Crítica: Homecoming – 1ª Temporada (2018, de Sam Esmail)

Homecoming é uma série original da Prime Video, adaptada de um podcast fictício de mesmo nome da Gimlet Media. Dirigida por Sam Esmail, conhecido por curtir teorias da conspiração, questões psicológicas, análises do tempo e espaço, etc., foi com o seu filme, Comet, e sua série na FX, Mr. Robot, que o diretor conquistou a Amazon Studios. E com a série Homecoming podemos perceber que a liberdade criativa e estética fica a cargo do diretor e roteirista. A série é estrelada por Julia Roberts. Sim!!! É a primeira série dessa mulher incrível e que, óbvio, fez um trabalho maravilhoso e digno de toda a sua carreira, tanto que acabou sendo indicada ao Globo de Ouro 2019 na categoria de Melhor Atriz em Série de Drama, mas não ganhou. Stephan James também fora indicado na categoria de Melhor Ator em Série de Drama mas, infelizmente, também não ganhou.

Julia Roberts dá vida a Heidi Bergman, uma assistente social do Homecoming, um programa/instalação da empresa Geist Group, que auxilia na transição dos soldados para a vida civil. Heidi é a conselheira desses soldados e conversa com eles sobre suas passagens mais traumáticas em combate, a fim de extinguir essas memórias para que eles se sintam bem novamente e para que não sejam uma ameaça quando retornarem para a vida em sociedade.


Obviamente, Heidi não consegue eliminar essas memórias traumáticas apenas com as sessões pseudo terapêuticas, os soldados também tomam pílulas e são medicados via alimentação, sendo essa segunda opção, omitida deles. A função de Heidi, então, é saber qual a passagem mais traumática deles e, semana após semana, conversar sobre o mesmo evento para ver se os remédios que a companhia está criando estão fazendo efeito, ou seja, para ver se eles estão perdendo a memória daquele evento. Porém, os soldados não fazem ideia de que terão parte de suas memórias deletadas, e os profissionais do Geist e Homecoming cuidam direitinho dessa parte, fazendo com que tudo pareça consensual, fazendo-os acreditar que eles mesmos são coniventes com aquilo, embora não saibam de muito – ou nada.

Algumas coisas saem do controle e um clima conspiratório é instalado por um dos soldados, criando um certo alarde na instalação, mas toda a situação e aquele método de tratamento começam a ficar tão estranhos, que não são apenas os soldados que criam teorias conspiratórias, mas seus familiares também, e até alguns funcionários da Geist. 


A premissa em si é bastante interessante e intrigante; o roteiro é perfeitamente bem amarrado, tudo se encaixa, as atuações de todos, sem exceções, são impecáveis, especialmente as de Stephan James (Across The Line), Jeremy Allen White (Shameless), Bobby Cannavale (Mr. Robot) e Shea Whigham (The Wolf Of Wall Street), além da de Roberts (Notting Hill, Pretty Woman, Erin Brockovich), claro. Mas o que mais brilha nessa série são os quesitos técnicos que o diretor usou para mostrá-la.

A série é contada em flashbacks (2018) e flashforwards (2022), mas não só isso. Coisas no decorrer da história acontecem para que a personagem de Julia Roberts não se lembre de praticamente nada, ou nada, do seu antigo emprego, até que mais coisas acontecem para que ela seja forçada a lembrar e isso a põe numa caixa claustrofóbica de angústia por querer lembrar daqueles meses de sua vida e não conseguir. Então, o que o diretor decidiu fazer para nos por nessa situação claustrofóbica junto com a personagem? Nos flashforwards a proporção de tela muda para 1:1, ou seja, um quadrado, e ficamos completamente agoniados vendo a agonia da personagem por dentro daquela caixa. Até que a sensação de alívio surge novamente para o telespectador quando os flashbacks aparecem na proporção 16:9, e aqui a sensação de alívio é propositalmente ambígua, primeiro porque voltamos a assistir a série num tamanho próximo daquele que estamos acostumados, e segundo porque nós sabemos – mais ou menos – o que está acontecendo novamente.


Em um determinado episódio da série, o plano 1:1 explode para a tela ampla para nunca mais aparecer novamente, e é nesse momento que você terá sua cabeça explodida, porque tudo começa a ser revelado para a personagem e para nós de uma forma que todas as nossas teorias criadas são estilhaçadas e só ficamos ali, de boca aberta e pensando em diversos palavrões que expressem nosso estado de choque! 


Além do roteiro espetacular e dessas jogadas com aspect ratio, que é a terminologia correta usada para essas brincadeiras com as proporções de tela, Esmail não para por aí, ele usa e abusa dos planos sequência (cenas rodadas ininterruptamente), dos match cut (quando uma cena corresponde com a seguinte); além desses, ele também brinca com diversos outros tipos de planos de filmagem, fazendo-as de cima (plano zenital), mostrando apenas o rosto (plano próximo ou close-ups), tela dividida mostrando duas ou mais perspectivas (split-screen), entre outros. 


O diretor também traz bastantes referências dos clássicos do terror e de Hitchcock para o seu trabalho, e isso resulta numa fotografia mais antiga trabalhada de vários modos, abraçada por uma trilha sonora 100% antiga extraída dos terrores e suspenses clássicos como, por exemplo, Halloween 3 • Dressed To kill Klute • Chariots of FireBody Double, entre outros. Tirando toda essa maravilhosidade técnica citada acima, muito provavelmente eu esteja esquecendo ou não tenha notado algo, aliás, isso é completamente normal, muitas vezes nem os próprios atores conseguem captar a ideia “original” que está na cabeça do diretor, como fora o caso de Julia Roberts, tendo dificuldade para entender inicialmente o porquê de Esmail querer usar o tal do 1:1.


A série foi renovada mas não deixou um bom cliffhanger (final em aberto) para uma próxima temporada, pelo contrário, é bem possível se sentir satisfeito com o que fora entregue nesses 10 episódios. Dá um certo medo de uma coisa tão boa ter uma continuidade que não faça jus a algo que poderia ter sido uma minissérie, mas, vamos confiar no trabalho do diretor e dar uma chance  ao que nos espera, afinal, ele entregou algo tão incrível, tão impecável, que seria injusto de nossa parte não apostar em uma segunda temporada. E embora eu esteja um pouco apreensiva em relação ao enredo, estou ansiosa para ver o show técnico que está por vir!

Em suma, Homecoming é feita e é uma aula para o bom amante do cinema; tanto para os leigos quanto para os cinéfilos mais técnicos. É uma série capaz de deliciar qualquer espectador seja qual for seu gênero preferido, isso posso lhes assegurar, portanto, deem uma chance sem medo! Um dos quase infinitos pontos positivos da série, é que ela é curta: 10 episódios de 30 minutos cada, perfeita para maratonar agora nas férias! 


Título Original: Homecoming

Direção: Sam Esmail


Episódios: 10


Duração: 30 minutos por episódio

Elenco: Julia Roberts, Stephan James, Jeremy Allen White, Bobby Cannavale, Dermot Mulroney, Shea Whigham, Sissy Spacek, Alex Karpovsky e mais.

Sinopse: Heidi Bergman (Julia Roberts) é assistente social do Homecoming, uma instalação do Geist Group que ajuda soldados na transição para a vida civil. Anos depois de ter começado uma nova vida, um auditor do Departamento de Defesa (Shea Whigham) a questiona sobre o motivo dela ter deixado o Homecoming. Heidi logo percebe que há toda uma outra história por trás da que ela conta a si mesma.

Trailer:


Já assistiu a série ou ficou morrendo de vontade de assistir?
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