Crítica: Lionheart (2018, Genevieve Nnaji)


A Nigéria, país do continente africano, tem ganhado notoriedade na indústria cinematográfica mundial devido à extensa produção que está ocorrendo recentemente no país, tendo essa indústria nigeriana recebido 
inclusive a alcunha de Nollywood. A produção cinematográfica deste país é tão grande que fica atrás apenas de Hollywood e Bollywood (Índia). Nessa nova onda, que é algo inovador para um país com caráter mais conservador, diversos atores, produtores e diretores estão decolando com seus trabalhos, como é o caso de Genevieve Nnaji, atriz principal, produtora e diretora estreante do longa Lionheart


Lionheart estreou recentemente no catálogo da gigante do streaming, Netflix, e é possível perceber que a empresa, que está sempre atenta às produções estrangeiras de grande destaque, apostou no cinema nigeriano optando por uma produção mais leve, de caráter mais cômico mas, ainda assim, com uma bandeira levantada, ainda que timidamente: o empoderamento feminino.

Talvez o tema possa nos parecer batido, pois já estamos vendo muitas personagens empoderadas no cinema e a tendência é que cada vez haja mais personagens do tipo, porém, como não estamos tão familiarizados com o cinema nigeriano, isso pode soar como novidade, principalmente pelo fato de o país ter essa tendência mais conservadora e grande parte da população ser de baixa renda.

Partindo desse tema, conheceremos Adaeze (Genevieve Nnaji), uma das diretoras da Lionheart, uma empresa de transporte urbano que está com pretensão de expandir seu negócio através de sua inserção no projeto de um BRT (Bus Rapid Transit – sistema de transporte público que se utiliza de ônibus em vias e corredores exclusivos) a ser construído na região. Adaeze é filha do Chefe Ernest Obiagu (Pete Edochie), o fundador e diretor geral da Lionheart, e justamente na reunião de apresentação da empresa para concorrer à licitação do BRT, Obiagu tem um infarto e é obrigado a se afastar de suas atividades na empresa.


Com uma grande experiência na empresa e mostrando grande jogo de cintura para resolução de problemas, Adaeze é a indicação mais óbvia para ocupar o cargo do pai. Entretanto, quando ela e todos os funcionários da empresa acreditavam que isso aconteceria, Obiagu indica seu irmão, Godswill Obiagu (Nkem Owoh) para assumir sua posição durante seu afastamento. A decisão é questionável, uma vez que o irmão não tem o mesmo tato para os negócios e mesmo sendo mais velho, não tem a mesma experiência que Adaeze.

Para piorar a situação, Godswill e Adaeze descobrem que a empresa tem uma dívida de quase 1 bilhão de nairas em empréstimos realizados em bancos. Eles se veem desesperados, pois além de não terem como quitar essa dívida, há um outro empresário do mesmo ramo, Igwe Pascal (Kanayo O. Kanayo), que quer a qualquer custo ganhar a licitação do BRT, mesmo que isso signifique a retirada da Lionheart dos negócios. É a partir de então que veremos como Adaeze, juntamente com seu tio, se desdobrará para tentar conseguir saldar a dívida e não perder a empresa. 


A trama não traz nada de novo, sendo clichê ao extremo, com soluções previsíveis e simplórias. O roteiro é raso e as atuações não são memoráveis. Contudo, por que este é um filme que saltam os olhos? Aqui a direção de fotografia e todo o design de produção são muito ricos e um deleite para quem assiste. Há ainda toda a rica cultura nigeriana mostrada de uma forma muito natural, sem beirar a nenhum apelo à precariedade de certas condições e muito menos a certos esteriótipos conhecidos das produções hollywoodianas. Temos um elenco em sua totalidade negro, mas em momento algum isso é gritado, pois é somente um povo sendo retratado em uma situação cotidiana. 

E quando digo que não há esteriótipos, realmente não há. Somos surpreendidos com pessoas vivendo em mansões de luxo, uma mulher à frente de uma empresa e até cantores de hip hop.  Dessa forma, mesmo que o filme seja recheado de clichês e mesmo que a solução dada para toda a problemática construída não seja a mais empoderada possível para Adaeze, temos que reconhecer que é um filme diferenciado e, querendo ou não, a mensagem que passa sobre o mundo dos negócios (estar mais próximo e ouvir a equipe operacional, buscar soluções simples, ouvir a voz da experiência) é bastante válida.

Vale um destaque para os diálogos que ora são falados em um inglês carregado de sotaque, ora são falados em igbo ou em algum outro dialeto nigeriano, sendo mais um presente desta película que, apesar de seus defeitos, guarda grandes qualidades. Dessa forma, muito mais que um filme de uma mulher tentando se impor no mundo dos negócios, esse filme é como um convite ao cinema nigeriano, atrelado à cultura tão rica desse país. 

Título Original: Lionheart

Direção: Genevieve Nnaji


Duração: 96 minutos

Elenco: Genevieve Nnaji, Nkem Owoh, Pete Edochie, Onyeka Onwenu, Kanayo O. Kanayo, Ngozi Ezeonu, Kalu Ikeagwu, Chibuso Azubuike ‘Phyno’, Peter Okoye, Jemima Osunde, Sani Mua’zu, Yakubu Mohammed e outros.
Sinopse: Seu pai adoeceu. Agora, Adaeze tem de dividir a direção dos negócios da família, que está a beira da falência, com seu tio e provar seu valor em um mundo dominado por homens.

Trailer:
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