshel Chelidze, George Babluani, Spartak Parjiani, Mose Khachvani, Sofia Charkviani, Nukri Khachvani e outros.

Sinopse: Na fria Georgia, uma mulher e três homens. Dina não aceita se casar com o homem para quem foi prometida, quebrando antigos costumes instalados no pequeno vilarejo. Ela se rebela e paga um preço alto por sua liberdade de escolha.  

Trailer:

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