Crítica: O Grande Circo Místico (2018, de Carlos “Cacá” Diegues)

Lançado no dia 15 de novembro, O Grande Circo Místico conta a história de cinco gerações da família Knieps. Os 100 anos apresentados no filme começa com um romance improvável entre o aristocrata Fred, interpretado por Rafael Lozano, e a acrobata Beatriz, personagem de Bruna Linzmeyer. Fred é afilhado de uma imperatriz, que lhe diz que daria qualquer coisa que ele pedisse, e o que ele mais queria na vida, era um circo.


A partir daí o filme se desenrola sobre o ápice e a decadência desse circo que é passado pelas gerações da família até os dias atuais. Mas, o Grande Circo não é o foco central da história. Na verdade, é difícil identificar sobre o que exatamente o filme pretende abordar de maneira central. É o circo? São os personagens? A misticidade que o circo carrega? Não fica claro para o espectador, que depois de 20 minutos de história pode se perder completamente no meio de um roteiro desordenado, em que nada parece ser aprofundado.


O ponto chave do longa é o mestre de cerimônias interpretado por Jesuíta Barbosa, chamado Celaví – um trocadilho com c’est la vie, famosa frase francesa que significa “é a vida”. Ele pode ser considerado uma das pouquíssimas coisas realmente místicas no filme, além de conseguir dar vida ao circo, ao espetáculo da noite, que muitas vezes fica esquecido em meio aos dramas de bastidores. Ele é, com certeza, o único personagem que rende uma boa narrativa, além de Fred e Beatriz. Os outros vários personagens que ganham vida através de atores de peso como Vincent Cassel, Mariana Ximenes, Juliano Cazarré e Antônio Fagundes são esquecíveis, pois não são desenvolvidos, parecem apenas peças para fazer o roteiro caminhar sem direção certa. Outro acerto é a trilha sonora feita por Chico Buarque e Edu Lobo que acompanha o filme e traz charme para muitas cenas que não se sustentariam sozinhas.

Jesuíta Barbosa no papel de Celaví
Por fim, além de perder o espectador facilmente com a fraca narrativa, alguns pontos geram incômodos durante o filme. A nudez, principalmente a feminina, é excessiva e chega a ser incoerente na maioria das cenas, aparenta estar ali apenas para tentar chamar atenção do público novamente para o filme, mas não funciona. O assédio sexual no mundo circense também é abordado, mas não com a cautela que esse assunto pede. Em outros tempos, talvez, estas questões não seriam questionadas e passariam despercebidas. Mas, no tempo em que vivemos, com filmes que dão aula de como abordar estes assuntos, não dar a devida atenção a estes episódios é um deslize sem volta, que marca o espectador.

A direção de O Grande Circo Místico é de Cacá Diegues, um premiado diretor alagoano que tem no currículo filmes aclamados como Bye Bye Brasil (1980), Xica da Silva (1976) e Deus é Brasileiro (2003), e gosta de mostrar a formação da cultura do povo brasileiro. Dessa vez, ele apostou na trágica e cômica história de uma família circense que ganhou vida nos 47 versos do poema homônimo de Jorge de Lima. 


Em setembro, o filme foi escolhido pela comissão de seleção como o representante para disputar uma das cinco vagas na categoria de Melhor Filme Estrangeiro do Oscar. Por isso, a ansiedade para vê-lo era grande e a expectativa era imensa. Mas a plateia não pediu bis e muito menos riu durante o espetáculo. Uma pena sair da sala de cinema com a sensação de que, mais uma vez, não estaremos concorrendo à uma estatueta.
Título Original: O Grande Circo Místico


Direção: Carlos (Cacá) Diegues


Elenco: Jesuíta Barbosa, Mariana Ximenes, Antônio Fagundes, Juliano Cazarré, Bruna Linzmeyer, Rafael Lozano, Vincent Cassel e outros.


Sinopse: De 1910 até os dias de hoje, o filme, inspirado em um poema, apresenta as histórias da família circense Knieps. O mestre de cerimônia Celaví, que nunca envelhece, mostras as aventuras dessa família desde a inauguração do Grande Circo Místico, do ápice a decadência. 

Trailer:


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