Crítica: Castle Rock – 1ª Temporada (2018, de Daniel Attias e outros)

Quando você já tem certeza absoluta da genialidade de Stephen King e que nada mais pode te surpreender, eis que ele surge com uma série absolutamente perfeita para todos os seus fãs. Imagine você, em uma cidade onde grande parte dos personagens mais icônicos de King vivem juntos e não em tão bela sintonia. Acrescente a isso o fato dos personagens serem vividos pelos atores originais dos filmes e BOOM! Temos em mãos nada mais nada menos que o fascinante Castle Rock. Chega a ser difícil explicar toda a informação que acontece na série mas vou fazer meu melhor. Vem comigo e descubra mais sobre essa incrível história!

Em um primeiro momento, temos um vislumbre da grande e horrenda cicatriz que envolve a cidade. Uma cicatriz sangrenta e violenta. Nenhum lugar está livre do sangue que lavou as ruas e continua a escorrer pela cidade. Praticamente, todos os cenários já presenciaram ou ainda verão um suicídio ou um assassinato, por mais bizarro que ele seja. É como se a cidade tivesse algo que impulsionasse os moradores a libertarem suas reais vontades e realizá-las da forma mais brutal possível. 

“Este lugar desumano cria monstros humanos”. Essa frase é uma das tantas ditas em O Iluminado, outro sucesso do autor, onde muito se diz sobre a sua obra. Já que grande parte dos vilões são humanos buscando algo que lhes falta, e sem se importar com as consequências de seus atos, acabam fazendo por vias duvidosas e imorais. Castle Rock é uma cidade tipicamente americana e como tal, King gosta de mostrar as suas fraquezas, como a fatídica busca do sonho americano, o ideal de vida, e como isso simplesmente é estraçalhado nessa vida. King pega o melhor do ser humano e o transforma em seu pior. O que não é tão difícil do ponto de vista humano, mas também não é tão fácil, do ponto de vista moral. Em todo caso, já deu para ter uma ideia do que nos espera.
Tudo começa com a morte de um personagem, Dale Lacy (Terry O’Quinn), o diretor da penitenciária Shawshank. Após sua morte, uma descoberta terrível é feita pelos agentes penitenciários. Na escuridão, num lugar esquecido da penitenciária, um homem é encontrado preso em uma jaula. Ao que parece, anos passaram e ele foi mantido refém pelo diretor, que o alimentava e mantinha conversas misteriosas com o rapaz. Rapaz esse que ninguém sabe da onde veio ou como foi parar ali.

Vamos chamá-lo somente de Rapaz, porque, tecnicamente, seu nome nunca é dito. Você pode tê-lo reconhecido, Bill Skarsgård, que deu vida ao palhaço Pennywise em It – A Coisa, um grande sucesso nos cinemas. Ao ser solto, suas primeiras palavras são ‘Henry Deaver’ (Andre Holland), um advogado que saiu de Maine e agora vive em Boston. Ao descobrir que o Rapaz continua preso, ele retorna à sua cidade, mesmo tendo receio do que isso possa causar. Descobrimos então que, quando ele era uma criança, ficou 11 dias desaparecido em meio à uma terrível nevasca, tendo sido encontrado por Alan Pangborn (Scott Glenn), o xerife da época. Porém, muitas perguntas continuaram sem respostas desde aquele tempo: Como ele sobreviveu dias na pior nevasca dos últimos anos? Como seu pai acabou morto? O que eles estavam fazendo no bosque no meio do inverno? E a cidade não esquece, culpando-o como se ele fosse de alguma forma suspeito.

Ao voltar para casa, Henry reencontra sua mãe adotiva, Ruth, vivida pela majestosa Sissy Spacek, que deu vida à outra personagem lendária de King: Carrie – A Estranha. Ruth tem alzheimer e apesar de ter dias bons, ainda tem dias muito ruins, onde confunde às memórias e os acontecimentos; misturando presente e passado como se estivessem acontecendo ao mesmo tempo. Para a sua surpresa – ou nem tanto -, Ruth e Alan agora vivem juntos. Um longa história que não vou contar para evitar spoilers. A relação de Henry e Alan não é das melhores. Para falar a verdade, Henry não tem uma relação muito boa com ninguém. Parece que nem ele mesmo se suporta, como se ele sempre estivesse escondendo ou procurando alguma coisa dentro de si mesmo, sem nunca achar uma resposta que seja aceitável.  

No universo de King, Maine seria como o Triângulo das Bermudas. O lugar mais azarado e agourento do mundo. Mas e se tudo o que acontecesse de ruim na cidade, todo o mal que ele absorve, na verdade fosse culpa de uma pessoa? O que você faria se descobrisse como prender o mal? 

Não se sabe bem como o diretor Lacy descobriu isso, mas ao seu ver, o Rapaz era a raiz de todo mal que acontecia na cidade e, ao prendê-lo, ele estava a salvando. Não se sabe também o quanto disso era verdade ou mentira, só o que sabemos com certeza é que coisas estranhas acontecem quando o Rapaz e Henry estão por perto. Perto demais como em um aperto de mãos. Não sabemos também o quanto desse dom o Rapaz podia controlar ou não, mas o certo é que ele sabia o que estava acontecendo. O que me faz pensar mais uma vez: como Lacy sabia disso? 

Uma das minhas personagens preferidas dessa série é Molly Strand (Melanie Lynskey). Ela é especial. Consegue sentir os sentimentos das pessoas e ter um pressentimento do futuro. O que me lembra outro personagem muito conhecido dos livros, Danny Torrance, de O Iluminado, lembram? E como tudo aqui não é uma coincidência, sua assistente é sobrinha de Jack Torrance! E por alguma razão, ela sente orgulho de dizer que seu tio surtou e quase matou a família em um hotel. Jackie Torrance (Jane Levy) talvez seja a única pessoa dessa história toda que se sinta à vontade em meio a tantas desgraças. Para ela, é uma libertação ser quem você realmente é. Mesmo que isso cause algumas mortes.


Deixando um pouco o elenco de lado, grande parte da qualidade da série se deve ao produtor, J.J. Abrams. Sou suspeita para falar dele, mas tudo o que ele toca, sem dúvidas, vira ouro. Abrams tem um dom incrível para o terror e mistério. Algumas das suas produções foram nada mais nada menos do que Lost, Fringe, Star Wars: O Despertar da Força e mais recentemente Operação Overlord

Infelizmente não posso me aprofundar em explicações da série, porque tudo que eu disser, pode ser um spoiler e isso não é brincadeira. Há toda uma construção de personagens e uma ambientação específica, para depois ser desconstruída junto com a nossa sanidade. A série é inteligente, eficaz e narrativa ao ponto de nos prender em seus emaranhados de mistério. Tudo o que acontece, acontece por uma razão. Tudo o que é dito, tem um porquê. Só descobrimos como tudo se encaixa nos dois últimos episódios e como era de se esperar, depois das respostas há sempre mais perguntas. De um fã para outro: assista sem medo!
Título Original: Castle Rock

Direção: Daniel Attias, Kevin Hooks, Michael Uppendahl, Nicole Kassell 

Elenco: Andre Holland, Bill Skarsgård, Jane Levy, Melanie Lynskey, Scott Glenn, Sissy Spacek, Adam Rothenberg

Sinopse: Castle Rock é uma cidade fictícia localizada em Maine, nos Estados Unidos. Lá, passado e presente se cruzam através das histórias de terror que não só se ouve falar, como é vivida e sentida por seus moradores. Nesta estranha cidade, todo o universo de Stephen King se encontra.

Trailer:
E você o que achou?

Deixe uma resposta